Seca extrema dizima 317 mil vacas em Santa Fé e ameaça futuro da pecuária argentina

Alta de abate de novilhas e perdas históricas exigem ações urgentes para evitar colapso no efetivo nacional e salvar o futuro da pecuária argentina

A província de Santa Fé, uma das principais regiões pecuárias da Argentina, enfrenta uma das piores crises de sua história recente. Nos últimos três anos, cerca de 317 mil vacas e novilhas aptas à reprodução foram perdidas devido à seca prolongada que assola o norte da região. Além disso, 155,8 mil bezerros deixaram de nascer, aprofundando os impactos sobre a reposição do rebanho e comprometendo o futuro da atividade.

Segundo relatório da Bolsa de Valores de Santa Fé, com base em dados do Serviço Nacional de Saúde e Qualidade Agroalimentar (Senasa), o rebanho bovino da província somava pouco mais de 5,42 milhões de cabeças em julho de 2025. Isso representa 12% do efetivo bovino argentino, mas indica queda de 2,5% em relação ao ano anterior, com 137.600 cabeças a menos. As perdas se concentram principalmente nos departamentos de San Cristóbal, Nueve de Julio e General Obligado.

A seca que castigou o norte de Santa Fé foi tão severa que represas secaram, poços ficaram salinizados e produtores tiveram que comprar água em caminhões, o que se tornou inviável economicamente. “Comprar água para a fazenda é loucura”, relatou um dos criadores ao presidente da Sociedade Rural de San Cristóbal, Rafael Alemán.

Além da escassez hídrica, a falta de pastagem levou o gado a consumir plantas tóxicas, como alecrim, o que causou mais mortes, principalmente nas áreas de montanha. Em alguns casos, os índices de prenhez das fêmeas caíram abaixo dos 50%, comprometendo a produtividade futura.

Em resposta à situação, o governo da província estendeu por mais seis meses o decreto de emergência agrícola em regiões afetadas como San Cristóbal e Nueve de Julio. Embora tenham ocorrido chuvas em agosto, as precipitações cessaram em setembro, frustrando expectativas de recuperação. A continuidade dos auxílios emergenciais será avaliada até o fim de outubro.

Alemán explica que a situação no norte é crítica: “A qualidade da água é ruim, muitas áreas não têm fonte hídrica alguma, e o gado depende apenas das chuvas. Com seca severa, o sistema colapsa”. No sul da Rota 39, o problema foi a escassez de pasto e o consumo de vegetação tóxica.

Tentativas de recuperação e eficiência

Apesar do cenário alarmante, houve algum alento: a taxa de natalidade por vaca aumentou em 2025, alcançando 61,4%, acima da média histórica (57,7%). Esse resultado é atribuído à maior eficiência produtiva, com melhor manejo nutricional, práticas sanitárias, uso de tecnologia e seleção mais criteriosa de matrizes.

No entanto, essa melhora pontual não será suficiente para frear o declínio do rebanho se a tendência de abate de fêmeas jovens persistir. Só no primeiro trimestre de 2025, 980 mil novilhas foram abatidas, representando quase um quarto do total de bovinos mortos no país. Especialistas alertam que, para conter o colapso, o total de novilhas abatidas deve cair para no máximo 3,5 milhões em 2025.

Consequências econômicas e estratégias futuras

A perda massiva de matrizes ameaça a produção de bezerros nos próximos três a cinco anos, com efeitos diretos sobre a cadeia de carne bovina argentina — um dos pilares das exportações do país. Além disso, a situação financeira dos produtores piorou: muitos venderam seus rebanhos antes da valorização dos preços, outros abandonaram a pecuária e arrendaram suas terras para culturas como algodão.

O presidente da Sociedade Rural de San Cristóbal é categórico: “O desafio agora é recompor o rebanho. Para isso, precisamos de chuvas regulares e apoio governamental para obras de infraestrutura hídrica e recuperação econômica”.

Compre Rural com informações do O Globo

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