
Enquanto o preço da soja é definido em bolsas internacionais, como a de Chicago, o mercado da carne bovina no Brasil segue uma lógica bem diferente. Pecuarista Paulo Leonel, responde a pergunta: “Quem realmente manda no preço do boi gordo?”
O preço da arroba do boi gordo — referência máxima para o mercado pecuário brasileiro — voltou a ser tema de debate entre especialistas e produtores. No episódio mais recente do MFCast, podcast do MFRural, a discussão foi colocada de forma direta: “Quem realmente manda no preço da arroba do boi: o mercado, o varejo ou o frigorífico?” A resposta, segundo o pecuarista Paulo Leonel, da Nelore Adir, veio sem rodeios: “são os frigoríficos.”
Segundo Leonel, enquanto o preço da soja é definido em bolsas internacionais, como a de Chicago, o mercado da carne bovina no Brasil segue uma lógica bem diferente. “O setor é altamente concentrado nas mãos de poucos grandes frigoríficos, que acabam ditando os valores pagos ao produtor”, explicou.
Essa concentração dá a essas empresas o poder de influenciar diretamente os ciclos de alta e baixa, equilibrando seus estoques e margens conforme as condições do mercado — algo que o produtor individual dificilmente consegue fazer.
O papel dos frigoríficos e o impacto no campo
Paulo Leonel fez questão de destacar que não se trata de uma crítica ao papel dos frigoríficos, mas de uma constatação de realidade. “Eles cumprem sua função estratégica dentro da cadeia, garantindo o escoamento da produção e a exportação da carne brasileira. O problema é que, nessa estrutura, tanto o produtor quanto o varejo acabam reféns de um sistema onde poucos controlam o preço”, disse.
A fala do criador reflete uma preocupação antiga dos pecuaristas: a falta de transparência na formação do preço da arroba. Diferente de commodities agrícolas como milho e soja, cujo valor é determinado por mercados abertos, a carne bovina depende de negociações diretas entre produtores e frigoríficos — e, muitas vezes, o poder de barganha pesa para o lado das grandes indústrias.
Boi gordo: Uma cadeia complexa e desequilibrada
A cadeia da carne é composta por três grandes elos: produtor, frigorífico e varejo. No entanto, o equilíbrio entre eles é frágil. Quando o consumo interno cai ou as exportações desaceleram, os frigoríficos reduzem as compras e os preços pagos ao pecuarista caem rapidamente. Já quando o mercado reage, os repasses ao produtor são mais lentos, o que gera insatisfação e sensação de injustiça.
Especialistas lembram que o mercado da carne bovina é um dos mais estratégicos do agronegócio brasileiro, movimentando mais de R$ 800 bilhões por ano e sendo responsável por grande parte das exportações agropecuárias. No entanto, a concentração de poder nas mãos de poucos grupos — como JBS, BRF, Frigol e Minerva Foods — faz com que a livre concorrência seja limitada, criando distorções nos preços e na rentabilidade do produtor.
Caminhos possíveis e o futuro da pecuária
O debate levantado pelo MFCast traz à tona uma reflexão necessária: como construir uma cadeia mais equilibrada e justa? Entre as soluções discutidas por analistas estão o incentivo à transparência de mercado, o fortalecimento das associações de produtores e o avanço de tecnologias de rastreabilidade e comercialização digital, que podem reduzir a dependência dos grandes compradores.
Para Paulo Leonel, o futuro da pecuária brasileira depende de organização e união do setor produtivo. “Enquanto o produtor continuar vendendo de forma individual, ele sempre estará em desvantagem. É preciso pensar de forma coletiva, buscar dados, informação e alternativas de comercialização”, afirmou.
Mais do que um debate sobre preços, a discussão evidencia o desafio de um setor que representa a força do agro brasileiro, mas que ainda busca encontrar equilíbrio entre produtividade, competitividade e justiça econômica dentro da própria cadeia.
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