Porcos selvagens aparecem com carne azul fluorescente; veja o motivo

Caso no Vale do Salinas, onde os porcos selvagens aparecem com carne azul fluorescente, levanta alerta sobre impactos indiretos do uso de raticidas em áreas rurais e reforça debate sobre alternativas mais seguras no campo.

Um episódio inusitado e preocupante chamou a atenção do setor agropecuário nos Estados Unidos: porcos selvagens abatidos no Condado de Monterey, na Califórnia, apresentaram carne azul fluorescente. A investigação das autoridades revelou que os animais ingeriram difacinona, um raticida anticoagulante usado na agricultura para o controle de esquilos, ratos e outras pragas que afetam lavouras.

O caso reforça a discussão sobre o uso de venenos químicos em áreas rurais e os impactos indiretos que podem atingir não apenas espécies silvestres, mas também produtores rurais, consumidores e a imagem do agro.

O episódio foi registrado quando a empresa Urban Trapping Wildlife Control foi contratada para capturar javalis que estavam invadindo uma fazenda de 800 acres no Vale do Salinas, região agrícola conhecida pela produção de hortaliças e grãos. Durante as patrulhas noturnas, os animais forçaram os recipientes de iscas — legalmente instalados para controlar esquilos terrestres — e consumiram diretamente os pellets azuis com difacinona.

Javalis e outros animais comem pellets de raticida ou consomem pequenos roedores Foto: Departamento de pesca e vida selvagem

Segundo o Departamento de Pesca e Vida Selvagem da Califórnia (CDFW), o veneno se acumulou no fígado e no estômago dos porcos, alterando a coloração da carne para tons azul neon. A difacinona age impedindo a coagulação do sangue, causando hemorragias internas que podem levar dias até a morte do animal.

O caso gerou um alerta de saúde pública. O CDFW orientou caçadores e moradores locais a não consumirem carne de animais silvestres com tonalidade azulada, já que o cozimento não elimina a toxina.

O risco não é apenas para quem consome diretamente a carne: predadores e até cães de fazenda podem ser contaminados ao se alimentar de carcaças envenenadas, configurando o que especialistas chamam de exposição secundária. Isso amplia a preocupação para toda a cadeia produtiva do campo, que pode ser impactada pela morte de animais silvestres que desempenham papéis importantes no equilíbrio ecológico.

Embora os javalis sejam considerados praga agrícola nos EUA — assim como em várias regiões do Brasil —, o episódio traz um alerta relevante: o uso de raticidas precisa ser controlado para evitar efeitos colaterais indesejados.

Nos últimos anos, a Califórnia aprovou uma legislação mais rigorosa sobre rodenticidas anticoagulantes, restringindo seu uso apenas para fins agrícolas, de saúde pública e proteção de recursos hídricos. Ainda assim, casos de contaminação continuam ocorrendo, atingindo desde animais de caça até espécies emblemáticas, como condores e ursos-negros.

Para produtores rurais, o tema acende o debate sobre a busca por alternativas sustentáveis de controle de pragas, como soluções biológicas, sistemas de manejo integrado e uso de tecnologias mais seguras. Além disso, mostra como falhas no uso de pesticidas podem comprometer a imagem do setor agro diante da sociedade e do consumidor final.

Até o momento, não houve novos relatos de carne azul na região desde março, mas o monitoramento segue ativo. Autoridades recomendam que a caça de porcos selvagens continue, porém com atenção redobrada à coloração da carne.

Para o agro, o caso serve de exemplo sobre os desafios de conciliar produtividade, controle de pragas e preservação ambiental. No Brasil, onde o javali também é uma ameaça crescente para plantações e pastagens, a experiência americana pode reforçar o debate sobre o uso de químicos no campo e a necessidade de protocolos mais seguros de manejo.

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