
A brucelose bovina é uma doença que compromete reprodução, contamina humanos e impõe perdas de até R$ 1 bilhão por ano. Reforço vacinal e medidas de biosseguridade são chaves para conter o avanço nos rebanhos.
A brucelose bovina, doença silenciosa e persistente, ainda representa um dos maiores desafios sanitários da pecuária nacional, com prejuízos econômicos que giram em torno de R$ 1 bilhão anuais. Além dos impactos produtivos, a enfermidade também ameaça a saúde humana, pois é considerada uma zoonose — ou seja, pode ser transmitida dos animais para as pessoas.
Causada pela bactéria Brucella abortus, a infecção compromete principalmente o sistema reprodutivo de bovinos, resultando em abortos, infertilidade e queda na produtividade de leite e bezerros. A doença se espalha por contato com secreções, restos placentários, urina, leite e sangue de animais infectados, além da transmissão venérea em alguns casos.
Impactos diretos no rebanho e no bolso do produtor
De acordo com o médico-veterinário Daniel Rodrigues, gerente técnico de Ruminantes da MSD Saúde Animal, a brucelose afeta tanto rebanhos de leite quanto de corte. Um dos prejuízos mais recorrentes ocorre na reta final da gestação, quando o aborto compromete os investimentos feitos em genética, nutrição e manejo reprodutivo. Em muitos casos, uma única vaca perdida pode representar a quebra de rentabilidade de todo o ciclo.
“Quando a gestação está avançada e o aborto acontece, todo o planejamento do produtor é afetado. Isso reduz a eficiência da fazenda, impacta o número de bezerros nascidos e, no caso da pecuária leiteira, reduz o volume de leite produzido”, explica Rodrigues.
Vacinação obrigatória contra brucelose e reforço com a RB51: mais proteção ao rebanho
A vacinação de bezerras contra a brucelose é obrigatória no Brasil desde 2001, conforme determina o Programa Nacional de Controle e Erradicação da Brucelose e Tuberculose Animal (PNCEBT), coordenado pelo Ministério da Agricultura. A aplicação da vacina B19, feita em fêmeas de três a oito meses de idade, continua sendo a base da prevenção. No entanto, a revacinação com a vacina RB51 vem se consolidando como estratégia complementar eficaz.
A RB51 pode ser utilizada em bezerras na mesma faixa etária da B19, mas também tem autorização para uso em fêmeas adultas, permitindo uma cobertura mais ampla e prolongada, sobretudo em rebanhos que não foram imunizados corretamente no passado. Estudos indicam que esse reforço eleva a resposta imune e reduz significativamente os índices de animais soropositivos.
Biosseguridade: a outra metade da prevenção
A eficácia da vacinação, no entanto, depende diretamente de práticas rígidas de biosseguridade nas propriedades. A entrada de animais sem histórico sanitário conhecido é uma das principais portas de entrada da brucelose nas fazendas. Por isso, Rodrigues recomenda:
- Exigir exames negativos no momento da aquisição de novos animais;
- Realizar quarentena de, no mínimo, 30 dias, para observação e testagem;
- Evitar o contato direto com secreções ou fetos abortados sem uso de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs);
- Reforçar a limpeza e desinfecção de currais, salas de ordenha e equipamentos.
Além disso, animais diagnosticados com brucelose devem ser sacrificados, conforme prevê a legislação sanitária, para evitar a permanência da bactéria no ambiente.
Alerta à saúde pública: brucelose bovina também atinge humanos
O perigo da brucelose bovina vai além do campo. Por ser zoonose, a doença pode infectar humanos por meio do consumo de leite cru, derivados não pasteurizados e carne contaminada, ou ainda por contato direto com secreções de animais infectados. Trabalhadores rurais, veterinários, inseminadores e tratadores estão entre os mais expostos.
Para a população em geral, a principal medida preventiva é consumir apenas leite pasteurizado ou fervido e carne com inspeção sanitária. No campo, a recomendação é clara: uso obrigatório de EPIs, como luvas, aventais, óculos de proteção e botas de borracha durante o manejo reprodutivo e sanitário.
Conclusão: revacinação como parte de uma estratégia nacional
Diante dos altos custos econômicos e riscos à saúde pública, a revacinação com a RB51 surge como ferramenta indispensável na proteção do rebanho e no avanço do controle da brucelose no Brasil. Aliada a práticas de biossegurança e ao manejo sanitário correto, ela pode evitar prejuízos milionários ao produtor e contribuir para uma pecuária mais saudável e sustentável.
Fontes: MSD Saúde Animal, Programa Nacional de Controle e Erradicação da Brucelose e Tuberculose Animal (PNCEBT), Canal Rural.
Quer ficar por dentro do agronegócio brasileiro e receber as principais notícias do setor em primeira mão? Para isso é só entrar em nosso grupo do WhatsApp (clique aqui) ou Telegram (clique aqui). Você também pode assinar nosso feed pelo Google Notícias.