Sistema digital mapeia pragas que afetam a produção da macadâmia

A iniciativa é fruto do acordo de cooperação técnica entre a Embrapa e a empresa QueenNut Indústria e Comércio de Alimentos Ltda.

A produção brasileira de noz-macadâmia ganhou um reforço tecnológico importante para enfrentar os desafios fitossanitários da cultura. Desenvolvido pela Embrapa Meio Ambiente (SP), o sistema InsetoNutWeb reúne um acervo inédito de informações sobre a entomofauna e a acarofauna — conjunto de insetos e ácaros, sejam pragas ou inimigos naturais — registrados em plantações de macadâmia no Brasil e no exterior. A ferramenta é gratuita e pode ser acessada por computadores e tablets com sistemas iOS e Android.

Trata-se de um sistema web em linguagem computacional, que abrange hipertextos (HTML e PHP) e banco de dados (MySQL), disponibilizando acesso on-line via internet a informações elevadas sobre insetos e ácaros-pragas de interesse para o cultivo da macadâmia. É inovador, uma vez que não existe no País tecnologia semelhante com foco nessa noz.

Milho: margem de processamento é a melhor do ano

A iniciativa é fruto do acordo de cooperação técnica entre a Embrapa e a empresa QueenNut Indústria e Comércio de Alimentos Ltda., com execução entre setembro de 2019 e setembro de 2024, operacionalizada pelo projeto InsetoNut (Levantamento da Entomofauna Associada Presente e Identificação de Insetos-Pragas Exóticos Ausentes, com Potencial de Dano ao Cultivo da Macadâmia ).

Foto: Divulgação

Esse projeto tratou tanto da identificação das previsões e espécies benéficas associadas ao cultivo da macadâmia em áreas produtoras do Brasil, quanto das respostas informadas como presentes em países produtores da noz no exterior: Austrália, África do Sul, China, Colômbia, Coreia, Costa Rica, Egito, Estados Unidos (Havaí), Guatemala, Índia, Irã, Israel, Malaui, Nova Zelândia, Paraguai, Quênia, Reino Unido, Tailândia e Vietnã.

A partir do levantamento de previsões de noz nesses países, o projeto de regulamentação 18 especificações exóticas sinalizadas pelo Ministério da Agricultura e Pecuária ( Mapa ) como Pragas Quarentenárias Ausentes ( PQA ) para o Brasil, e, portanto, de risco iminente de entrada no País com potencial de causar prejuízos a vários cultivos nacionais. Na identificação de insetos e ácaros, a pesquisa também anunciou, posteriormente, várias informações para subsidiar a identificação, o monitoramento e o manejo das espécies identificadas; tanto na literatura quanto nas áreas de macadâmia avaliadas pelo projeto.

O trabalho de avaliação da entomofauna presente em plantios no Brasil ocorreu principalmente na área de Dois Córregos (SP) — importante polo produtor do noz nacional. O levantamento de insetos e ácaros foi realizado em duas cultivares de macadâmia: IAC 4-12B e HAES 333, de onde foram coletados ramos, folhas, racemos e frutos, de 2020 a 2025, os quais foram levados para o Laboratório de Entomologia e Fitopatologia (LEF) da Embrapa Meio Ambiente para análise, registro, separação (parataxonomia) e armazenamento do material.

Alguns indivíduos foram montados com alfinetes entomológicos e enviados para identificação taxonômica pelos pesquisadores Marcoandre Savaris e Sinval Neto da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” da Universidade de São Paulo (Esalq/USP ). Para a avaliação da presença de ácaros, as amostras foram enviadas ao pesquisador Jeferson Mineiro do Instituto Biológico  (IB). As amostras que continham tripes (insetos pequenos) foram encaminhadas ao pesquisador Élison Lima da Universidade Federal do Piauí ( UFPI ) . InsetoNut, armazenado na sala da coleção do Laboratório de Quarentena “Costa Lima” (LQC) da Embrapa Meio Ambiente.

O sistema InsetoNutWeb foi desenvolvido pela analista Cláudia Crecci, com a participação das pesquisadoras Jeanne Prado e Maria Conceição Pessoa, todas da Embrapa Meio Ambiente, e do engenheiro agrônomo Leonardo Moriya da QueenNut.

