
Os aspersores são dispositivos projetados para distribuir água em forma de jatos ou névoa fina, com o objetivo de reduzir a temperatura corporal dos animais em confinamento por meio do resfriamento evaporativo e evitar doenças respiratórias
Nos dias mais quentes da estação, é comum ver o rebanho ofegante, em busca da pouca sombra disponível no curral. O consumo de ração diminui, o comportamento muda e, muitas vezes, o desempenho esperado não se concretiza. Esse cenário, familiar a muitos pecuaristas, é causado por um inimigo silencioso e recorrente: o estresse térmico.
Em confinamentos, onde a densidade animal é elevada e a radiação solar incide diretamente sobre os animais, o desafio se intensifica. Nesse contexto, o uso de aspersores, sistemas simples, porém extremamente eficazes, surge como uma solução estratégica para melhorar o conforto dos bovinos e, consequentemente, os índices zootécnicos da propriedade.
O impacto do estresse térmico no desempenho dos bovinos
O estresse térmico, comum em confinamentos localizados em regiões quentes do Brasil, ocorre quando o ambiente ultrapassa a zona de conforto térmico dos bovinos (entre aproximadamente 10 °C e 25 °C), especialmente sob alta umidade. Nessa condição, o organismo dos animais entra em estado de sobrecarga, priorizando a dissipação de calor e reduzindo funções vitais como o consumo de alimento e a ruminação.
O resultado é claro: queda no ganho médio diário (GMD), perda de peso, aumento na incidência de doenças, redução da fertilidade e, em casos extremos, até a morte. Estudos indicam que, em ambientes com Índice de Temperatura e Umidade (THI) superior a 72, os bovinos já demonstram sinais de desconforto térmico. E em confinamentos nas regiões mais quentes do país, esses índices são frequentemente superados.
O inimigo silencioso da produtividade
Em estudos com bovinos da raça Nelore confinados, os efeitos do uso de aspersores são evidentes. Animais submetidos à aspersão apresentaram frequência respiratória média reduzida para 37 movimentos por minuto ao meio-dia, comparada aos lotes sem esse sistema.
Já o Índice de Temperatura e Umidade (ITU), que estava na faixa crítica de 83,6 (zona de emergência), caiu para 82,3 com o uso de aspersores. Embora a diferença numérica pareça pequena, qualquer redução nessa faixa crítica pode representar alívio fisiológico importante para os bovinos, com impacto direto sobre o desempenho.
No lote com aspersão (CA), o ganho médio diário atingiu 1,61 kg, enquanto o grupo sem aspersores apresentou desempenho inferior — mesmo sob as mesmas condições ambientais adversas. O manejo térmico, portanto, se consolida como um diferencial técnico no resultado final da terminação.
Aspersores: como funcionam e por que são eficazes
Os aspersores são dispositivos projetados para distribuir água em forma de jatos ou névoa fina, com o objetivo de reduzir a temperatura corporal dos animais por meio do resfriamento evaporativo — processo físico em que a evaporação da água retira calor da pele do bovino e do ambiente ao redor.
No confinamento, o sistema funciona como um regulador térmico artificial, especialmente útil nas horas mais quentes do dia, e essencial em regiões com verões prolongados e altos níveis de radiação solar.
Acionados em intervalos programados, os aspersores molham a superfície dos animais de forma uniforme, sem encharcar o solo. A água, ao entrar em contato com o corpo quente do bovino, evapora rapidamente, promovendo uma dissipação térmica eficiente. O efeito é potencializado quando há ventilação adequada no ambiente, pois o movimento do ar acelera a evaporação e evita acúmulo de umidade excessiva.
Existem diferentes tipos de aspersores utilizados em confinamentos: os de baixa pressão (tipo spray ou névoa), mais indicados para climas secos, e os de média pressão, com maior vazão, recomendados para sistemas com alta lotação e necessidade de resfriamento mais intenso. O dimensionamento correto do sistema — considerando pressão, vazão e área de cobertura — é fundamental para garantir eficiência e evitar desperdício de água.
Benefícios comprovados no confinamento
Implementar aspersores no confinamento bovino não é apenas uma questão de bem-estar animal, mas também de rentabilidade e sustentabilidade. Os principais benefícios práticos incluem:
- Melhora significativa no GMD (Ganho Médio Diário);
- Aumento no consumo de matéria seca (CMS);
- Redução no número de animais prostrados ou em busca excessiva por sombra;
- Diminuição nas taxas de mortalidade e estresse fisiológico;
- Maior uniformidade no lote e previsibilidade dos resultados zootécnicos.
Em propriedades que adotaram o sistema de aspersão aliado a um manejo técnico bem executado, observou-se incremento de até 15% no desempenho dos animais durante os períodos mais críticos do ano.
Instalação e manejo
Embora seja um sistema simples, a eficácia da aspersão depende de implantação técnica criteriosa, considerando:
- Avaliação do microclima da área de confinamento (temperatura, umidade e ventilação);
- Escolha dos bicos aspersores adequados ao volume e à pressão de água disponíveis;
- Posicionamento correto dos aspersores nos pontos de maior permanência dos animais;
- Monitoramento da frequência e duração da aspersão para evitar encharcamento do solo.
Além disso, a manutenção preventiva é essencial para garantir o funcionamento contínuo do sistema, evitando entupimentos ou falhas na distribuição de água.
Aspersores e pecuária de precisão
Com o avanço da automação no campo, os aspersores estão sendo integrados a sistemas inteligentes de controle climático, capazes de monitorar em tempo real os índices ambientais e acionar a aspersão automaticamente, conforme a necessidade.
Essa tecnologia, aliada às boas práticas de manejo e ao foco em bem-estar animal, contribui diretamente para a certificação de sustentabilidade, rastreabilidade e valorização da carne, tanto no mercado nacional quanto internacional.
Escrito por Compre Rural
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ℹ️ Conteúdo publicado pela estagiária Ana Gusmão sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira
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