Seca na Bacia Amazônica pode afetar exportação de grãos

De acordo com boletim do Itaú BBA, embarques do milho de segunda safra seriam os mais prejudicados com o baixo nível dos rios da região; confira

O relatório do boletim Radar Agro deste mês, elaborado pela consultoria de agronegócios do Itaú BBA, alerta para o impacto da seca na Bacia Amazônica nas exportações de grãos pelo Arco Norte. Segundo o documento, a segunda safra de milho seria a mais afetada devido à diminuição do nível dos rios na região.

Nos últimos anos, à medida que a produção e as safras, exportações de grãos cresceram, um dos principais avanços logísticos observados foi o aumento da utilização dos portos localizados no Arco Norte. O relatório destaca que, mesmo com os portos do Sul ainda responsáveis pelo escoamento da maior parte dos grãos do país, os portos do Arco Norte têm conquistado uma fatia significativa desse mercado na última década.

No caso da soja, por exemplo, a parcela exportada através do Arco Norte aumentou de 21% em 2012 para 38% em 2022. Já no caso do milho, o aumento foi ainda mais expressivo, subindo de 7% em 2012 para 45% no ano passado.

A utilização do Arco Norte como via de escoamento tem sido notável este ano, coincidindo com um substancial aumento nas exportações de produtos agrícolas até o momento.

Contudo, a região enfrenta atualmente uma seca severa que impacta de maneira significativa os principais rios da Bacia Amazônica, levando alguns deles a alcançar os níveis mais baixos da história. Esta estação do ano é caracterizada pela estação seca na região Norte, durante a qual a vazão dos rios normalmente declina.

El Niño e aquecimento do oceano

Em 2023, a situação se agravou devido à conjunção de dois fenômenos climáticos: El Niño e o aquecimento do Atlântico Tropical Norte, resultando em uma acentuada escassez de chuvas na região.

A principal preocupação, como apontada pelo Itaú BBA, reside no potencial impacto do baixo nível dos rios na navegabilidade e nas exportações de grãos, em particular na escoação da segunda safra de milho, cujas exportações mantêm um ritmo acelerado.

Os efeitos mais severos da seca estão concentrados principalmente nas proximidades de Manaus, mas a cada semana, os rios Tapajós e Madeira continuam a registrar diminuição nos níveis. Durante a estação seca, as barcaças normalmente operam com dois terços da capacidade, mas nos últimos dias, os comboios de barcaças estão sendo forçados a operar com apenas metade da capacidade, a fim de evitar problemas de navegabilidade.

Reflexos no Arco Norte

Até setembro, os números de exportação pelo Arco Norte ainda não refletiam os impactos da seca na região. O transporte de milho começou a ser realizado por caminhões até os terminais fluviais, porém a um custo substancialmente mais elevado.

A partir de outubro, já se observa uma mudança nas programações de embarque, com cargas migrando do Norte para o Sul, particularmente para o Porto de Santos, o que provavelmente resultará em um aumento no tempo de espera no porto.

Milho

Essa situação traz preocupações, não apenas quanto ao encarecimento do frete para a rota até Santos e seu impacto negativo nos prêmios de exportação, mas também à possibilidade de afetar o programa de exportação de milho, em um momento em que a expectativa é de que o Brasil exporte entre 52 e 57 milhões de toneladas do cereal até janeiro de 2024, ao término do ano comercial.

Até o final de setembro, já foram exportadas 28 milhões de toneladas de milho, e os dados preliminares da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) sugerem que cerca de 9 milhões de toneladas foram exportadas em outubro. Se esses números se confirmarem, o total de exportações atingiria 37 milhões de toneladas. No entanto, ainda restariam aproximadamente 20 milhões de toneladas a serem embarcadas entre novembro e janeiro.

O Brasil ainda possui uma considerável disponibilidade de milho, com uma quantidade significativa disponível para comercialização. O relatório destaca que o fator crítico para atingir a meta de 20 milhões de toneladas a serem exportadas até janeiro será a eficiência dos portos no Norte do país. Além disso, a capacidade de embarque no Porto de Santos também será fundamental.

De acordo com o boletim do Itaú BBA, o modelo de previsão de chuvas dos Estados Unidos indica uma projeção de precipitação abaixo da média para os próximos meses, principalmente na região Norte do Brasil, especialmente nos meses de novembro e dezembro.

Essa previsão serve como um ponto de atenção e requer monitoramento nos meses seguintes, já que, caso se concretize, há o risco de agravamento da situação dos rios na Bacia Amazônica, o que resultaria em níveis de vazão abaixo da média.

ℹ️ Conteúdo publicado pela estagiária Ana Gusmão sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira

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