Santa Elisa era uma das usinas em operação mais antigas do Brasil

Em seus tempos áureos a Usina Santa Elisa alcançou um marco histórico ao se tornar a de maior volume de moagem do mundo na década de noventa; entenda um pouco mais sua importância

A Raízen, uma das maiores empresas do setor sucroenergético do país, anunciou há uma semana atrás a descontinuação, por tempo indeterminado, das operações da Usina Santa Elisa, localizada em Sertãozinho, no estado de São Paulo. A decisão faz parte da estratégia da companhia de reciclagem de portfólio de ativos, com foco na eficiência agroindustrial.

A empresa, através do seu CFO e Diretor de Relações com Investidores, Rafael Bergman, informou que, como desdobramento da medida, firmou contratos para a venda de até 3,6 milhões de toneladas de cana-de-açúcar — incluindo cana própria e a cessão de contratos com fornecedores.

O valor da transação gira em torno de R$ 1,045 bilhão, com pagamento à vista no fechamento da operação. O valor pago pela tonelada da cana-de-açúcar é de aproximadamente US$53/tonelada. O negócio foi firmado com a Usina Alta Mogiana, Usina Bazan, Usina Batatais, São Martinho, Pitangueiras Açúcar e Álcool e Viralcool –Açúcar e Álcool, como partes adquirentes.

A empresa também firmou um acordo com sindicatos que representam os quase dois mil trabalhadores da usina, o acordo firmado visa garantir os acertos aos funcionários após a suspensão das atividades da companhia na região por tempo indeterminado. O acordo que prevê o pagamento das verbas rescisórias e de abonos, além da manutenção de benefícios por prazo determinado. O poder público busca realocar os profissionais, enquanto benefícios adicionais serão garantidos por 6 meses

Quem também ficou muito abalado com a notícia foi o empresário Maurilio Biagi Filho, 83 anos, um veterano do setor sucroalcooleiro que dirigiu a usina entre 1971 e 2002. “Lá, vivi grandes momentos da minha vida: iniciei minha trajetória profissional, passei por todos os setores, da indústria à presidência, e pude liderar sua transformação em uma das maiores empresas do setor sucroenergético no mundo, tanto em inovação quanto em produção”, escreveu o empresário.

No texto, em tom emotivo, Filho diz que a usina “faz parte da minha história pessoal e da história da região”. Ele descreve como a Santa Elisa foi adquirida por sua família em 1936 e se tornou “um verdadeiro símbolo do desenvolvimento de Sertãozinho”.

O empresário lembra ainda que, em 1998, a usina alcançou um marco histórico ao se tornar a de maior volume de moagem do mundo à época.

“Mais do que um empreendimento, a Usina Santa Elisa representa um patrimônio imaterial valioso — de memória, de pertencimento, de vínculos afetivos e sociais. A história que ela ajudou a escrever em Sertãozinho é indelével”, escreveu.

Usina Santa Elisa - arquivo historico - Sertaozinho
Foto: Arquivo

Fundação e História da Usina Santa Elisa

A Usina Santa Elisa foi fundada em 24 de julho de 1914, em Sertãozinho, São Paulo, pelas mãos do empreendedor Antônio Tavares Pereira Lima. Surgiu em um período de expansão da cafeicultura no estado, mas rapidamente adaptou-se ao cultivo de cana-de-açúcar, tornando-se pioneira na modernização do setor sucroenergético brasileiro. Seu nome homenageia Santa Elisa, refletindo a influência da tradição religiosa na família fundadora.

Ao longo do século XX, a Santa Elisa destacou-se por investir em tecnologias avançadas, como a mecanização da colheita e a produção de etanol, posicionando-se como uma das primeiras usinas a integrar a cadeia de biocombustíveis no Brasil.

Na década de 1970, com a crise do petróleo, a usina ampliou sua produção de álcool combustível, contribuindo para o Programa Nacional do Álcool (Pró-Álcool). Sua localização estratégica no interior paulista, região conhecida como o “caldo canavieiro” do país, consolidou sua relevância econômica.

A Santa Elisa era um símbolo da resistência e evolução do setor sucroalcooleiro e mantendo-se entre as maiores produtoras de açúcar, etanol e bioenergia do Brasil. Além do impacto econômico, a usina preservava um legado cultural, com projetos sociais e ambientais, como o Museu da Cana, que documenta a história da indústria canavieira. Sua trajetória reflete a transformação da agricultura paulista e sua vocação para liderar revoluções tecnológicas no campo.

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Foto: Divulgação

O que dizem os especialistas sobre o fechamento da Usina?

Segundo especialistas, um dos principais motivos para a venda foi a longa distância dos canaviais em relação à unidade, o que elevava os custos logísticos.

Com histórico de expansão nas décadas de 1970 e 1980, a Santa Elisa passou a operar com lavouras além do “padrão ouro” do setor, que recomenda um raio de até 30 km para garantir eficiência no transporte da cana. Acima dessa distância, o carregamento se torna oneroso e pouco competitivo. A São Martinho, que comprou parte dos ativos, manterá os novos canaviais em um raio de 25 km de sua planta em Pradópolis (SP).

Além disso, especialistas apontam que o aumento dos custos de arrendamento de terras também pressionava a operação. Segundo um usineiro envolvido nas negociações, na região de Ribeirão Preto o valor do hectare já ultrapassa R$ 30 mil — mais que o dobro do registrado em outras regiões paulistas.

Outro fator crítico era a alta dependência da Santa Elisa de cana comprada no mercado spot, sem contratos de longo prazo. A usina tinha capacidade para moer até 7 milhões de toneladas por safra, mas vinha operando com metade disso.

De acordo com Ricardo Pinto, da consultoria RPA, a região de Ribeirão Preto concentra mais de 20 usinas ativas, que disputam a mesma matéria-prima. “Entre 40% e 60% da cana processada vem de fornecedores avulsos, enquanto a média do Centro-Sul é de 30% a 35%”, afirma.

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