Senadores iniciam ofensiva diplomática nos EUA para barrar tarifaço de Trump sobre o Brasil

Comitiva liderada por senadores e chanceler Mauro Vieira corre contra o tempo para tentar impedir sobretaxa de 50% que afeta exportações agropecuárias e industriais a partir de 1º de agosto

A poucos dias da entrada em vigor de uma tarifa adicional de 50% sobre produtos brasileiros, uma comitiva oficial do Senado Federal deu início a uma série de reuniões estratégicas em Washington, nos Estados Unidos, para tentar reverter a medida anunciada pelo ex-presidente Donald Trump. A imposição tarifária, prevista para começar em 1º de agosto, afeta em cheio exportações agropecuárias — como carnes, frutas e pescados — além de setores industriais como o de tratores, aeronaves e máquinas.

A ação é parte de uma ofensiva diplomática e parlamentar do governo brasileiro para tentar evitar prejuízos bilionários e reverter a deterioração nas relações comerciais entre os dois países.

Missão oficial liderada por senadores e com apoio do Itamaraty

A missão, composta por oito senadores brasileiros, desembarcou nos Estados Unidos no fim de semana e já iniciou uma maratona de reuniões com autoridades americanas, lideranças empresariais e representantes da sociedade civil. Fazem parte da comitiva os senadores:

  • Nelsinho Trad (PSD-MS) — coordenador da missão
  • Tereza Cristina (PP-MS)
  • Esperidião Amin (PP-SC)
  • Marcos Pontes (PL-SP)
  • Carlos Viana (Podemos-MG)
  • Jacques Wagner (PT-BA)
  • Rogério Carvalho (PT-SE)
  • Fernando Farias (MDB-AL)

Na manhã desta segunda-feira (28), os parlamentares se reuniram com a embaixadora do Brasil em Washington, Maria Luiza Viotti, e com o ex-diretor da Organização Mundial do Comércio (OMC), embaixador Roberto Azevêdo. A partir das 13h, participaram de encontro com representantes da Câmara Americana de Comércio e do Conselho Empresarial Brasil-Estados Unidos. Para terça-feira (29), estão previstos seis encontros com congressistas norte-americanos, além de reuniões em andamento com outros parlamentares.

Segundo o senador Nelsinho Trad, o objetivo da missão é mostrar, com pragmatismo e dados concretos, que a sobretarifa representa uma perda econômica para os próprios estados norte-americanos, o que pode sensibilizar deputados e senadores de ambos os partidos. Trad também afirmou que eleições legislativas nos EUA em 2026 são uma janela estratégica para influenciar a tomada de decisões.

Contexto do tarifaço: guerra política e alegações polêmicas

A carta oficial enviada por Washington ao governo brasileiro no dia 9 de julho anunciou a tarifa de 50% sobre as exportações do Brasil. O documento, assinado por Donald Trump, atribui a decisão a uma suposta “perseguição judicial” ao ex-presidente Jair Bolsonaro por parte do STF, em processos relacionados à tentativa de golpe de Estado.

A decisão causou perplexidade entre diplomatas brasileiros, já que as conversas bilaterais vinham avançando desde março, quando foi criado um grupo de trabalho técnico para discutir práticas comerciais. Os Estados Unidos também abriram investigação contra o Brasil por “práticas desleais”, incluindo temas como pagamentos eletrônicos e o uso do Pix, que teria prejudicado empresas americanas como Visa e Mastercard.

Para a embaixadora Viotti, o momento exige equilíbrio. “Recebemos a carta com surpresa. O diálogo vinha fluindo. Ainda assim, seguimos à disposição para dialogar”, declarou. Há inclusive ações judiciais nos EUA questionando a legalidade da medida.

Apoio interno nos EUA e reação do Itamaraty

A postura de Trump não é consensual nem mesmo entre os americanos. Um grupo de 11 senadores democratas enviou uma carta ao ex-presidente pedindo o fim do tarifaço, alegando que a medida representa um “abuso de poder” e ameaça os laços históricos entre os países.

O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, também está nos Estados Unidos. Ele participa de agenda na Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York, mas atua nos bastidores para viabilizar um canal direto com a Casa Branca. Já o vice-presidente Geraldo Alckmin está coordenando esforços no Brasil para buscar uma solução diplomática estruturada.

Impactos esperados: prejuízos bilionários para o agro e indústria

De acordo com um levantamento da Confederação Nacional da Indústria (CNI), pelo menos 30 setores da economia brasileira exportam mais de 25% de sua produção para os EUA. Entre os mais afetados pelas novas tarifas estão:

  • Tratores e máquinas agrícolas: queda de 23,61% nas exportações e 1,86% na produção
  • Aeronaves e equipamentos de transporte: redução de 22,33% nas exportações e 9,19% na produção
  • Carnes de aves: retração de 11,31% nas exportações e 4,18% na produção

A sobretaxa também afeta produtos como carne bovina, pescados, suco de laranja, frutas e mel — pontos sensíveis do agronegócio brasileiro.

Um cenário de incerteza e oportunidade

Para o ex-diretor da OMC, Roberto Azevêdo, apesar da crise, o momento também pode ser visto como uma janela estratégica de reposicionamento do Brasil no comércio internacional. “Não podemos desperdiçar essa mobilização. É hora de repensar como o Brasil faz negócios com os EUA”, afirmou.

Embora o prazo para entrada em vigor da tarifa seja curto, os senadores reconhecem que não será possível resolver o impasse de imediato. Ainda assim, esperam criar as bases para um entendimento futuro, que envolva equilíbrio, pragmatismo e alinhamento diplomático entre os dois países.

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