Queda generalizada do preço da soja no mundo pede que agricultor tirar o pé

Os preços da soja estão em queda generalizada nos mercados internacional e doméstico; entidade pede para agricultor ‘tirar o pé’ e cita apagão de armazenagem

A queda no preço do grão em maio de 2023 foi a maior entre os meses de maio ao longo da série de 10 anos, alcançando quase 30,0% frente a 2022. Algo que tem impactado e preocupado os produtores agrícolas da região, e toda a cadeia produtiva nacional, é a redução considerável do preço de comercialização da soja. De acordo com o gerente-regional da Emater-RS/Ascar, Luciano Schwerz, a média de preço da saca de soja, hoje na região, é de R$ 126, algo que no início de 2022 chegou a ser comercializada a R$ 204.

Segundo a Esalq/Cepea o onfraquecimento da demanda externa também pesou sobre as cotações, visto que consumidores globais estão postergando as aquisições, na expectativa de adquirir lotes a preços menores nas próximas semanas.

Os valores da soja estão em baixa nos mercados interno e externo, pressionados pela finalização da colheita no Brasil e pelas condições climáticas favoráveis à semeadura da oleaginosa no Hemisfério Norte.

De acordo com levantamento do Cepea, o enfraquecimento da demanda externa também pesou sobre as cotações, visto que consumidores globais estão postergando as aquisições, na expectativa de adquirir lotes a preços menores nas próximas semanas.

Esses agentes estão fundamentados na ampla oferta mundial da oleaginosa, prevista pelo USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) a 410,58 milhões de toneladas na temporada 2023/24, um novo recorde e 10,8% superior às 370,4 milhões de toneladas projetadas para a safra atual (2022/23).

Um dos fatores que tem impactado essa queda nos preços do grão brasileiro é a redução da demanda pelo principal comprador. A China tem reduzido o uso do farelo de soja na produção de ração, comprando menos do Brasil, impactando negativamente os produtores brasileiros, que neste ano, tiveram a maior safra do grão da história.

“Sempre que houver uma ampliação da oferta em níveis proporcionalmente superiores à ampliação da demanda, ou quando houver pressão para redução na taxa de câmbio, os preços pagos aos produtores rurais passam a ser pressionados para baixo” – destaca também o economista e chefe do Departamento de Ciências Econômicas da UFSM de Palmeira das Missões, professor-doutor Nilson Luiz Costa.

Entidade se posiciona

A queda nos preços é uma preocupação, segundo o diretor-executivo da Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja Brasil), Fabrício Morais Rosa, vista tanto na soja quanto no milho. O diretor-executivo pontua que ao se olhar para o panorama macroeconômico internacional a tendência é uma desvalorização do dólar, o que internamente para o Brasil é um “problema”.

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Foto: Divulgação

Outro que também usou as redes sociais para comentar o atual momento foi o Presidente da Aprosoja – Mato Grosso, Fernando Cadore. Em vídeo publicado nesta sexta-feira (19) alerta produtores sobre o cenário atual dos preços da soja, fala sobre a rentabilidade, custos de insumos e principalmente com a situação atual da oleaginosa.

Ele diz que o principal ‘insumo’ é a viabilidade, e que também é hora de tirar o pé, frear e olhar para a matemática da Agricultura para que haja resultado financeiro. “Vivemos um momento em os preços [do grão] estão baixos e sem dúvida nenhuma a rentabilidade está em risco.” – Fernando também diz que a associação está à disposição dos produtores.

Cadore pede que o atual governo entenda que o problema de armazenagem é de ordem de soberania nacional, e também políticas públicas que tragam referência de preço para que a atividade não fique inviabilizada. “Lembrando que quando a agricultura e a pecuária vai mal invariavelmente essa queda na arrecadação sai do comércio, serviços, supermercado, enfim, todos perdemos quando o agro vai mal.”

Além da oferta e procura, outros pontos nivelam o preço pago aos produtores. De acordo com o economista Nilson Costa, os principais fatores que definem o preço da soja são as cotações futuras em Chicago: a bolsa de valores mais antiga do mundo que nivela os preços internacionais de compra e venda; a taxa de câmbio, que é a relação entre moedas de dois países diferentes resultando em seu preço em comparação à outra; e o prêmio de exportação, relação do preço aplicado na praça (na região) com o preço internacional, podendo ser positivo ou negativo, que também tem influência da taxa cambial.

O mercado da soja é muito dinâmico, pois tanto a taxa de câmbio quanto as cotações da soja em Chicago são voláteis. Neste momento, em Chicago, as cotações seguem pressionadas para baixo em razão das boas condições para plantio nos EUA e pelos bons números desta última safra na América do Sul, principalmente no Brasil.

“Do mesmo modo, os níveis elevados na taxa básica de juros (Selic) e as boas expectativas de aprovação do Projeto de Lei que disciplina os gastos públicos e o equilíbrio fiscal no Brasil pressionam a taxa de câmbio para baixo. Portanto, a olhar pelas cotações internacionais e pela taxa de câmbio, neste momento, não existe uma tendência de elevação no preço pago ao produtor. Por outro lado, existe um movimento característico no comportamento de venda de soja, pelo produtor rural, que é faturar grande parte da produção para pagar as dívidas de custeio, entre os meses de abril e maio. Em função disso, nestes meses, existe uma pressão de oferta que naturalmente dificulta a manutenção de cotações em níveis mais elevados” – destaca o economista.

Alta da taxa Selic dificulta o bom rendimento do produtor

Ainda, segundo o economista, as condições macroeconômicas, principalmente a alta taxa de juros Selic atual impacta o produtor rural. “Isto impacta o produtor de duas formas: a) pressiona a taxa de câmbio para baixo, o que resulta em pressão baixista no preço da soja e, b) amplia os juros do crédito rural. Portanto, é um momento para pensar com muita cautela e não se arriscar muito, pois a volatilidade pode resultar em prejuízos”, finaliza Costa.

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