Sem novos investimentos em armazenagem de grãos, em uma década o Brasil pode ficar estagnado, projeta conselheiro do CCAS

Déficit atual já compromete 40% da produção em estados como o Mato Grosso e tende a piorar com o avanço do milho segunda safra e do etanol de milho.

Se nada for feito, o déficit de armazenagem de grãos no Brasil pode se agravar a ponto de comprometer a cadeia produtiva nos próximos dez anos. O alerta é do professor Thiago Guilherme Péra, coordenador do Grupo de Pesquisa e Extensão em Logística Agroindustrial da ESALQ/USP e conselheiro do Conselho Científico Agro Sustentável (CCAS).

“Se a gente não fizer nada, daqui 10 anos o Brasil estará mais caótico do que é hoje. Vamos ter um déficit cada vez maior de infraestrutura, tanto de armazenagem quanto de ferrovia. A principal chave é o investimento. Precisamos desenvolver mais infraestrutura de armazenagem”, afirma.

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Atualmente, o país produz 330 milhões de toneladas de grãos por ano, mas só tem capacidade para armazenar 60% desse volume, ou cerca de 198 milhões de toneladas. No Mato Grosso, estado líder na produção, o cenário é ainda mais preocupante: a safra de 2025 deve atingir 100 milhões de toneladas, mas a capacidade de armazenagem não passa de 60%, gerando um déficit de 40 milhões de toneladas.

As imagens recentes de montanhas de milho estocadas a céu aberto, principalmente em Sinop (MT), ilustram a gravidade do problema. “O armazenamento é uma parte crítica do Brasil. Colocar o milho a céu aberto não é o mais adequado, em função das perdas físicas e de qualidade geradas, incorrendo prejuízos econômicos”, comenta Péra.

O especialista explica que, até 2012, o Brasil era superavitário em capacidade estática de armazenagem, mas a entrada do milho segunda safra – que desde então supera a produção da primeira safra – mudou completamente esse cenário. “A partir de 2012, passamos a enfrentar um grande desafio para o crescimento da infraestrutura de armazenagem. Temos dois períodos muito críticos: março e abril, com soja e milho primeira safra, e junho e julho, com a colheita do milho segunda safra. Isso acaba abarrotando bastante os nossos armazéns”, detalha.

Outro fator que pressiona a infraestrutura é a expansão do etanol de milho, principalmente no Centro-Oeste. “Estimamos no ESALQ-LOG que cerca de 16% da capacidade de armazenagem do Mato Grosso é dedicada ao etanol de milho. A oferta do cereal para a produção de etanol ocorre exatamente nesta época, para suprir praticamente o ano inteiro, o que pressiona ainda mais o sistema logístico mato-grossense”, ressalta.

A solução para reduzir o déficit, segundo Péra, passa exatamente pelo fortalecimento das cooperativas e pelo acesso a linhas de crédito. “O pequeno e médio produtor muitas vezes não tem escala para ter um armazém. É fundamental que as cooperativas expandam seu parque de armazenagem, tendo acesso a linhas de crédito mais atrativas, como o Programa para Construção e Ampliação de Armazéns (PCA) do BNDES”, finaliza.

Fonte: CCAS

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ℹ️ Conteúdo publicado por Myllena Seifarth sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira

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