Safra de grãos pode ser a mais cara da história; Alerta!

A disparada nos preços dos insumos, tendo como vilões do aumento os custos com fertilizante, defensivo e o combustível, poderão fazer a safra ser a mais cara da história!

Produtor rural há dez anos, Fabrício Maestrello pela primeira vez vai reduzir a área plantada com soja na safra a ser semeada em setembro. Dos cerca de 2,9 mil hectares que normalmente cultiva na região de Paranacity, no noroeste do Paraná, ele vai plantar a metade. O motivo do corte foi a alta de preços dos insumos. “O aumento foi muito superior à valorização do grão, é um negócio em que você entra devendo”, afirma.

Os três vilões da alta de custos, segundo o produtor, são o fertilizante, o defensivo e o combustível. Neste ano, Maestrello desembolsou R$ 6,2 mil pela tonelada de adubo, 120% a mais do que na última safra. Pelo litro do herbicida, pagou R$ 90, quatro vezes o que gastou em 2021.

Isso sem falar no diesel usado nos tratores. “Custava R$ 4 e pouco o litro e agora está quase R$ 7.” No período, a soja no mercado futuro subiu cerca de 40%.

Recorde de safra indesejado

A forte pressão de custos dos insumos enfrentada por Maestrello é a realidade dos agricultores brasileiros que vão plantar a safra mais cara da história, apontam levantamentos de várias instituições. A guerra entre a Ucrânia e a Rússia, esta última um dos principais exportadores de adubos para o Brasil, e a crise energética e logística da China, onde estão as fábricas de defensivos, além da alta do diesel, levaram os preços de insumos às alturas.

Pressões de custos dos grãos soam como um sinal de alerta para uma inflação de alimentos “encomendada”, que pode se concretizar em 2023 ou não, a depender da situação do mercado na hora da comercialização da safra.

Onde o problema é maior

Nas contas da Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), o gasto médio no país para produzir um hectare este ano deve crescer 45% para a soja e aumentar quase 50% para o milho em relação ao ano anterior. “Pode ser que o custo seja ainda maior”, frisa Maciel Silva, coordenador de Produção Agrícola da CNA. É que, neste momento, nem todos os insumos foram comprados e, portanto, estão sujeitos a altas de preços, diz.

“Pode ser que o custo seja ainda maior”, frisa Maciel Silva, coordenador de Produção Agrícola da CNA.

No entanto, o aumento de custos em regiões específicas e consolidadas na produção de grãos supera a média nacional calculada pela CNA. A alta dos gastos com insumos para a próxima safra de soja varia entre 60% e 70% no norte do Paraná e em Mato Grosso em relação à anterior, apontam, respectivamente, a cooperativa Cocamar, de Maringá (PR), e o Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea).

Aumento de mais de 350% no preço dos fertilizantes

O preço dos principais fertilizantes teve um reajuste de mais de 350%, saindo de uma média de 350 dólares por tonelada, na safra passada, para 1,3 mil dólares por toneladas na safra deste ano, um percentual de reajuste que, segundo a Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja-MT).

“Sugerimos, nesta semana, à Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) que acione o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE), cobrando explicações das empresas sobre o reajuste no preço considerado pelo setor produtivo como “abusivo e inexplicável” ou mesmo como “formação de cartel”, ou seja, com intuito de gerar lucro às poucas indústrias que atuam no país”, afirma Cadore. 

Além do cloreto de potássio (KCL), que variou de 350 para 1,3 mil dólares por tonelada de uma safra para a outra, o fosfato monoamônico, conhecido pela sigla MAP, saiu de um média de preço de 480 dólares para 1,4 mil dólares por tonelada da safra anterior para a atual. Frente à situação, a Aprosoja-MT alerta que os valores atuais são “impraticáveis” e devem inviabilizar a produção agrícola no Brasil. 

“Precisamos que o CADE e a nossa bancada parlamentar nos ajudem a encontrar explicações, porque foi um reajuste de quase 4 vezes, que não se justifica pelo aumento no preço dos combustíveis, além disso, queremos compartilhar com as indústrias de fertilizantes as possíveis consequências de um desabastecimento mundial de alimentos”, afirma Cadore.

Compre Rural com informações do Estadão Conteúdo

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