A InsetoNutweb pode apoiar medidas oficiais contra declarações quarentenárias

Segundo Prado, líder do projeto InsetoNut, o sistema se destaca pela interface interativa, que permite a busca por informações detalhadas sobre as espécies identificadas. “O usuário pode consultar dados como o hábito alimentar dos insetos e ácaros e o local da planta onde foram encontrados, além de acessar fotos das espécies coletadas, o que facilita a avaliação da amostragem em campo e a aplicação de Programas de Manejo Integrado de Pragas (MIP)”, explica. A pesquisadora acrescenta que, para a área produtora de Dois Córregos (SP), foram encontradas diversas espécies de inimigos naturais e polinizadores, que podem contribuir para os aspectos produtivos da noz.

Para Pessoa, as informações sobre as principais pragas que afetam a cultura em outros países, agora disponibilizadas no InsetoNutWeb, são fundamentais para desenvolver ações preventivas à entrada de espécies ainda não registradas em território nacional, que podem comprometer a macadâmia e outros cultivos hospedeiros identificados para esses insetos-pragas, muitos dos quais polífagos.

Ela destaca ainda que se trata de espécies de interesse prioritário para a Defesa Fitossanitária Nacional, exigindo atenção especial. “Muitas são as espécies de pragas relatadas no exterior e com possibilidade de ingresso no país, sendo necessário conhecê-las para realizar prevenção e monitoramento apropriados”, complementa.

Leonardo Moriya salienta que o sistema InsetoNutWeb tem potencial para apoiar a elaboração de planos oficiais de emergência para evitar a entrada de pragas quarentenárias. Ele lembra que o projeto InsetoNut conta com várias publicações, realizadas em parceria com a Embrapa Territorial (SP), sobre zoneamentos de áreas aptas ao desenvolvimento e de estimativas de gerações no Brasil, para algumas PQA e pragas exóticas não presentes no País, priorizadas junto à QueenNut.

Informações vão impulsionar a expansão da macadâmia no Brasil

Ainda segundo Moriya, a cultura da noz macadâmia, introduzida no Brasil na década de 1930, encontra atualmente um cenário promissor de expansão. Dados do International Nut & Dried Fruit Council (INC) indicam que, entre 2008 e 2018, o consumo de castanhas e nozes cresceu 55% e 43%, respectivamente, em países de economia alta e média — perfil no qual o Brasil se insere. Hoje, o País conta com plantações comerciais em nove estados — Bahia, Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso, Minas Gerais, Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e São Paulo, sendo o último responsável por metade da produção nacional.

Apesar do potencial de crescimento, o setor enfrenta um desafio importante: a escassez de informações sobre as pragas que ocorrem nos cultivos brasileiros. Grande parte do conhecimento disponível até recentemente se baseava em estudos estrangeiros, com pouca representatividade dos cenários nacionais. “Por isso, era fundamental realizar um levantamento local, para identificar com precisão as espécies de insetos e ácaros presentes nos pomares brasileiros e ampliar o conhecimento necessário para orientar políticas públicas e práticas agrícolas sustentáveis”, destaca Prado.

Crecci aponta que o acervo de conhecimento gerado pelo projeto e, agora sistematizado no InsetoNutWeb, tem múltiplas finalidades. “Serve de base para ações de capacitação, como treinamentos voltados à correta identificação de espécies, monitoramento de campo e manejo integrado de pragas. Também subsidia políticas públicas voltadas à Defesa Fitossanitária Nacional e ao fortalecimento das chamadas Culturas com Suporte Fitossanitário Insuficiente (CSFI), conhecidas como minor crops — caso da macadâmia no Brasil”, acrescenta.

As minor crops são culturas agrícolas com produção relevante, mas que ainda carecem de suporte técnico e normativo proporcional ao seu potencial. A noz macadâmia está incluída no Grupo 1B (frutas com casca não comestível), junto com mamão e manga, e a disponibilização de ferramentas como o InsetoNutWeb representa um avanço importante na estruturação de políticas específicas para a macadâmia, além de subsidiar as demais de interesse nacional, identificadas como cultivos hospedeiros das pragas disponibilizadas no sistema.

