Recuperação judicial no Agro sobe 32% no 2º trimestre ante 2024, aponta Serasa Experian

Produtores rurais que atuam como pessoa jurídica lideram os pedidos de recuperação judicial no Agro pela primeira vez; setor de processamento de agroderivados é o mais afetado

O agronegócio brasileiro registrou um salto de 31,7% nos pedidos de recuperação judicial no segundo trimestre de 2025, segundo dados do Indicador de Recuperação Judicial Agro da Serasa Experian. Foram 565 solicitações entre abril e junho deste ano, contra 429 no mesmo período de 2024, revelando uma tendência de instabilidade financeira que atinge diferentes elos da cadeia produtiva, de produtores rurais a agroindústrias.

Um dos principais destaques do levantamento é a mudança no perfil dos solicitantes. Pela primeira vez desde o fim de 2023, os produtores rurais que atuam como pessoa jurídica (PJ) superaram os pedidos feitos por pessoas físicas (PF). Foram 243 solicitações de PJ, quase o dobro do registrado em 2024 (121), enquanto os produtores PF somaram 220 pedidos, levemente acima das 214 solicitações do ano anterior.

Segundo Marcelo Pimenta, head de Agronegócio da Serasa Experian, o dado surpreende:

“Produtores que atuam como PJ, geralmente com maior porte e organização, registraram mais recuperações judiciais que pessoas físicas. Estamos avaliando se houve represamento de pedidos ou mudança no perfil de endividamento.”

Entre os produtores PJ, os sojicultores lideraram os pedidos, com 192 recuperações judiciais, seguidos pelos criadores de bovinos, com 26 solicitações.

O levantamento aponta que grandes proprietários concentraram a maioria das solicitações (55), seguidos pelos médios (43) e pequenos produtores (39). Também houve destaque para arrendatários e grupos econômicos ou familiares, responsáveis por 83 pedidos — o que reforça a amplitude da crise e o impacto sobre diferentes perfis de produtores.

Empresas do agro também enfrentam dificuldades

O estudo identificou 102 pedidos de recuperação judicial entre empresas do setor agro, o maior volume recente, superando as 94 solicitações do mesmo trimestre de 2024.

O segmento de processamento de agroderivados, que inclui óleo e farelo de soja, açúcar, etanol e laticínios, foi o mais afetado, com 32 pedidos. Na sequência aparecem a agroindústria da transformação primária (22) e o comércio atacadista de produtos agropecuários primários (18).

Estados com maior incidência de pedidos de recuperação judicial no Agro

Os estados de Goiás e Mato Grosso lideraram o número de solicitações dentro da cadeia agro, evidenciando a pressão sobre regiões com forte concentração de grandes produtores e agroindústrias.

Indicadores apontam riscos previsíveis

A Serasa Experian destaca que o aumento das recuperações judiciais poderia ser mitigado com análises preditivas. O Agro Score, ferramenta da empresa voltada para avaliação de risco de crédito no setor, permite detectar sinais de fragilidade financeira meses antes do ingresso com pedido judicial.

De acordo com o estudo, era possível identificar três anos antes da solicitação que os produtores que recorreriam à recuperação apresentavam Agro Score inferior aos demais.

“O uso de modelos preditivos oferece aos credores informações essenciais para decisões mais seguras e evita financiamentos a agentes em situação de vulnerabilidade”, reforça Pimenta.

Contexto e metodologia

O levantamento considera dados mensais registrados nos tribunais de justiça de todos os estados, contemplando proprietários rurais, arrendatários, empresas e grupos familiares da cadeia agro com Classificação Nacional de Atividade Econômica (CNAE) vinculada ao setor. As análises são feitas com base na unidade federativa do cadastro do demandante.

Impactos e perspectivas

O avanço dos pedidos de recuperação judicial revela um cenário de pressão financeira no campo, provocado por fatores como oscilações de preços, custos de produção elevados, endividamento e variações climáticas. O uso de ferramentas tecnológicas de análise de crédito é apontado como estratégia crucial para evitar colapsos e promover sustentabilidade financeira no agronegócio.

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