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Produção e consumo de feijão são os mesmos há mais de 10 anos

Maior de todos os gargalos desse importante setor agrícola, ao menos para o mercado interno, é a produção de um feijão que só o Brasil produz e consome: o carioca.

O Brasil é o maior produtor e consumidor de feijão Phaseolus do mundo, com aproximadamente 3,2 milhões de toneladas ao ano. Ao lado de outras leguminosas – como lentilha, ervilha e grão-de-bico –, o grão faz parte do mercado de pulses (do latim puls ou sopa grossa).

Embora faça parte da mesa de quase todas as famílias brasileiras, há mais de dez anos, a produção agrícola e o consumo de feijão no país continuam os mesmos, principalmente porque não conta, atualmente, com novas políticas voltadas para esse setor. É o que afirma Marcelo Eduardo Lüders, presidente do Conselho do Instituto Brasileiro de Feijão & Pulses (Ibrafe).

“O consumo só não aumenta porque estamos produzindo, ​há mais de uma década, a mesma quantidade de feijão. Dessa forma, desapareceram estoques estratégicos que, antes, eram mantidos pelo governo. Ainda importamos, principalmente, feijões pretos”, pontua o executivo, em entrevista à equipe SNA/RJ.

Conforme Lüders, o maior de todos os gargalos desse importante setor agrícola, ao menos para o mercado interno, é a produção de um feijão que só o Brasil produz e consome: o carioca.

“Cerca de 70% da produção e consumo são dessas variedades. Isso criou um ​‘beco sem saída’ para o produtor e para o consumidor. Se sobra, não temos para onde mandar e o preço despenca. Quando falta, não há de onde importar. Estse gargalo começa a ser lentamente resolvido, mas ainda continuará, por um bom tempo, a trazer dissabores a essa cadeia produtiva”, alerta.

DESAFIOS

Para o presidente do Conselho do Ibrafe, ​a diversificação é o principal desafio da produção de feijão no país e, ao mesmo tempo, uma grande oportunidade de resolver esse enorme gargalo.

“Podemos produzir variedades que agradem ao nosso consumidor, como os vermelhos, rajados e caupis. Se houver excesso, podemos exportar, até porque existe um mercado mundial ávido por esses produtos.” ​

Lüders garante que o crescimento da produção de feijões não ocorre por falta de novas tecnologias, que surgem a todo o momento nos manejos agronômicos, fazendo frente aos novos desafios de pragas, fertilização e recuperação de solos. “As tecnologias digitais tomam conta também, contribuindo para que os controles no campo sejam, a cada dia, mais exatos.”

APOIO AOS PRODUTORES

Para apoiar os produtores rurais, o Ibrafe mantém o “Clube Só Feijão”, formado por cerca de 900 produtores, que vem se colocando como grande difusor tanto de novas tecnologias quanto de informações de mercado.

“Por exemplo, até recentemente, os produtores aguardavam para saber o que ocorria na madrugada, a cada dia, na região do Brás, em São Paulo, para ter um indicador de preços para seus negócios. Mas isso está desaparecendo. O importante é o que ocorre durante o dia, em diferentes polos de produção, país afora”, relata.

Segundo Lüders, “hoje, observam muito mais os valores do Preço Nacional do Feijão (PNF), índice sempre atualizado quando é detectado um novo negócio nas fontes, e que é reportado por produtores, cerealistas, corretores”. O PNF pode ser acessado por meio do site do ibrafe.org ou pelo aplicativo Ibrafe.

SEMENTES PIRATAS

Conforme o executivo, o setor produtivo de feijão “tem implorado atitudes urgentes, por parte do governo federal, para diminuir a pirataria de sementes”.

“Hoje, apenas 15% da área de feijão usa sementes certificadas. O resultado é a degeneração genética, que diminui a produtividade aumentando, assim, os custos. O próprio governo passa a trabalhar como indutor da pirataria na medida em que, para o custeio e seguro rural, não exige que se use semente com origem comprovada”, critica Lüders.

O executivo diz que, quando os governos compram feijão para a merenda escolar ou cesta básica, não estimulam o uso de sementes, solicitando a comprovação de que foi usada semente com origem.

“Na exportação, qualquer feijão pirata pode ser exportado e o Ministério da Agricultura não solicita comprovação de origem dessa semente. Com isso, não se paga royalties à Embrapa, por exemplo, e desestimula a iniciativa privada a investir em sementes, pois, rapidamente, seu investimento será pirateado, trazendo perdas óbvias.”

EXPORTAÇÃO

No que diz respeito à exportação, o país também enfrenta entraves para elevar as vendas externas de feijão.

“O Brasil é pouco ágil nas negociações, na hora de abrir novos mercados estrangeiros. Aguardamos, há muito tempo, ter um comércio franco e aberto com a China, México e África do Sul – para citar apenas três países. Essas nações tanto podem exportar para cá como em alguns momentos ser importadores.”

Na visão de Lüders, “a burocracia, aqui, também encarece o processo (de exportação), tornando-o mais lento que em outros países, e isso tira nossa competitividade”.

Outro fator está relacionado ao Custo Brasil, “com tudo que está embutido nesse termo, desde fretes rodoviários para um produto viajar de Mato Grosso ao porto, o que torna mais caro o frete interno, aqui, do que despachar a mesma quantidade em um container, por exemplo, para a Índia”.

“​Quando membros do Ministério da Agricultura promovem produtos brasileiros, no exterior, só pensam em soja, milho, carnes, café e algodão. Esquecem que o prato símbolo da nossa cultura gastronômica faz parte do nosso menu de possibilidades no comércio exterior”, critica o presidente do Conselho do Ibrafe.

“Literalmente, para bilhões de pessoas em todo o mundo, os pulses são primordiais. E essa demanda mundial cresce na mesma proporção que países – como Índia, Paquistão e tantos outros – melhoram o poder aquisitivo da população”, alerta.

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