Preço do leite despenca 19% em um ano e piora crise no setor; e agora, produtor?

Com produção em alta, mercado interno abastecido e importações crescentes, margens dos pecuaristas seguem cada vez mais apertadas. Especialistas apontam que a recuperação do preço do leite só deve ocorrer a partir de 2026.

O preço do leite pago ao produtor voltou a registrar queda significativa e acende um alerta para a pecuária leiteira em todo o país. Segundo levantamento do Cepea/Esalq-USP, a chamada “Média Brasil” atingiu R$ 2,44/litro em setembro, representando uma desvalorização real de 19% frente ao mesmo período do ano anterior. Trata-se da sexta queda consecutiva, evidenciando um cenário de crise prolongada no campo. Esses dados foram divulgados pelo Cepea e analisados pela pesquisadora Natália Grigol.

Oferta em alta e mercado saturado

Diversos fatores ajudaram a pressionar o preço do leite para baixo. De um lado, houve crescimento consistente da produção em 2025, reflexo de investimentos feitos quando a margem do leite estava mais favorável no ano anterior. A melhora das pastagens durante primavera e verão também estimulou a oferta.

O ICAP-L (Índice de Captação de Leite) subiu 5,8% entre agosto e setembro, acumulando alta de 12,2% no ano – sinal claro de que a produção segue aquecida. Ao mesmo tempo, o mercado interno ainda está amplamente abastecido, já que as importações cresceram 20% em setembro, totalizando 198,1 milhões de litros em equivalente leite, sendo 80% na forma de leite em pó.

Mesmo com aumento de 11% nas exportações no mês, esse volume não foi suficiente para aliviar a pressão interna. No acumulado do ano, as exportações caíram 36,7%, enquanto as importações somaram 1,65 bilhão de litros equivalentes — patamar considerado alto pelos agentes do mercado.

Indústrias apertadas, produtor no limite com queda no preço do leite

Com estoques elevados e consumo sem reação, as indústrias têm enfrentado margens comprimidas, especialmente nos segmentos de leite UHT, muçarela e leite em pó, que registraram novas quedas de preços no atacado paulista em setembro.

Diante desse quadro, os laticínios reduziram os valores pagos ao produtor, gerando tensões nas negociações e descontentamento no campo.

A pesquisadora Natália Grigol destaca:

“Muitos produtores relatam dificuldades para cobrir o custo de produção”.

Mesmo com uma leve queda de 0,9% no Custo Operacional Efetivo (COE), o alívio foi insuficiente. Além disso, o poder de compra também piorou: foram necessários 26,5 litros de leite para adquirir um saco de 60 kg de milho — alta de 5,4% frente ao mês anterior.

Ou seja: gasta-se mais para produzir, e recebe-se menos pela produção.

Perspectivas: quando essa crise começa a mudar?

No curto prazo, o mercado deve seguir pressionado. O ajuste na produção tende a ser lento, já que a safra das águas naturalmente aumenta a oferta. A estabilização dos preços pode ocorrer em dezembro, quando as indústrias planejam o abastecimento para o início de 2026.

Contudo, a recuperação mais consistente pode vir apenas a partir do segundo bimestre de 2026, caso a oferta recue especialmente na região Sul.

E agora, produtor? O que fazer diante da crise?

Especialistas apontam algumas medidas de adaptação:

  • Reavaliar manejo para reduzir custos, principalmente na suplementação.
  • Apostar em silagem e pastagens de alta eficiência para reduzir dependência de milho.
  • Considerar cooperativismo para ganhar força nas negociações.
  • Avaliar programas de pagamento por qualidade, que podem elevar receita.
  • Buscar assistência técnica contínua, principalmente em ajustes nutricionais.

O momento exige estratégia, planejamento e cautela.

A pecuária leiteira vive um dos períodos mais desafiadores dos últimos anos. Produção elevada, consumo estagnado e importações em alta formam uma combinação que comprime margens e coloca em risco o sustento de milhares de famílias produtoras.

O setor busca equilíbrio, mas, até lá, o produtor precisa se reinventar para resistir.

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