
Da composição única ao desafio da ordenha: entenda por que o leite de porca não é parte da nossa dieta, como o leite de outros animais
Quando se pensa em leite para consumo humano, vacas, cabras e até búfalas vêm rapidamente à mente. No entanto, o leite de porco, apesar de ser produzido naturalmente pelas fêmeas suínas para alimentar seus leitões, não faz parte da alimentação humana em escala comercial — e há motivos claros para isso.
O primeiro fator é sensorial. O leite de porco é frequentemente descrito como tendo um sabor “de caça”, mais intenso e marcante do que o leite de vaca ou de cabra. Sua aparência também pode causar estranheza: é mais aguado, apesar de conter teor de gordura significativamente mais alto — cerca de 8,5% contra 3,5% no leite bovino. Essa combinação de sabor e textura torna o produto pouco atraente para a maioria dos consumidores.
Do ponto de vista produtivo, os porcos não são parceiros ideais para a indústria leiteira. Uma porca produz muito menos leite do que uma vaca e apresenta tetas menores e de difícil acesso, além de um comportamento naturalmente mais agitado e menos colaborativo durante a ordenha. Isso inviabiliza a coleta eficiente em larga escala, tornando o custo de produção elevado e o rendimento bastante baixo.
Há também barreiras culturais. Em diversas sociedades, o consumo de leite está historicamente ligado a bovinos, caprinos e ovinos, enquanto o leite de porco jamais se estabeleceu como tradição alimentar. Esse fator cultural reforça a ausência de demanda, reduzindo ainda mais o incentivo para o desenvolvimento de uma cadeia produtiva.
Apesar de pouco explorado, o leite suíno apresenta composição nutritiva próxima à do leite bovino em termos de proteína, gordura e lactose, com colostro rico e altamente benéfico para os leitões. Estudos apontam que dietas ricas em proteína podem aumentar sua produção, mas, ainda assim, o volume é insuficiente para atender a um mercado consumidor humano.
Embora incomum, há registros de experimentos gastronômicos com leite de porco. Um exemplo marcante ocorreu na Holanda, quando um fazendeiro reuniu cerca de dez pessoas para ordenhar porcas durante horas, obtendo apenas alguns quilos de leite. Após várias tentativas frustradas, foi produzido um queijo descrito como “mais salgado, cremoso e granulado, com leve gosto de giz”.
O produto, pela raridade, foi vendido a um comprador anônimo por impressionantes US$ 2.300 o quilo, superando até mesmo o famoso queijo pule, feito com leite de jumenta sérvia e considerado um dos mais caros do mundo. Chefs como Edward Lee também já experimentaram criar ricota com leite de porco, descrevendo o resultado como “delicioso” e de sabor concentrado.
Apesar de nutritivo e, em raras ocasiões, transformado em iguarias exclusivas, o leite de suíno não apresenta viabilidade comercial para o consumo humano. Entre os principais obstáculos estão o sabor pouco familiar, a produção reduzida, a dificuldade de ordenha e a ausência de tradição cultural. Assim, o produto segue restrito quase exclusivamente ao seu papel original: nutrir leitões.
Quer ficar por dentro do agronegócio brasileiro e receber as principais notícias do setor em primeira mão? Para isso é só entrar em nosso grupo do WhatsApp (clique aqui) ou Telegram (clique aqui). Você também pode assinar nosso feed pelo Google Notícias.