Queda nos preços do leite: hora de abandonar a produção?

Os últimos levantamentos setoriais mostram que a participação dos pequenos produtores no volume total de leite produzido no País tem, de fato, diminuído.

Ser um pequeno produtor de leite não é tarefa fácil. Gerenciar a fazenda, cuidar da saúde dos animais, administrar custos e ainda acompanhar as constantes oscilações no preço do leite, de fato, requerem do produtor uma boa gestão e suporte. Além disso, é preciso acompanhar as expectativas para a economia e conhecer os princípios básicos sobre o comportamento do setor no Brasil. 

Os últimos levantamentos setoriais mostram que a participação dos pequenos produtores no volume total de leite produzido no País tem, de fato, diminuído. No entanto, é importante destacar que cerca de 90% dos produtores de leite no Brasil produzem menos de 1000 litros por dia. Ou seja, mesmo com volumes pequenos, estes produtores são grandes representantes deste segmento.

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Infelizmente, é possível notar que, em momentos de queda nos preços e aumento nos custos, muitos produtores optam por interromper a produção e buscam outras alternativas de renda. Em algumas regiões do nosso País, este movimento é nítido. É fácil identificar um produtor que arrendou a fazenda para plantio de outros produtos, como soja ou milho, dependendo da época do ano.

Porém, antes de deixar de lado a produção leiteira, é preciso estar ciente que tanto os momentos de alta como de baixa de preços não vão durar para sempre. Em poucos meses, o que estava em queda pode voltar a ser rentável. 

Se avaliarmos o preço do leite nos últimos anos, por exemplo, vamos ver um verdadeiro sobe e desce. Depois de atingir o pico de R$ 3,57 o litro (média Brasil) em julho de 2022, o preço caiu para R$ 1,97 em outubro de 2023. No ano passado, a demanda voltou a subir e os preços se recuperaram, chegando novamente a R$ 2,87 em setembro. 

Quando o preço sobe, é possível percebermos mais interesse dos produtores. Este interesse se reverte, automaticamente, em aumento da produção, como vimos no ano passado. Porém, neste ponto, temos mais um fator sobre a segmento que não podemos esquecer. O setor leiteiro no Brasil não é exportador. Ou seja, toda a nossa produção fica no mercado interno. 

De forma muito simples, podemos dizer que, para que os preços sejam sustentáveis e permaneçam no patamar desejado, é preciso de um certo equilíbrio entre oferta e demanda. Mas, se a economia não cresce como o esperado e o consumo de leite internamente diminuiu, aquele aumento de produção vai impactar de forma negativa no preço. Com a oferta maior que a demanda, o preço tende a cair e provoca, novamente, a falta de interesse do pequeno produtor. É um ciclo que se repete de tempos em tempos.

No começo deste ano, percebemos a queda nos preços refletindo exatamente uma redução demanda interna. Este recuo, no entanto, veio associado a um aumento nos custos gerais da produção, complicando um pouco mais a situação do produtor. 

Em momentos como este, cuidar da gestão da fazenda, dos custos envolvidos, buscar alternativas de insumos com a mesma qualidade e preços mais acessíveis são as principais ferramentas que podem ajudar o produtor. Abandonar a produção não deve ser uma alternativa. A alternativa é gerenciar custos e receitas.

Além de investimentos que visam melhorar a qualidade do produto final, os principais custos dos produtores estão relacionados à alimentação dos animais, aos medicamentos e vacinas, aos custos com manutenção, higiene e desinfecção, além de transporte e energia por conta do armazenamento. 

Para uma gestão mais eficaz, o principal ponto é avaliar cada um destes itens cuidadosamente. Em alguns pontos, para reduzir custos, será necessário investir em modernização ou automação, como no que se refere aos gastos com energia, por exemplo. Neste caso, as economias virão no longo médio e longo prazo. Já outros itens podem ter efeitos imediatos.

O que se sabe é que, em algum momento, o mercado vai mudar de direção. A demanda pode voltar a crescer e os preços do litro podem voltar a subir. Independentemente do cenário, o negócio vai continuar. Se a lição de casa for bem feita, seja em tempos de baixa ou de alta, a propriedade estará pronta. A boa gestão não é momentânea. Ela é a garantia de um negócio duradouro e rentável no longo prazo.

*Leonardo Peres é médico veterinário e Gerente Regional da Chemitec Agro-Veterinária

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ℹ️ Conteúdo publicado por Myllena Seifarth sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira

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