Promessa de “nova soja”, cannabis pode gerar cerda de R$ 5,76 bilhões até 2030

Projeções indicam que o cânhamo industrial pode transformar o agronegócio brasileiro em menos de uma década, criando uma nova cadeia bilionária e sustentável, a da cannabis.

A cannabis industrial, também conhecida como cânhamo, surge como uma das maiores promessas para diversificação e inovação do agronegócio brasileiro. Versátil, com potencial de uso que vai da indústria têxtil à alimentação e construção civil, a planta é apontada por especialistas como capaz de se tornar a “nova soja”, abrindo uma nova fronteira econômica para o país. As primeiras estimativas indicam que essa cadeia produtiva pode movimentar até R$ 5,76 bilhões em receitas líquidas até 2030, com geração de milhares de empregos, fortalecimento das exportações e redução da dependência de importações.

O entusiasmo em torno do cânhamo se deve à sua capacidade de revolucionar diferentes segmentos industriais. Apenas as sementes, ricas em proteínas e com uso alimentar variado, podem gerar mais de R$ 2,3 bilhões ao ano, enquanto as fibras, extraídas do caule da planta, têm potencial para movimentar R$ 3,2 bilhões, sendo aplicadas na indústria têxtil, de papel e até em tijolos sustentáveis para a construção civil. Para a Embrapa, trata-se de uma oportunidade rara de inovação agrícola, que pode reposicionar o Brasil entre os líderes globais em uma commodity emergente.

Plano de ação e cronograma do cultivo da cannabis no Brasil

De acordo com o relatório Caminhos Regulatórios para o Cânhamo no Brasil, elaborado pela Embrapa em parceria com o Instituto Ficus e o Instituto Escolhas, o cultivo comercial está previsto para iniciar em 2026, com projetos-piloto voltados a pequenos e médios produtores e cooperativas. Nesse primeiro momento, está prevista a criação de linhas de crédito específicas para aquisição de maquinário e custeio do plantio.

A partir de 2027, a expectativa é que ocorram os primeiros cultivos em larga escala com emissão de licenças oficiais. Já em 2028, o Brasil poderia iniciar as exportações de matérias-primas de cânhamo, consolidando até 2030 uma cadeia produtiva robusta, com cerca de 64,1 mil hectares cultivados e uma indústria de beneficiamento e processamento já estruturada.

Obstáculos regulatórios

Apesar do potencial, o maior entrave ainda é regulatório. Uma portaria da Anvisa, em vigor desde 1998, proíbe qualquer tipo de plantio de cannabis no Brasil. Em 2023, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) determinou que a União e a agência definissem regras específicas para o cânhamo industrial, mas até o momento não houve uma regulamentação clara.

A expectativa é de que o governo publique até o fim de setembro um decreto presidencial que permita o cultivo. Porém, minutas em análise preveem autorização apenas para uso medicinal, o que poderia limitar fortemente o aproveitamento econômico. Segundo especialistas, deixar de regulamentar o cânhamo em sua totalidade seria abrir mão de um potencial multissetorial que vai muito além da indústria farmacêutica.

Impacto econômico e social na produção de cannabis

Se devidamente regulamentado, o setor pode não apenas gerar R$ 5,76 bilhões em receitas até 2030, mas também criar mais de 14 mil empregos diretos, além de impulsionar a sustentabilidade agrícola com a introdução de uma cultura de baixo impacto ambiental. Atualmente, praticamente 100% dos produtos derivados de cânhamo consumidos no Brasil são importados, inclusive para o mercado de cannabis medicinal, estimado em R$ 1 bilhão já em 2025. A produção nacional poderia reduzir custos, baratear tratamentos e abrir espaço para excedentes exportáveis.

A nova fronteira agrícola

A pesquisadora Daniela Bittencourt, da Embrapa Recursos Genéticos, foi enfática ao afirmar que o cânhamo pode representar para o Brasil o mesmo salto dado com a soja há cinco décadas. “Nós acreditamos que o cânhamo pode ser para o Brasil o que a soja foi há 50 anos, a próxima grande revolução agrícola”, destacou. Países como China, Estados Unidos, Canadá e França já avançam rapidamente nesse setor, enquanto o Brasil aguarda a definição regulatória que poderá destravar esse mercado promissor.

Perspectiva global

O mercado mundial de derivados do cânhamo foi estimado entre US$ 5 bilhões e US$ 7 bilhões em 2023, com expectativa de crescimento anual entre 16% e 25% até 2033. Caso consiga regulamentar e estruturar sua cadeia produtiva, o Brasil tem todas as condições de se tornar um dos principais players internacionais, unindo escala agrícola, capacidade de exportação e inovação industrial.

A cannabis industrial, portanto, deixa de ser apenas uma promessa distante e se firma como uma das maiores oportunidades para o agronegócio brasileiro no curto e médio prazo. Se confirmada a regulamentação ampla, o cânhamo poderá de fato consolidar-se como a “nova soja”, transformando a economia rural e ampliando o protagonismo do país no cenário global.

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As informações foram divulgadas pelo Estadão Conteúdo e pela Embrapa.

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