Ser humano: Agente natural do equilíbrio necessário do planeta

Artigo “Ideias” escrito por Luiz Josahkian* para a Revista Globo Rural em setembro de 2019 questiona a onda de alimentos superprocessados.

Anda por aí essa história de comida artificial, fabricada em laboratório. Carne bovina, suína, frutas e outros alimentos que estão sendo mimetizados em tubos de ensaios. Fico só imaginando o quanto de aditivos eles devem ter. Se já tínhamos os alimentos superprocessados, que têm uma carga de aditivos expressiva, esses produtos 100% artificiais extrapolam nossa capacidade de imaginá-los porque beiram a ficção científica.

É fato que nos alimentos industrializados já usamos aditivos de forma oficial, aprovados pela ANVISA. São aqueles códigos em letras miúdas que lotam os rótulos dos alimentos processados (aliás, o que é natural não tem e nem precisa de rótulo). Na linguagem cifrada dos aditivos temos os acidulantes, espumantes, umectantes, antiumectantes, aromatizantes, corantes, conservantes… E a lista segue.

Mas voltando aos alimentos artificiais, uma das justificativas para a sua criação – e que talvez até seja válida – é a de encontrar meios eficientes para atender ao aumento da demanda mundial de alimentos, considerando-se que os recursos naturais são finitos. Até aí tudo bem. Pode ser mesmo uma alternativa.

Mas o outro argumento também usado parece ser uma falácia: respeito aos animais. Nesse ponto surge uma pergunta: será que alguém já pensou o que iremos fazer com as vacas, porcos, búfalos, galinhas, perus, cabras, ovelhas e outros animais domésticos se passarmos a comer somente comida artificial ou vegetal? Quem irá cuidar desses rebanhos gigantescos? Quem vai alimenta-los? Onde viverão? Irão se multiplicar desordenada e eternamente até o fim de suas vidas ou até a extinção da espécie?

Não custa lembrar que estamos falando de 1,4 bilhão de bovinos, 980 milhões de porcos e quase 20 bilhões de frangos que, neste momento, estão apascentados ou alojados mundo afora, sendo cuidados e alimentados.

Perdoem-me os que postulam essas ideias, mas somos agentes naturais do equilíbrio necessário ao planeta.

Entre as 8,7 milhões de espécies que habitam a terra e a água, sejam animais ou plantas, não passamos de outra peça engendrada no quebra-cabeça do ecossistema. Nada diferente das águias que controlam a população de cobras, das cobras que controlam as populações de sapos, ou dos sapos que controlam a população de insetos.

Nem o fato de sofisticarmos a criação nos torna diferente deles ou de uma onça em relação à sua presa. Só usamos táticas mais avançadas, mas com o mesmo fim biológico.

Na ordem natural das coisas somos carnívoros, com a dádiva adicional de também sermos vegetarianos. Biologicamente onívoros.

Agora, nada disso justifica a crueldade com os animais, priva-los de alimentos e água, maneja-los de forma inapropriada, infringir-lhes dor ou não respeitar seus ciclos biológicos.

Felizmente, o amor e respeito pelos animais é uma característica intrínseca aos criadores.

O homem do campo tem por princípio orar e agradecer pelo que o alimenta.

Por isso – embora respeite – não entendo o vegetarianismo ou o veganismo.

O que seria mais cruel nesse estágio da humanidade: cuidar bem dos animais, entendendo-os como fontes naturais e necessárias de alimentos ou abandona-los à sua própria sorte?

*Luiz Josahkian é zootecnista, especialista em produção de ruminantes e professor de melhoramento genético, além de superintendente técnico da Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ). Este artigo foi publicado originalmente em fevereiro de 2018, na edição nº 388 da Revista Globo Rural.

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