Entre 2004 e 2005 foram descobertos focos isolados de febre aftosa, enfermidade causada por vírus que acomete bovinos, bubalinos, caprinos, ovinos e suínos, nos estados do Pará, Amazonas, Mato Grosso do Sul e Paraná. Na oportunidade, as ocorrências acarretaram na restrição de importações de carnes por vários países, em especial à Rússia, um de nossos maiores compradores. Isso gerou perda de confiança no produto brasileiro, custou milhões de dólares em divisas e milhares de empregos.
Os focos serviram de alerta para todos os agentes da cadeia, em particular aos pecuaristas, quanto à importância da vacinação do rebanho e do cumprimento das demais diretrizes da política brasileira para erradicação da febre aftosa. E, desde então, não se registraram novos casos da doença.
Atualmente, 23 unidades da federação são reconhecidas como zonas livre de aftosa com vacinação. Santa Catarina é o único estado livre da doença sem vacinação, mas uma recente decisão do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) pretende retirar a obrigatoriedade da imunização de todo o território a partir de novembro de 2018 – com o país sendo declarado livre da doença sem vacinação até 2020.
Uma vitória de toda a cadeia produtiva da carne que trará economia de mais R$ 600 milhões por ano para os pecuaristas e novas perspectivas para os mercados exportadores de bovinos e suínos.
Vencida a aftosa, a carne brasileira enfrenta agora nova crise, deflagrada pela Operação Carne Fraca da Polícia Federal, que investiga o envolvimento de fiscais do MAPA e empresários do ramo frigorífico em um esquema que liberava licenças e fiscalização irregular de empresas.
Entre as acusações, frigoríficos que vendiam carnes com produtos químicos e fora da validade, além de casos “inusitados”, como a inserção de papelão em lotes de frango e carne de cabeça de porco em linguiças.
Postura deplorável que certamente irá macular a imagem de nossos produtos internamente e causará forte reação em países que mantemos relação comercial. Tais desvios devem ser punidos exemplarmente, com a exclusão dos profissionais do quadro de fiscais do Mapa e sanções às empresas envolvidas, para que se preserve o status alcançado pela carne brasileira no mundo.
Atualmente, só as exportações de carne bovina, suína e de frango rendem US$ 12 bilhões por ano, para um mercado diversificado. Somos os maiores exportadores de carne vermelha para a China com 16 plantas autorizadas e 40 já credenciadas pelo Mapa aguardam aprovação do país asiático. Desta forma, os chineses já consomem 32% da carne bovina comercializada pelo Brasil.
A operação da PF acontece 8 meses após o País acertar com os Estados Unidos a venda de carne bovina in natura, encerrando uma negociação que se arrastava há 18 anos e demandou esforços hercúleos da cadeia produtiva. Existem 14 estados brasileiros aptos a exportar carne para os EUA, sendo 25% da produção concentrada no Mato Grosso.
Com mais de 200 milhões de cabeças de bovinos, o Brasil desenvolveu uma pecuária de excelência graças ao trabalho do pecuarista que começa com a escolha da genética bovina, passando pelos sistemas de criação, manejo pré-abate até a expedição do produto final para a indústria. Sem falar que a carne produzida no Brasil é mais saudável porque nossos bovinos são criados a pasto. Isso torna o alimento rico em Ômega 3, um ácido graxo essencial com ação anti-inflamatória em termos de células.
A pecuária nacional também é reconhecida por sua excelência em produzir material genético bovino de alta qualidade. Os criadores brasileiros souberam fazer o dever de casa, a partir de bons programas de seleção e aumento da produção, e hoje conseguem exportar para dezenas de países. Segundo dados do Ministério da Indústria, Comércio, Exterior e Serviços, as exportações em 2016 movimentaram US$1,5 bilhão e devem aumentar em 20% em 2017.
Esses números demonstram que o produtor faz seu papel, zelando durante anos para fornecer um animal saudável, em perfeita condição sanitária à indústria.
Por Renato Ponzio Scardoelli, jornalista
Reprodução do site Publique