Seca nos EUA muda cenário do milho; Brasil pode ganhar espaço nas exportações

O possível declínio da produção americana acendeu o alerta no mercado de grãos, já que pode trazer novos rumos para o preço na bolsa de Chicago.

A seca que afeta grande parte da região dos Estados Unidos conhecida como Cinturão de Milho levou à primeira redução nas estimativa de produção do cereal no país na temporada 2022/23.

Em seu último relatório de oferta e demanda, o Departamento de Agricultura americano (USDA) projetou colheita de 364,73 milhões de toneladas nos EUA, volume 5% menor que o de 2021/22. Alguns analistas já preveem 360 milhões de toneladas.

O possível declínio da produção americana acendeu oalerta no mercado de grãos, já que pode trazer novos rumos para o preço na bolsa de Chicago. Além disso, a queda na oferta americana abre espaço para o cereal do Brasil no mercado internacional, o que pode mexer com as cotações no mercado brasileiro.

“Não vai faltar milho no Brasil. Mesmo que o consumo cresça 5%, ainda haverá 40 milhões de toneladas disponíveis”, diz Glauber Silveira, diretor-executivo da Associação Brasileira dos Produtores de Milho (Abramilho). “Mas o comprador precisa se antecipar e travar os preços. A China já anunciou recentemente que vai importar produto do Brasil, e isso pode trazer uma mudança nas cotações aqui”.

Segundo Daniele Siqueira, analista da AgRural, no momento, é difícil precisar qual será o comportamento dos preços em Chicago após o Brasil começar a vender para a China. “O impacto sobre as cotações em Chicago, se ocorrer, será momentâneo, a menos que a primeira compra chinesa de milho do Brasil seja muito grande, acima de 1 milhão de toneladas, o que acho pouco provável”, afirma.

A analista acredita que o início das importações chinesas deve puxar para cima os preços do cereal no mercado interno. “A demanda pelo nosso milho criaria mais competição. A tendência é de os produtores segurarem as vendas do produto para conseguir preços melhores”, avalia. Ela acredita, no entanto, que esse efeito terá curta duração.

Ainda que a oferta americana vá diminuir, a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) não vê grandes impactos das novas projeções do USDA sobre os preços no mercado brasileiro, já que a produção deve ter forte crescimento no país. “Os insumos já estão em patamares elevados no Brasil, e as análises que temos mostram relativa acomodação de preços. Portanto, não há expectativa de fortes impactos em uma eventual retração de oferta nos EUA”, avalia o presidente da ABPA, Ricardo Santin.

Além da oferta, há outros fatores na forma formação dos preços internacionais, e eles precisam ser considerados nas análises, comenta o dirigente. “Questões como câmbio, importação do grão de países como Argentina e Paraguai e, principalmente, a grande oferta interna devem entrar nessa contabilidade. Os indicativos mais atuais da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) apontam para uma safra próxima de 120 milhões de toneladas, com um aumento de cerca de 25% nos estoques de passagem deste ano, que retornariam ao patamar de cerca de 10 milhões de toneladas registrado em anos anteriores”, afirma.

O último relatório do USDA reforça a percepção de que as exportações brasileiras vão crescer – o órgão projeta embarques de 47 milhões de toneladas na safra 2022/23, volume 5,6% maior que o do ciclo passado. A produção pode crescer 8,6% na mesma base de comparação, chegando a 126 milhões de toneladas. Nos EUA, por outro lado, a indicação é de queda de 3,1% nas exportações, para 60,33 milhões de toneladas.

Além da falta de chuvas regulares, o grande problema para o desenvolvimento da safra americana foi o calor. O aumento das temperaturas contribuiu para a deterioração das lavouras em um período em que as plantas estavam em fase de polinização, no qual mais precisavam de chuva.

Os modelos climáticos indicam que as temperaturas estão até 3°C acima da média no Cinturão de Milho. Em outras áreas, como o Texas, Estado que lidera a produção de algodão nos EUA, o calor é recorde, com os termômetros até 10ºC acima do normal para essa época do ano.

Cerca de 30% das lavouras de milho americanas estão em áreas de seca. Na soja, esse percentual chega a 26%, com a escassez de água no solo afetando especialmente áreas do oeste e do sul do Cinturão de Milho.

Segundo Willians Bini, do serviço de meteorologia para a agricultura da Climatempo, o calor excessivo nas áreas produtoras americanas pode ter relação com o aumento da frequência de eventos climáticos extremos. “Isso significa que, em um curto espaço de tempo, há eventos de muita chuva, calor ou frio. Esses picos de clima têm sido cada vez mais frequentes devido ao processo de mudança climática”, explica.

Ele lembra ainda que o planeta está sob influência do La Niña, que tende a aumentar a irregularidade das chuvas em áreas do Hemisfério Norte. O fenômeno deve seguir agindo sobre o clima da região até janeiro do ano que vem.

Fonte: Valor Econômico
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