Quatro vezes mais lucro que o gado: o negócio verde que promete transformar o campo brasileiro

Restauração florestal e mercado de carbono atraem investidores e já superam a rentabilidade da pecuária extensiva – quatro vezes mais lucro que o gado – em diversas regiões do país

O Brasil começa a assistir a uma mudança silenciosa no uso da terra rural — e ela pode redefinir o futuro econômico do campo. Estudos e experiências práticas mostram que reflorestar áreas degradadas já pode gerar lucros até quatro vezes superiores à pecuária extensiva, impulsionando o nascimento de um novo mercado: o da economia verde baseada em créditos de carbono.

A virada econômica do reflorestamento

Uma pesquisa conduzida por especialistas do Instituto de Geociências da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) avaliou o potencial financeiro da restauração de áreas degradadas na região da Serra do Brigadeiro, na Zona da Mata Mineira.

O estudo projetou cenários até 2050, combinando modelagem ambiental e análise econômica dos ganhos advindos da venda de créditos de carbono. O resultado foi surpreendente: a renda obtida com reflorestamento pode ser até quatro vezes maior do que a da pecuária tradicional.

Enquanto o uso da terra para pastagens rende cerca de US$ 280 mil anuais, a restauração florestal pode gerar até US$ 1 milhão por hectare ao ano. Em áreas consideradas prioritárias, o lucro pode chegar a US$ 3,7 milhões anuais, segundo o levantamento. Essa diferença é explicada pela crescente demanda global por compensações de carbono, em que empresas e governos remuneram projetos que capturam e estocam CO₂ da atmosfera.

Além do ganho direto, a restauração oferece benefícios ambientais acumulativos — como recuperação de nascentes, aumento da biodiversidade e regulação climática — que, por sua vez, podem ser convertidos em novas fontes de receita por meio dos Pagamentos por Serviços Ambientais (PSA).

O modelo de negócios que já atrai gigantes globais

A teoria acadêmica já encontrou eco no setor privado. Empresas como a Re.green, fundada por nomes como Bernardo Strassburg e João Moreira Salles, vêm provando na prática que reflorestar pode ser um negócio altamente lucrativo. A companhia, que restaura ecossistemas na Amazônia e na Mata Atlântica, já possui 37 mil hectares em projetos ativos e planeja alcançar 1 milhão de hectares nos próximos anos.

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Foto: Divulgação / IBF

Segundo o CEO da Re.green, Thiago Picolo, o setor deixou de ser apenas uma aposta ambiental para se tornar um ativo financeiro competitivo:

“Nossa atividade já gera uma rentabilidade melhor que a pecuária extensiva e é competitiva com culturas como o eucalipto”, afirmou em entrevista à Folha de S.Paulo.

Entre os clientes da empresa estão gigantes como a Microsoft, que contratou a restauração de 35 mil hectares — o equivalente a quase quatro vezes o tamanho da cidade de Paris — como parte de seu programa de neutralização de carbono.

O modelo adotado combina compra e arrendamento de terras de produtores rurais. “Chegamos ao pecuarista e mostramos que ele pode ganhar mais arrendando áreas improdutivas e ainda aumentar a produtividade do restante da fazenda”, explica Picolo. Assim, o produtor mantém a atividade pecuária em menor área, mas com receita extra do carbono.

Investimento verde e capital internacional

O novo negócio vem chamando atenção do mercado financeiro. Fundos como o Gávea Investimentos, de Arminio Fraga, e a Lanx Capital já participam da Re.green, que estuda abrir capital na bolsa, mirando ser a primeira empresa brasileira de restauração florestal listada.
“É um sonho que temos e estamos trabalhando para isso”, disse o CEO, que também é finalista do Earthshot Prize, premiação criada pelo príncipe William para reconhecer soluções ambientais inovadoras.

A tendência já movimenta concorrentes. O Projeto Biomas, apoiado por gigantes como Suzano, Vale, Itaú, Santander, Marfrig e Rabobank, é outro exemplo de como a restauração ecológica virou negócio de grandes corporações. Com a Lei do Mercado de Carbono, sancionada em 2024, e a expectativa da COP30, o interesse de investidores deve crescer ainda mais.

A fronteira verde do agronegócio

Especialistas apontam que o Brasil tem uma vantagem competitiva única nesse novo ciclo: vastas áreas degradadas, clima favorável e grande biodiversidade — condições ideais para liderar o mercado global de créditos de carbono. Apenas na Zona da Mata mineira, o estudo da UFMG identificou 5.801 hectares prioritários para restauração.

Mais do que um projeto ambiental, o reflorestamento se apresenta como nova fronteira de riqueza para o agronegócio brasileiro, capaz de unir lucro e sustentabilidade. Com o avanço das políticas de descarbonização e a valorização internacional dos créditos ambientais, o “negócio verde” promete transformar o campo em uma potência econômica limpa e renovável — onde cada árvore pode valer mais do que uma cabeça de gado.

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