Raças de corte: Por que o Nelore reina no Brasil, mas perde espaço no Sul?

O contraste da pecuária brasileira: Nelore no Centro-Norte e Angus no Sul; entenda a diferença de raças de corte que são separadas pelo geografia do Brasil

O Brasil se tornou um dos países com maior diversidade de raças bovinas de corte do mundo, resultado de séculos de adaptação e escolhas estratégicas dos pecuaristas. No início do século XX, exploradores brasileiros foram até a Índia em busca do zebu, que se tornaria a base da pecuária nacional pela sua impressionante rusticidade.

Ao mesmo tempo, diversas raças europeias foram introduzidas, trazidas por imigrantes que trouxeram consigo a tradição de manejo e genética já consagrada em seus países de origem. Essa combinação de zebuínos e taurinos moldou a pluralidade do rebanho brasileiro, capaz de atender desde a produção em escala até os nichos de carnes premium.

O país é o maior exportador mundial de carne bovina e, dentro do território nacional, cada região possui características próprias que influenciam diretamente na escolha das raças criadas. Enquanto o Nelore domina amplamente o cenário nacional, no Sul do país outras raças europeias e cruzamentos se destacam, como Angus, Brangus, Braford, Hereford, Simental, Limousin, Devon e Charolês.

Além do Nelore, o Brasil também conta com outros zebuínos de grande importância, como o Guzerá, Sindi, Tabapuã e Indubrasil, que possuem polos expressivos de criadores em diferentes regiões do país. Essas raças, cada uma com suas particularidades, contribuem para a diversidade genética da pecuária nacional, oferecendo alternativas tanto para produção de carne quanto de leite, e reforçando o protagonismo do sangue zebuíno no rebanho brasileiro.

Touro Nelore CEN 6039 SOLUTO - fotao
Foto: Nelore CEN / Rurally

O domínio do Nelore no Brasil

O Nelore, raça de origem indiana, representa mais de 80% do rebanho bovino brasileiro. Seu sucesso está ligado a características fundamentais para o clima tropical:

  • Alta rusticidade: suporta temperaturas elevadas e longos períodos de seca;
  • Resistência a parasitas como carrapatos e moscas;
  • Adaptação ao pasto: se desenvolve bem em áreas de pastagens naturais, mesmo em condições de menor qualidade;
  • Boa capacidade reprodutiva: vacas Nelore têm alta taxa de prenhez e longevidade produtiva.

Além dessas vantagens produtivas, o Nelore desempenhou um papel crucial na ocupação pecuária do Centro-Oeste brasileiro no século XX. Graças à sua rusticidade, foi a raça que viabilizou a expansão da pecuária em áreas de cerrado, com clima severo e longas distâncias, onde outras raças não resistiriam. Por isso, o Nelore é lembrado como a raça que ajudou a desbravar e consolidar a pecuária no coração do Brasil.

Touros da raca Braford - Fazenda Espinilho - Pitangueira fotao
Foto: Pitangueira

O Sul: clima frio, tradição europeia e raças adaptadas

No Sul do Brasil, o cenário é bem diferente. O clima mais frio e úmido, aliado às características das pastagens da região, favoreceu a criação de raças de origem europeia. Mas não só o ambiente explica essa preferência: a forte presença de imigrantes europeus — sobretudo italianos, alemães e portugueses — trouxe também a tradição de manejo e a escolha de raças que já eram conhecidas em seus países de origem.

Entre as principais estão:

  • Angus: carne macia e marmorizada, muito valorizada pelo mercado premium;
  • Brangus: cruzamento de Angus com Nelore, une rusticidade tropical com qualidade de carne;
  • Braford e Hereford: britânicas, adaptaram-se bem aos campos sulinos;
  • Devon: valorizada pela precocidade e tradição histórica;
  • Charolês: de origem francesa, destaca-se pelo grande porte, ganho de peso e rendimento de carcaça.
touro canchim invicto - crv lagoa
Foto: Divulgação

As raças sintéticas: união de força e qualidade

Além das raças zebuínas e taurinas tradicionais, o Brasil também se destaca no desenvolvimento e uso de raças sintéticas — fruto do cruzamento entre o sangue zebu (Bos indicus) e os taurinos (Bos taurus). Esse modelo busca unir a rusticidade e adaptabilidade do Nelore com a precocidade e qualidade de carne dos europeus.

Um exemplo emblemático é o Canchim, desenvolvido pela Embrapa Pecuária Sudeste na década de 1960. Criado a partir do Charolês e do Nelore, o Canchim se consolidou como uma raça versátil, aproveitada tanto em sistemas intensivos no Sul quanto em condições tropicais de outras regiões do Brasil. Seu desempenho em ganho de peso, rendimento de carcaça e qualidade de carne o tornaram uma opção estratégica para diversificar a pecuária nacional.

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Foto: Gabriel Oliveira

Carne de qualidade e mercado diferenciado

Além da adaptação ao frio, as raças taurinas e seus cruzamentos oferecem carcaças com maior acabamento de gordura e cortes com marmoreio superior, características muito demandadas por consumidores exigentes. Programas de certificação, como a Carne Angus Certificada, transformaram a região Sul em referência em carne premium, garantindo preços melhores e diferenciação de mercado.

Um país, dois perfis de pecuária

O contraste entre o Nelore do Centro-Norte, as raças europeias do Sul e as raças sintéticas presentes em todo o país ilustra a diversidade da pecuária nacional. Enquanto o Nelore sustenta a produção em larga escala e o abastecimento da exportação, as raças taurinas consolidam o Sul como polo de carnes nobres, e as sintéticas equilibram rusticidade com qualidade.

Essa diversidade é estratégica: garante ao Brasil a capacidade de atender desde mercados de grande volume até nichos de alta exigência, fortalecendo ainda mais a posição do país como potência global na pecuária de corte.

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