Além da oferta mais elevada, o principal motivador para pressão sobre os preços do leite tem sido a retração da demanda pelos lácteos nos últimos meses.
Muito se tem questionado sobre o as causas da queda do preço do leite neste momento.
Apesar da queda na produção no primeiro trimestre deste ano (segundo o IBGE, ela foi de 1,2% em relação ao primeiro trimestre de 2022), temos uma disponibilidade de leite per capita maior neste início de ano do que no mesmo período do ano passado – cerca de 4,5% maior até maio. Esse aumento é basicamente resultado de um grande aumento no volume de importações.
Abaixo, podemos ver a evolução mensal da disponibilidade per capita (produção + importações – exportações).
Gráfico 1. Disponibilidade per capita de leite (litros/pessoa/dia).
Para os próximos meses, mesmo com uma expectativa da redução das importações em função da queda nos preços aqui do mercado brasileiro e consequente redução da competitividade dos volumes importados, a disponibilidade de leite deve apresentar crescimento em relação ao primeiro semestre, em virtude do aumento sazonal da produção (inicialmente, com crescimento da região Sul e depois com o início da safra de leite nas regiões Sudeste e Centro-Norte).
Além da oferta mais elevada, o principal motivador para pressão sobre os preços do leite tem sido a retração da demanda pelos lácteos nos últimos meses.
Nos 5 primeiros meses deste ano temos uma demanda menor do que no mesmo período do ano passado (as variações estão entre -5 e -7% no volume de vendas, dependendo da linha de derivado lácteo analisada)
Essa redução na demanda é fruto de preços elevados dos derivados lácteos nas gôndolas dos supermercados (importante pontuar que a inflação de lácteos, que começou o ano em 2 dígitos, vem caindo mês a mês) e também causada pelo pior desempenho econômico do país.
Nesse cenário, de maior volume de leite disponível com menor demanda, é natural a queda de preços no mercado, inicialmente observada nos derivados lácteos (preços da indústria ao varejo) e no mercado de leite spot e, agora, nos preços pagos aos produtores de leite.
E daqui para frente?
Como mostra o gráfico 2, os preços ao produtor em junho (no pagamento do leite fornecido em maio) devem mostrar uma queda aproximadamente 18 Centavos por litro, recuando ao patamar médio estimado de R$ R$ 2,72/litro (na média CEPEA Brasil), ainda cerca de 20 Centavos/litro acima do que os preços deflacionados d no mesmo mês de 2022.
Gráfico 2. Preço do leite pago ao produtor – média Brasil.
Seguindo o recuo já observado no spot e nos derivados (preços da indústria ao varejo), os valores ao produtor tendem a seguir em queda, ajustando-se a uma realidade de mercado ainda com demanda menor do que a oferta.
No entanto, o cenário de mercado para o 2º semestre pode trazer alterações positivas para indústrias e produtores. As importações tendem a decrescer em relação aos volumes atuais e aos volumes observados no 2º semestre de 2022, com uma produção recuperando-se de forma gradativa. Assim, pode haver uma tendência de disponibilidade per capita mais ajustada (isto é, não tão maior do que em 2022 como aconteceu no primeiro semestre deste ano).
Ao mesmo tempo, fatores podem ajudar em alguma recuperação da demanda por lácteos no 2º semestre; a queda de preços de mercado pode dar alguma sustentação à demanda, o que pode alterar o balanço entre oferta e demanda, num ambiente de disponibilidade possivelmente mais restrita. Ao mesmo tempo, existe uma perspectiva mais otimista para o 2º semestre para a economia do país, como indicam as recentes avaliações positivas realizadas por agências de avaliação de risco atuantes no nosso mercado. Esperemos que este cenário se confirme!
Fonte: Milkpoint
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