Soja com genoma editado para tolerância à seca atesta: “edição genética é a nova revolução do agro”

Brasil se torna pioneiro ao testar a primeira soja com genoma editado para tolerância à seca – soja editada geneticamente, com potencial para reduzir perdas bilionárias e consolidar a edição genética como marco de inovação no campo

A agricultura brasileira enfrenta um de seus maiores desafios: as mudanças climáticas, cada vez mais frequentes e severas. Seca prolongada, calor intenso e irregularidade de chuvas já causaram prejuízos históricos à sojicultura. Apenas na safra 2021/22, perdas superiores a R$ 70 bilhões foram registradas no Sul e Centro-Oeste do país. Nesse cenário, a biotecnologia se apresenta como um divisor de águas, e a edição genética surge como a nova revolução do agronegócio. Para iniciar o Agro 5.0, Brasil iniciar com a soja com genoma editado para tolerância à seca.

Pesquisadores da Embrapa Soja, em Londrina (PR), anunciaram o desenvolvimento da primeira soja brasileira com genoma editado para tolerância à seca, aprovada pela Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio). Diferente dos transgênicos, essa inovação utiliza a técnica CRISPR/Cas9, que permite “recortar e colar” genes da própria espécie, acelerando o processo que, em métodos tradicionais, poderia levar mais de uma década.

Soja com genoma editado para tolerância à seca
Foto: ANeto/Arquivo Embrapa

Como funciona a edição genética

A edição gênica difere da transgenia porque não insere DNA de outra espécie, mas atua sobre genes já existentes na planta. No caso da soja, cientistas selecionaram variedades naturalmente mais tolerantes à seca e transferiram essa característica para cultivares comerciais de alta produtividade.
Segundo a Embrapa, os testes em casas de vegetação apontaram aumento médio de até 20% na resistência ao estresse hídrico, com variações que chegaram a 35%.

Esse avanço pode fazer diferença em anos críticos. Em 2022, quando a estiagem reduziu em até 50% a safra do Rio Grande do Sul e Paraná, uma soja editada poderia ter mitigado parte das perdas. “Se em vez de perder 50%, eu perder só 20%, são 30% que estou ganhando. Isso significa bilhões de reais que voltam para a economia”, explica Alexandre Nepomuceno, chefe-geral da Embrapa Soja.

Menos burocracia e custos reduzidos

A CTNBio classificou a nova soja como não transgênica, permitindo que sua validação em campo ocorra de forma mais ágil e menos onerosa. Enquanto um transgênico tradicional pode custar mais de US$ 100 milhões apenas em processos regulatórios, a edição genética reduz esse valor em até 70%, tornando a tecnologia acessível também para universidades, startups e pequenas empresas.

Esse caráter mais “democrático” da biotecnologia promete descentralizar a inovação, que até aqui esteve concentrada em grandes multinacionais. Além da soja, a Embrapa já pesquisa cana-de-açúcar com maior teor de sacarose, laranjas resistentes ao greening, bovinos com pelo curto para enfrentar o calor e até peixes de cultivo com menos espinhas, todos a partir da edição gênica.

Soja com genoma editado para tolerância à seca: Impacto global e perspectivas

A decisão brasileira acompanha tendência mundial. Países como Estados Unidos, Canadá, Japão, China e Argentina já não classificam organismos com genoma editado como transgênicos. Até a União Europeia, historicamente mais restritiva, flexibilizou sua legislação em 2023.

Com esse alinhamento internacional, o Brasil — líder global em soja, cana e laranja — se posiciona para ampliar sua produtividade sem a necessidade de abrir novas áreas de cultivo. Ou seja, trata-se de crescer “dentro da semente”, e não sobre a floresta.

Cautela e segurança

Apesar do entusiasmo, especialistas destacam que é preciso cautela. A agrônoma Sara Gapito, doutora em recursos genéticos vegetais, ressalta que toda novidade deve passar por análises de risco robustas para garantir segurança alimentar e ambiental.

Além disso, pesquisadores lembram que a soja tolerante à seca não é uma solução milagrosa. “Não estou fazendo um cacto que produz soja. Nenhuma planta vai resistir sem água. O que buscamos é reduzir perdas e somar essa ferramenta a boas práticas de manejo, como plantio direto, rotação de culturas e conservação do solo”, reforça Nepomuceno.

Diante do exposto, conclui-se que a soja com genoma editado para tolerância à seca marca um novo capítulo na agricultura brasileira, simbolizando que a próxima revolução do agro não está apenas nas máquinas ou insumos, mas na semente. Se os testes de campo confirmarem os resultados iniciais, o produtor rural terá em mãos uma tecnologia capaz de reduzir riscos, garantir estabilidade de produção e sustentar o Brasil na liderança mundial do agronegócio.

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