Prado e Moriya enfatizam ainda que a continuidade do monitoramento e o uso sistemático do sistema InsetoNutWeb permitirão à cadeia produtiva brasileira da macadâmia se preparar melhor para os riscos fitossanitários, preservar a produtividade e atender à crescente demanda de mercado interno e externo por essa noz.

O InsetoNutWeb também representa um exemplo de como a ciência aplicada e a tecnologia podem favorecer o desenvolvimento de culturas agrícolas, entre as quais as minor crops, ao mesmo tempo em que fortalecem a segurança fitossanitária do País frente ao avanço do transporte e comércio internacionais e às mudanças climáticas, que podem facilitar a entrada e o estabelecimento de novas pragas exóticas no País.

Cultivo de macadâmia cresce no Brasil, mas depende de tecnologia

A cultura da macadâmia no Brasil é de alta rentabilidade em potencial, mas enfrenta desafios como elevados custos de implantação e operação, longo tempo até a produtividade efetiva, e sensibilidade a eventos climáticos extremos. Com investimentos em genética, mecanização e diversificação de cultivo, há grande oportunidade para crescimento, especialmente com o mercado interno ganhando força. As regiões paulista e capixaba lideram a produção, mas é preciso expandir áreas com inovação técnica e comercial para retomar o crescimento econômico do setor.

O cultivo vem ganhando destaque no cenário agrícola nacional, apesar dos desafios, especialmente os climáticos. A produção brasileira, que já alcançou picos de 8.500 toneladas em 2019, sofreu uma queda acentuada de cerca de 30% em 2025, resultando em uma safra inferior a 4 mil toneladas. Essa redução é atribuída, principalmente, a condições climáticas adversas, como seca e calor excessivo durante o período de florada, que comprometeram a frutificação e a produtividade em todas as regiões produtoras. Pela primeira vez em 30 anos, cerca de 90% da produção foi destinada ao consumo interno, um cenário inédito, já que historicamente a maior parte da produção era voltada à exportação.

Atualmente, o Brasil conta com cerca de 5 mil hectares cultivados com macadâmia, com uma concentração expressiva em São Paulo, especialmente no município de Dois Córregos, que responde por aproximadamente 50% da produção nacional. O Espírito Santo, com destaque para a região de São Mateus, contribui com cerca de 30%, enquanto Minas Gerais é responsável por aproximadamente 25%. O cultivo da macadâmia no País requer investimentos iniciais significativos, estimados em R$ 15 mil por hectare, e custos operacionais anuais que podem alcançar R$ 25 mil por hectare. Apesar disso, em safras favoráveis, a receita pode chegar a R$ 50 mil por hectare, com produtividades variando entre 3 e 5 mil quilos por hectare, superando a média mundial, que gira em torno de 2 a 2,5 toneladas por hectare.

A macadâmia é uma cultura perene e de longo prazo: começa a produzir entre quatro e cinco anos após o plantio, atingindo seu pico produtivo de dez a doze anos. O preço da noz no mercado interno pode alcançar R$ 180 por quilo quando beneficiada, enquanto no comércio internacional gira em torno de US$ 3 por quilo. O alto valor de mercado torna a cultura atrativa, mas o retorno sobre o investimento é demorado, e a rentabilidade depende fortemente das condições climáticas e do manejo adequado.

Para mitigar os riscos e ampliar o potencial econômico da macadâmia, produtores têm investido em práticas como o consórcio com outras culturas, especialmente o café, o que permite gerar receita nos primeiros anos do pomar, enquanto a macadâmia ainda não produz em escala comercial. Instituições de pesquisa como o Instituto Agronômico (IAC) e a Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA) têm desenvolvido cultivares mais adaptadas ao clima tropical brasileiro, com maior resistência e produtividade, além de orientar sobre práticas mais sustentáveis de cultivo.

Embora o Brasil esteja entre os dez maiores produtores de macadâmia do mundo, sua participação ainda representa menos de 3% da produção global. No entanto, o mercado mundial está em franca expansão, com crescimento anual superior a 8%, tornando a macadâmia a oleaginosa de maior valorização atualmente. Esse crescimento do consumo mundial e o aumento recente do consumo interno brasileiro — impulsionado pela menor oferta para exportação — apontam para um cenário de potencial valorização e expansão da cultura no País. Ainda assim, para que isso se concretize, será necessário investir em tecnologia, planejamento de longo prazo, manejo climático e estratégias comerciais mais eficientes para inserir o Brasil de forma mais competitiva no mercado global da noz.

