
Sem data para acabar, produtores rurais gaúchos iniciam protesto e mobilização em diversas cidades do Rio Grande do Sul pede securitização das dívidas e ações urgentes do governo federal; o Compre Rural, juntamente com a SOS AGRO RS, vem acompanhando o caso de perto
Agricultores do Rio Grande do Sul deram início, nesta terça-feira, 13 de maio, a uma série de protestos pacíficos para denunciar o grave endividamento enfrentado pelo setor agropecuário. Com maquinários posicionados em pontos estratégicos e mobilizações em diferentes cidades, produtores rurais gaúchos iniciam protesto e o movimento busca pressionar o governo federal a adotar medidas concretas — como a securitização das dívidas rurais — diante de uma crise financeira que se arrasta há anos e foi agravada por estiagens severas e enchentes históricas.
O movimento, organizado de forma orgânica por produtores de diferentes municípios, não tem previsão de término. Os participantes exigem ações imediatas que permitam a prorrogação dos débitos e a sobrevivência econômica de milhares de famílias que dependem da agricultura.
“O pior problema está nas cooperativas de crédito. Elas penalizam os produtores de forma muito severa e não estão respeitando o Manual do Crédito Rural. Não temos produto para vender e, consequentemente, não temos como honrar os pagamentos. O que nos resta é lutar pela securitização”, declarou Luciene Agazzi, produtora rural.
Dívida se aproxima de R$ 73 bilhões
Segundo a Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (Farsul), o endividamento do setor agropecuário gaúcho já soma cerca de R$ 73 bilhões, com grande parte das parcelas vencendo ainda este ano. Muitos produtores não conseguiram renegociar os valores ou o fizeram com juros mais elevados, o que aprofundou a crise.
“Estamos sofrendo com uma grande estiagem há cinco anos e enfrentamos dificuldades para plantar a próxima safra de soja. Se não houver uma ampla securitização, com prazos de 15, 20 anos ou mais, a situação vai se tornar insustentável para nós, pequenos agricultores”, desabafou Leonardo Seibt, produtor.

Apoio político e propostas no Congresso para a lei da securitização
A mobilização ganhou corpo durante a Expojoia, no noroeste gaúcho, quando uma audiência pública do Senado reuniu produtores e o senador Luís Carlos Heinze (PP-RS), autor do projeto que propõe a securitização das dívidas por até 20 anos.
“É preciso mobilização, é preciso pressão, para que na próxima etapa possamos garantir a securitização e alongar essas dívidas. É disso que os produtores precisam: prazo longo para se reorganizar e conseguir pagar as contas”, disse Heinze.
O movimento também pede a suspensão imediata dos vencimentos que ocorrem desde março, como forma de garantir fôlego financeiro ao produtor.
Cidades mobilizadas
As manifestações já ocorrem nas seguintes localidades:
- Júlio de Castilhos
- São Sepé
- Pântano Grande
- Tio Hugo
- São Pedro do Sul
- São Vicente do Sul
- Cruz Alta
- Cacequi
- Vila Nova do Sul
- São Gabriel
E novas cidades devem aderir nos próximos dias. A população em geral também está sendo convidada a participar das manifestações.
“Aqueles que quiserem participar e se solidarizar com a mobilização, devem procurar os locais nessas cidades! Não é só para produtores — a sociedade pode participar e está convidada”, afirmou Arlei Romeiro, diretor financeiro da Associação dos Produtores e Empresários Rurais do RS (APER).
Nota oficial da Farsul cobra ação do governo
A Farsul publicou uma nota contundente, demonstrando preocupação com a inércia do governo federal diante do colapso climático e financeiro vivido no campo gaúcho. Leia abaixo a nota na íntegra:
Nota oficial da Farsul à sociedade sobre a falta de ações do governo federal
A Farsul vem, através desta nota, lamentar e tornar pública a sua preocupação com a falta de ações efetivas do governo federal em relação às perdas ocorridas no Rio Grande do Sul.
Como é bastante conhecido pelo governo federal, o Rio Grande do Sul enfrenta uma crise de perdas decorrentes do clima sem precedentes na sua História, o que gerou um atraso econômico irrecuperável em relação aos demais estados e um endividamento de dimensão e perfil inadministráveis para um grande contingente de produtores gaúchos.
É importante destacar que, apesar de todas as assustadoras informações de perdas e de endividamento relatadas pela Farsul ao governo federal, até este momento não tivemos sequer a publicação do voto do Conselho Monetário Nacional (CMN) autorizando as instituições financeiras a cumprirem aquilo que já consta no Manual do Crédito Rural (MCR), apesar da reunião extraordinária da sexta-feira passada. Esta premeditada falta de ação tem gerado um verdadeiro caos, pois estamos em época de pleno vencimento de custeios, investimentos e prorrogações, e o governo sabe perfeitamente disso, mas ao não votar a prorrogação, opta por enviar centenas de milhares de produtores gaúchos para inadimplência ou para busca de soluções com juros de 2% a 3% ao mês.
Além do mais, a maior parte da dívida foi realizada com recursos livres, o que exige a criação de uma linha do Fundo Social do Pré-sal, que até agora não se avançou de forma consistente.
O remédio, se chegar, de novo será pequeno, restrito e atrasado, diferente dos discursos e dos “outdoors” espalhados pelo país.
Situação agravada pela safra 2024/25
Nesta temporada, uma nova seca afetou duramente a safra de grãos no estado, elevando ainda mais a pressão sobre os produtores que já vinham fragilizados. A expectativa agora é de que o governo federal apresente, com urgência, uma solução viável para evitar um colapso social e econômico no campo gaúcho.
👉 O Compre Rural continuará acompanhando os desdobramentos da mobilização e trará atualizações sobre as negociações e eventuais decisões do governo nos próximos dias.
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