
Com escalas de abate cheias e consumo interno em ritmo lento, frigoríficos derrubam cotações e desafiam a resistência dos produtores
A arroba do boi gordo está sob intensa pressão no mercado físico brasileiro, com quedas consecutivas nas cotações e frigoríficos confortáveis em suas escalas de abate. A situação tem levado pecuaristas a se mobilizarem, afirmando que “menos de R$ 300/@ não dá” para manter a sustentabilidade da atividade, diante de margens cada vez mais apertadas e custos de produção ainda elevados.
Frigoríficos em vantagem e pressão nas negociações da arroba do boi gordo
Segundo levantamento da Safras & Mercado, as indústrias estão posicionadas, em média, com escalas de abate de oito a nove dias úteis, o que confere maior poder de barganha para os compradores. O analista Fernando Henrique Iglesias destaca que a pressão baixista é resultado da entrada expressiva de animais terminados em confinamento, especialmente por meio de contratos a termo e parcerias, o que amplia a oferta de bois prontos e enfraquece o poder de negociação dos pecuaristas.
A Scot Consultoria confirma a tendência e aponta que o chamado “boi comum” caiu para R$ 309/@ em São Paulo, no prazo e com valor bruto. Já o “boi-China”, que atende ao padrão de exportação com até quatro dentes e sem uso de hormônios, ainda sustenta o patamar de R$ 315/@ .
Pecuaristas resistem a vender e frigoríficos pausam compras
Diante da queda dos preços, muitos produtores estão optando por segurar os animais no cocho ou no pasto. De acordo com a Agrifatto, frigoríficos chegaram a suspender temporariamente as compras no fim da última semana, justamente pela resistência dos produtores em aceitar os valores ofertados .
Esse movimento de recuo dos pecuaristas revela um impasse: de um lado, frigoríficos com oferta farta e cautela no consumo interno; do outro, produtores enfrentando custos elevados com nutrição, sanidade e mão de obra, além da estagnação nos preços da reposição.
Cotações do boi gordo por estado
Os dados mais recentes mostram o seguinte cenário de preços médios da arroba:
Estado | Preço médio atual (R$/@) |
São Paulo | R$ 308,25 |
Goiás | R$ 289,64 |
Minas Gerais | R$ 297,65 |
Mato Grosso do Sul | R$ 310,34 |
Mato Grosso | R$ 312,64 |
Além disso, a vaca gorda é negociada a R$ 280/@ e a novilha gorda a R$ 295/@ em São Paulo .
Consumo interno fraco e exportações aquecidas
O consumo doméstico de carne bovina segue limitado, impactado pelo preço elevado em comparação com proteínas concorrentes como frango e suíno, que estão mais acessíveis às famílias de baixa renda. Esse fator dificulta a reposição no atacado e varejo, mesmo com a entrada da massa salarial no início do mês .
Por outro lado, as exportações continuam em ritmo forte. A ABIEC reportou crescimento de 23,7% nos embarques de carne bovina em junho, atingindo 271,2 mil toneladas. A expectativa é que julho supere as 250 mil toneladas exportadas, o que pode trazer algum alívio para o mercado doméstico no segundo semestre .
Mercado futuro do boi gordo sinaliza melhora
Na B3, o contrato futuro de boi gordo com vencimento em agosto foi negociado a R$ 318,05/@, enquanto o contrato para dezembro subiu para R$ 336,35/@, refletindo apostas de recuperação no segundo semestre, puxada pela menor oferta de fêmeas e pela retomada da demanda interna .
Considerações finais
O grito dos produtores por preços acima de R$ 300/@ é um reflexo direto da insustentabilidade econômica do setor diante do atual cenário de pressão de mercado. Embora as exportações tragam fôlego, a recuperação do mercado interno e a gestão eficiente da oferta serão fundamentais para reequilibrar a cadeia produtiva.
Para o produtor, o momento exige cautela, planejamento de caixa e avaliação criteriosa dos custos por arroba, principalmente em sistemas de confinamento. A decisão de vender ou segurar o gado pode fazer toda a diferença entre prejuízo e sobrevivência.
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