Safra de milho da Argentina deve enfrentar mais cortes; entenda o motivo

“O milho está sendo muito afetado pela cigarrinha-do-milho e isso e gerando muita preocupação”; a praga antes concentrada em algumas regiões chegou em áreas onde nunca havia chegado antes

A produção de milho da safra Argentina, já cortada drasticamente devido ao aumento da incidência da cigarrinha do milho, “provavelmente” sofrerá ainda mais cortes, disse a Bolsa de Grãos de Rosario. “O milho está sendo muito afetado e isso e gerando muita preocupação”, disse à Reuters Cristian Russo, chefe de estimativas agrícolas da bolsa.” Praga até então fora do radar na última década, a cigarrinha-do-milho (Dalbulus maidis) tem tirado o sono dos produtores rurais e colocado especialistas em alerta permanente.

Russo disse que nas províncias do norte mais atingidas, como Chaco, Santiago del Estero e Tucumán, as perdas causadas pela praga variaram entre 40% e 50%, quando normalmente o número só chega a 5%, na pior das hipóteses. Acrescentou que casos graves de cigarrinhas, que prosperam em condições de alta temperatura e humidade, também estão a ser observados em regiões onde normalmente não aparecem, um comportamento estranho da natureza, que está causando grande prejuízo.

“Chegou a áreas onde nunca havia chegado antes, e pegou os técnicos e analistas de surpresa, atingiu com muita força o centro e o norte da província de Santa Fé e Córdoba e atingiu o núcleo agrícola da região”, disse Russo.

Infestação de cigarrinha-do-milho explode no Brasil

O Brasil também enfrenta problemas para controlar a cigarrinha-do-milho. Apenas na última safra, a infestação aumentou quase 200%, segundo dados de uma pesquisa apresentada pelo Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Vegetal. Houve, inclusive, relatos da captura de 400 insetos em armadilhas espalhadas pelas regiões produtoras de milho. Para efeito comparativo, apenas 15 unidades por planta já representariam uma densidade populacional capaz de dizimar até 80% da lavoura.

A maior preocupação é em relação ao que tem sido chamado de “ponte verde”; ela ocorre com a presença permanente de milho em diferentes estágios de desenvolvimento, além de plantas tigueras remanescentes de safras anteriores. “Houve região onde choveu muito e outras em que a seca se prolongou. Como resultado, teve milho safrinha plantado de forma precoce, áreas sendo formadas agora e outras que ainda serão semeadas, abrindo caminho para o avanço da praga”, analisa Bernardo Vieira, responsável pela Área Técnica de Controle Biológico da Rovensa Next Brasil.

O especialista adverte que a cigarrinha-do-milho consegue percorrer de 20km a 30 km e, quando utiliza uma corrente de vento, essa distância pode se tornar muitas vezes maior. “O controle é complexo porque falamos de uma praga dinâmica. Ela não fica no mesmo local por muito tempo e se alimenta de várias plantas num único dia. A cigarrinha que você encontra hoje é diferente daquela que você vai ver amanhã”, alerta. O prejuízo à produção advém da sucção da seiva e da transmissão de patógenos (molicutes – Phytoplasmas e Spiroplasma) responsáveis pelo enfezamento do milho.

Sob condições favoráveis, o inseto precisa de apenas 24 dias para completar seu ciclo de vida. Durante o período, uma fêmea é capaz de depositar mais de 600 ovos, de acordo com informações da Embrapa, e isso acontece dentro da folha, local de difícil acesso a produtos químicos. Por este motivo, ninfas e insetos adultos tornam-se os alvos principais. Os inseticidas mais utilizados na atualidade são à base de metomil, uma molécula altamente tóxica, com baixa seletividade para insetos não-alvos, com baixíssimo poder residual e que vem perdendo eficácia ano a ano.

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