Cultivo de macadâmia cresce no Brasil, mas depende de tecnologia

A cultura da macadâmia no Brasil é de alta rentabilidade em potencial, mas enfrenta desafios como elevados custos de implantação e operação, longo tempo até a produtividade efetiva, e sensibilidade a eventos climáticos extremos. Com investimentos em genética, mecanização e diversificação de cultivo, há grande oportunidade para crescimento, especialmente com o mercado interno ganhando força. As regiões paulista e capixaba lideram a produção, mas é preciso expandir áreas com inovação técnica e comercial para retomar o crescimento econômico do setor.

O cultivo vem ganhando destaque no cenário agrícola nacional, apesar dos desafios, especialmente os climáticos. A produção brasileira, que já alcançou picos de 8.500 toneladas em 2019, sofreu uma queda acentuada de cerca de 30% em 2025, resultando em uma safra inferior a 4 mil toneladas. Essa redução é atribuída, principalmente, a condições climáticas adversas, como seca e calor excessivo durante o período de florada, que comprometeram a frutificação e a produtividade em todas as regiões produtoras. Pela primeira vez em 30 anos, cerca de 90% da produção foi destinada ao consumo interno, um cenário inédito, já que historicamente a maior parte da produção era voltada à exportação.

Atualmente, o Brasil conta com cerca de 5 mil hectares cultivados com macadâmia, com uma concentração expressiva em São Paulo, especialmente no município de Dois Córregos, que responde por aproximadamente 50% da produção nacional. O Espírito Santo, com destaque para a região de São Mateus, contribui com cerca de 30%, enquanto Minas Gerais é responsável por aproximadamente 25%. O cultivo da macadâmia no País requer investimentos iniciais significativos, estimados em R$ 15 mil por hectare, e custos operacionais anuais que podem alcançar R$ 25 mil por hectare. Apesar disso, em safras favoráveis, a receita pode chegar a R$ 50 mil por hectare, com produtividades variando entre 3 e 5 mil quilos por hectare, superando a média mundial, que gira em torno de 2 a 2,5 toneladas por hectare.

A macadâmia é uma cultura perene e de longo prazo: começa a produzir entre quatro e cinco anos após o plantio, atingindo seu pico produtivo de dez a doze anos. O preço da noz no mercado interno pode alcançar R$ 180 por quilo quando beneficiada, enquanto no comércio internacional gira em torno de US$ 3 por quilo. O alto valor de mercado torna a cultura atrativa, mas o retorno sobre o investimento é demorado, e a rentabilidade depende fortemente das condições climáticas e do manejo adequado.

Para mitigar os riscos e ampliar o potencial econômico da macadâmia, produtores têm investido em práticas como o consórcio com outras culturas, especialmente o café, o que permite gerar receita nos primeiros anos do pomar, enquanto a macadâmia ainda não produz em escala comercial. Instituições de pesquisa como o Instituto Agronômico (IAC) e a Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA) têm desenvolvido cultivares mais adaptadas ao clima tropical brasileiro, com maior resistência e produtividade, além de orientar sobre práticas mais sustentáveis de cultivo.

Embora o Brasil esteja entre os dez maiores produtores de macadâmia do mundo, sua participação ainda representa menos de 3% da produção global. No entanto, o mercado mundial está em franca expansão, com crescimento anual superior a 8%, tornando a macadâmia a oleaginosa de maior valorização atualmente. Esse crescimento do consumo mundial e o aumento recente do consumo interno brasileiro — impulsionado pela menor oferta para exportação — apontam para um cenário de potencial valorização e expansão da cultura no País. Ainda assim, para que isso se concretize, será necessário investir em tecnologia, planejamento de longo prazo, manejo climático e estratégias comerciais mais eficientes para inserir o Brasil de forma mais competitiva no mercado global da noz.

Fonte: Embrapa

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ℹ️ Conteúdo publicado por Myllena Seifarth sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira

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