Preço da carne dispara nos EUA com tarifaço ao Brasil, que reage com recorde de exportações

Oferta restrita no mercado americano impulsiona valores a máximas históricas, enquanto o Brasil amplia participação global e conquista novos mercados após sobretaxa dos EUA

O mercado global de carne bovina atravessa um dos momentos mais marcantes dos últimos anos. Nos Estados Unidos, o preço da proteína disparou, refletindo tanto a escassez de oferta interna quanto os efeitos diretos do tarifaço sobre o produto brasileiro. Do outro lado, o Brasil, que chegou a ser apontado como potencial perdedor com a medida, surpreendeu e bateu recordes de exportação em agosto de 2025, diversificando destinos e consolidando sua posição como líder mundial no fornecimento de carne.

Segundo o Departamento de Estatísticas do Trabalho dos EUA (BLS), o preço médio da carne moída atingiu US$ 6,50 por libra (cerca de R$ 77,71/kg) em julho, contra US$ 5,82 em janeiro. A alta de quase 12% em seis meses contrasta com a inflação de 2,7% acumulada em 12 meses no país.

Esse movimento é explicado pelo menor rebanho bovino americano em 70 anos, agravado por fatores climáticos e pela redução de pastagens. Além disso, a sobretaxa imposta à carne brasileira – que representava 26,6% das importações totais de bovinos pelos EUA – restringiu a oferta, pressionando ainda mais os preços ao consumidor.

Especialistas destacam que esse fenômeno não é isolado: a União Europeia também registra o menor estoque bovino em quatro décadas, compondo um cenário de escassez global de carne.

O impacto do tarifaço e a reação brasileira no mercado da carne bovina

O tarifaço, que entrou em vigor em 6 de agosto de 2025, elevou a alíquota de importação da carne bovina brasileira para 76,4% acima da cota de 70 mil toneladas anuais – volume esgotado em menos de um mês. A medida inicialmente gerou apreensão no setor, já que os EUA eram o segundo maior destino da proteína nacional.

No entanto, os números surpreenderam: até 25 de agosto, o Brasil exportou uma média de 13,3 mil toneladas por dia, contra 9,8 mil no mesmo período de 2024. Em receita, foram US$ 74,55 milhões diários, crescimento de 70,1% em relação ao ano anterior.

Com isso, a participação da carne bovina na pauta exportadora brasileira saltou de 3,35% para 5,22% em apenas um ano. O ganho absoluto foi expressivo: US$ 30,7 milhões a mais por dia em relação a 2024.

Novos destinos e fortalecimento da China

Se os EUA perderam espaço, a China manteve-se como principal cliente, absorvendo mais de 50% da carne brasileira entre janeiro e julho de 2025. Além disso, o México ultrapassou os americanos em julho, importando 15,6 mil toneladas contra 12,7 mil dos EUA. Parte desse volume é processado localmente e depois internalizado pelo próprio mercado norte-americano.

A diversificação segue acelerada. Nos últimos dois anos, o Brasil abriu 17 novos mercados e já exporta para 134 países. Somente em 2025, 12 novos destinos foram autorizados, como Filipinas, Indonésia, Vietnã e El Salvador.

Outro ponto positivo foi a decisão da China de prorrogar por três meses a investigação de salvaguarda contra a carne bovina, sinalizando que não pretende restringir as importações brasileiras no curto prazo.

A vantagem estratégica do Brasil

De acordo com João Otávio Figueiredo, analista da Datagro, embora os EUA sejam um mercado relevante, sua participação representa apenas 4% da produção nacional de carne bovina. A dependência é maior do lado norte-americano, que hoje busca compensar a falta de oferta interna com importações de países como Austrália e Argentina – o que, por consequência, abre mais espaço para o Brasil no mercado chinês.

Além disso, o status de país livre de febre aftosa sem vacinação, conquistado recentemente, pode abrir as portas para o mercado japonês, um dos mais cobiçados pelo setor, e que compra majoritariamente da Austrália e dos EUA.

Perspectivas para 2025

O Bank of America (BofA) avalia que o atual “fundo de ciclo” da pecuária americana deve manter os preços elevados até o fim do ano. Em anos como 2025, os valores não apresentam a queda sazonal típica do segundo semestre e tendem a permanecer estáveis em patamares altos.

Nesse cenário, gigantes brasileiros como a JBS devem se beneficiar. Listada em Nova York (BDR: JBSS32), a empresa deve registrar margens mais robustas no terceiro trimestre, segundo projeção do banco.

Com um cenário global de escassez, valorização da proteína e abertura de novos mercados, o Brasil consolida-se como um dos maiores players estratégicos no fornecimento de carne bovina do mundo, transformando o risco inicial do tarifaço em um recorde histórico de exportações.

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