
Produção da safrinha de milho deve chegar a 123 milhões de toneladas em 2024/25, impulsionada por clima favorável e alta produtividade. Setor comemora, mas se preocupa com escoamento e demanda internacional
A chamada “safrinha” de milho, que há décadas deixou de ser uma segunda safra complementar para se tornar protagonista no calendário agrícola brasileiro, alcança em 2024/25 um novo patamar histórico. De acordo com estimativa da Agroconsult, a produção deverá atingir impressionantes 123,3 milhões de toneladas, um volume 19,5% superior ao da safrinha passada e 10,5% acima do recorde anterior, registrado em 2022/23.
Esse marco consagra a consolidação da safrinha como peça-chave da produção agrícola brasileira, sendo hoje mais relevante em volume do que a safra de verão.
Clima e manejo impulsionam a produtividade na safrinha de milho
Segundo André Pessôa, presidente da Agroconsult, as excelentes condições climáticas foram o principal vetor para o desempenho excepcional. “Estamos diante da mãe de todas as safrinhas. A gente nunca viu nada parecido. Os produtores fizeram a lição de casa, São Pedro ajudou, e vamos colher uma safra gigantesca, muito acima da expectativa de qualquer um de nós”, afirmou.
O diferencial nesta temporada está na alta produtividade, não no aumento de área plantada, que permaneceu praticamente estável. A média nacional foi projetada em 113,8 sacas por hectare, representando uma alta de 13,1% em relação ao ciclo anterior, superando o recorde anterior de 106 sacas/ha.
Até mesmo as lavouras de plantio mais tardio, tradicionalmente menos produtivas, surpreenderam positivamente: 123 sacas/ha no Mato Grosso e 112 sacas/ha em Goiás, conforme explicou André Debastiani, sócio-diretor da Agroconsult.
Números da safrinha são impressionantes por estado
O destaque absoluto é o Mato Grosso, que sozinho deve colher 58 milhões de toneladas, com produtividade de 131,9 sacas/ha — número que supera a produção total da Argentina, estimada em 50 milhões de toneladas para este ano.
Outros estados também apresentaram desempenhos robustos:
- Goiás: 126,1 sacas/ha (+5,6%)
- Mato Grosso do Sul: 98,1 sacas/ha (+35,1%)
- Paraná: 106,5 sacas/ha (+16,5%)
Com isso, a produção total de milho no Brasil, somando safra de verão e safrinha, deve alcançar 150,3 milhões de toneladas em 2024/25.
Desafios após a colheita: escoamento e preços
Apesar dos números animadores, o setor enfrenta grandes desafios. Apenas um terço da produção foi comercializado até agora, segundo a Agroconsult. A preocupação gira em torno da capacidade logística para escoar o restante e da pressão sobre os preços, especialmente com a queda de valor da saca nas principais regiões produtoras — abaixo de R$ 40 em algumas praças do Mato Grosso.
No mercado interno, há expectativa de aumento de 10,4% na demanda, puxada pelas cadeias de rações animais e etanol de milho, chegando a 97 milhões de toneladas. Já as exportações podem subir 19%, atingindo 44,5 milhões de toneladas. Mesmo assim, a consultoria alerta que podem sobrar até 9 milhões de toneladas sem destino certo, dada a ausência da China, principal importador, e o enfraquecimento de compradores tradicionais como Irã e Egito.
Cautela para a próxima safra: crédito apertado e retorno do barter
Mesmo com a robustez da safra atual, o setor deve enfrentar restrições de crédito para o próximo ciclo. A taxa Selic alta, aliada ao endividamento acumulado por produtores que expandiram seus negócios na era dos juros baixos, deve impor uma nova realidade de ajuste financeiro.
Carlos Aguiar, diretor do agronegócio do Santander, destacou a tendência de retorno ao barter — a troca de produção futura por insumos — como alternativa à escassez de linhas bancárias. “Agora, o que espero para a próxima safra é os bancos e o mercado esticando prazos, e o fluxo de caixa sendo feito via barter”, afirmou.
A safrinha de milho deixou de ser coadjuvante para se tornar protagonista da agricultura brasileira. A safra recorde de 2024/25 reforça o papel estratégico do Brasil como grande fornecedor global de grãos, mas também acende o alerta para os gargalos logísticos, volatilidade dos preços e reestruturação do crédito agrícola.
Num país onde o campo responde por parcela significativa do PIB, entender a dinâmica da safrinha é essencial para quem atua — ou depende — do agronegócio.
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