Professor Moacyr Corsi põe o dedo na ferida da intensificação na pecuária

Professor fala sobre as oportunidades da intensificação na pecuária; “A janela continua aberta e o fator que tem maior poder de alavancar a produtividade é a taxa de lotação”

Mestre em agronomia de forrageiras pela Universidade Estadual de Ohio, nos Estados Unidos e doutor em Ciência Animal pela Esalq/USP, o professor Moacyr Corsi, fala sobre a intensificação na atividade pecuária e o papel do pastejo rotacionado na elevação da produtividade por área na pecuária de corte. Corsi é o precursor na implantação da tecnologia de pastejo rotacionado no Brasil. Mas, para ele, não é questão de ser visionário.

“Algumas vezes eu já ouvi falar dessa minha atitude como eu tenha sido um visionário, você está pregando intensificação da produção há 30, 40 anos e agora que ela está surgindo. Mas na verdade não tem nada de visionário nisso, como se analisa a informação, você sabe aonde você pode chegar, aliás o pesquisador tem obrigação de analisar as informações, concretizar e ver onde está o elo mais fraco de ligar as informações num sistema de produção. Quando você é capaz de essa integração está sendo bem feita porque é o mais fraco você pesquisa outro. Quando você estuda a fisiologia da planta forrageira você percebe que isso é possível, e você pode fazer”, disse.

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Foto: Divulgação

Segundo ele, a importância em fazer a intensificação é para que o retorno econômico da pecuária seja equiparado ou superior a outras atividades agrícolas como a cultura da soja, por exemplo. Ele conta que conheceu o conceito de pasto rotacionado durante o dourado nos Estados Unidos em 1984.

Dobradinha: rotacionado e adubação

“A adubação vem junto, é um complemento, porque a retirada de nutrientes que você tem no solo com uma taxa de lotação maior é muito maior e você precisa fazer com que essa planta tenha uma rebrota vigorosa, porque você quer um período de descanso o mais curto possível para que você aproveite o período de verão, da chuva, no qual você tem maior produtividade, então você precisa fazer com que as rebrotas sejam vigorosas e só folhas. Porque quando é mais folhas, evidentemente, mais nutrientes que o animal irá extrair.

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Foto: Roberto Barcellos

“Normalmente o pessoal diz mais tem uma grande reciclagem de nutrientes porque as fezes, a urina etc, isso tudo é verdade, só que a distribuição dessa fertilidade feita pelo animal (fezes e urina) é muito irregular, então a gente não pode contar muito com aquilo, a gente conta através da análise do solo que vai mostrar se aquilo está existindo de fato, mas você não pode fazer um cálculo a priori dizendo vai acontecer isso, exatamente porque a distribuição é muito errática”, disse.

O conceito de rotacionado foi disseminado na década de 70 quando ele e sua equipe começaram a produção de leite num sistema rotacionado e teve muitas excursões de produtores para conhecer a tecnologia.

“Aliás, a gente precisa ter convicção das tecnologias que a gente passa para o produtor, você tem que ter plena consciência de que aquilo vai dar certo, e se não der certo vai ser por um motivo que você acha facilmente o porquê não deu. Se você estiver testando com o produtor alguma ideia isso não vai dar certo porque o produtor está gastando”, alerta.

Para ele, no começo o mais difícil era mudar o pensamento do produtor, agora a tecnologia é bastante conhecida e adquirida pelos produtores.

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Foto: Roberto Barcellos

Maior entrave no pastejo rotacionado

Para o professor o maior entrave ainda neste modelo é acertar a perda da pastagem.

“É muito frequente que tenha uma perda de forragem na propriedade. Perto da aguada você está raspado, o pasto está muito ruim e distante da aguada tem sobra de pastagem, então quer dizer isso é perda e nos dois sentidos, o proprietário pensa que a perda é apenas onde o animal não foi para consumir aquela forragem porque o pasto está alto, não ele já perdeu aonde está raspado também porque ali ele nunca deixou a planta atingir o potencial que ela tem de produção, então ele perde nos dois extremos: rapado e subpastejado”, destaca.

A estratégia é acertar primeiro a perda. “Não tem sentido você começar a produzir mais se você já está perdendo, então vamos começar a acertar o manejo. Nesse caso é fazer com que a planta tenha um resíduo pós pastejo que permita uma rebrota rápida. E quem determina o manejo correto é o ganho de peso do animal. Então uma das coisas que se propõe ao pecuarista é começar a pesar os animais, porque essa é a variável que sabe sobre o manejo adequado”, enfatiza.

Segundo o professor Corsi a adubação é a última coisa que você faz no manejo, primeiro você acerta a demanda e a oferta e depois faz a adubação.

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Foto: Roberto Barcellos

A taxa de lotação é uma das variáveis mais significativas na pecuária

Os produtores têm medo do período de inverno, do seco onde ele tem que suplementar os animais, por isso a dificuldade em aumentar a taxa de lotação, segundo o especialista. Mas, organização é a palavra chave para não se perder com a lotação. Administrar desde a compra, projetar o ganho de peso e o custo por animal.

“Pesar animais e fazer cálculo, você tem que ter um planejamento, um custo e custo de pecuária é muito simples de fazer, é o que mais assusta o produtor e ele sempre se esquiva. Se ele pegar o que ele gastou no mês e dividir pelo número de cabeças ele tira o custo por cabeça mês, custo simples sintético, mas dá para ter uma noção”, explica.

Outra dica é na hora de levar o animal ao abate, vender os que engordam menos, pois são os que mais estão custando e assim liberar espaço para os demais.

Não utilize tecnologia do século 21 em infraestrutura do século 18

Um ponto importante abordado pelo especialista é a estrutura da propriedade que tem que ser adequada para a tecnologia que o pecuarista deseja utilizar. Por exemplo, se for realizar suplementação é importante averiguar a situação dos coxos.

“Se você triplica a taxa de lotação e mantém a mesma estrutura com aqueles coxos pequenos e cobertos no meio do pasto, está errado, pois somente terá acesso a suplementação os animais dominantes, aí é frustrante para o produtor. Não que a tecnologia esteja errada, mas a aplicação dela sim. E eu acho também que primeiro ele tenha que aumentar a taxa de lotação para assim justificar a suplementação, porque é para o complementar o excesso que a pastagem não oferece que se fornece a suplementação e normalmente se faz ao contrario”, finaliza.

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