
A suplementação no cocho é, muitas vezes, o divisor de águas entre uma pecuária que sobrevive e outra que gera lucro
Todo pecuarista já viveu essa cena: investir tempo, dinheiro e energia no rebanho, esperar com expectativa os resultados e, no momento da pesagem, perceber que os números não bateram. O gado engordou menos do que o previsto, o lucro não veio e, enquanto isso, as contas da fazenda continuam acumulando.
Essa sensação de frustração não é isolada. No Brasil, mesmo com um dos maiores rebanhos comerciais do mundo, a produtividade média por hectare ainda é considerada baixa: cerca de 4 arrobas/ha/ano, segundo dados da Embrapa. A boa notícia é que esse quadro pode ser revertido quando o produtor identifica os gargalos e adota medidas corretivas.
Checklist da pecuária
Antes de falar em tecnologias avançadas, é essencial revisar o alicerce do sistema:
- Sanidade animal: vacinas em dia e vermifugação programada evitam perdas que muitas vezes não aparecem de imediato, mas impactam diretamente no ganho de peso.
- Água de qualidade: estima-se que bovinos de corte consumam em média 40 a 70 litros de água/dia. Se a oferta for insuficiente ou de baixa qualidade, o consumo de forragem cai.
- Conforto térmico: animais expostos ao sol sem áreas de sombra reduzem o pastejo e gastam energia para regular a temperatura corporal. O resultado: menor ganho de peso.
- Controle de parasitas: carrapatos e vermes internos são ladrões silenciosos. Pesquisas mostram que infestações podem reduzir em até 30% o desempenho produtivo.
- Pastagem disponível: cada hectare precisa produzir forragem suficiente para suportar o número de animais. Pasto degradado gera sobrepastejo, perda de solo e queda na taxa de lotação.
Se esses pontos estão resolvidos e, ainda assim, a pecuária não rende, é preciso olhar com atenção para o cocho.
Quando a pecuária não rende: os erros no cocho
A suplementação no cocho é, muitas vezes, o divisor de águas entre uma pecuária que sobrevive e outra que gera lucro. Mesmo com boas pastagens, é difícil garantir o fornecimento equilibrado de todos os nutrientes apenas com forragem.
- Na seca: a pastagem perde proteína e digestibilidade, reduzindo o consumo voluntário dos animais. Sem suplementação, o rebanho perde peso.
- Nas águas: apesar da abundância de capim, o pasto pode ser pobre em minerais essenciais, comprometendo crescimento e reprodução.
O segredo está em conhecer a meta de desempenho do rebanho. Por exemplo: se o objetivo é que os animais ganhem 600 g/dia, o protocolo nutricional deve ser desenhado para atender essa meta — caso contrário, o resultado será sempre abaixo do esperado.
O papel do sal: simples, mas indispensável

A suplementação mineral é uma prática relativamente barata e que traz grande retorno, mas muitos produtores ainda a subestimam.
- Nas águas: oferecer sal mineral garante a reposição de cálcio, fósforo, enxofre e outros minerais essenciais.
- Na seca: o sal proteinado entra em cena, fornecendo a proteína que falta no pasto e evitando a perda de peso.
Consumos médios recomendados:
- Sal mineral: 80 a 100 g/cabeça/dia.
- Sal proteinado: cerca de 1 g/kg de peso vivo/dia.
Ou seja, uma vaca de 400 kg precisa consumir 400 g/dia de proteinado para manter desempenho adequado.
Segundo a Embrapa, propriedades que oferecem suplementação mineral corretamente chegam a ter ganhos de até 20% no peso médio do rebanho em comparação com aquelas que não utilizam.
Indo além do básico: aditivos de desempenho
Para quem já ajustou o manejo básico e mesmo assim não vê a rentabilidade esperada, os aditivos de desempenho podem ser um diferencial.
Um exemplo é a virginiamicina, que atua melhorando a eficiência do rúmen, reduzindo perdas energéticas e aumentando a absorção de nutrientes.
- Em sistemas de recria e terminação, pode gerar ganhos adicionais de até 136 g/dia por animal.
- Permite reduzir a idade de abate, acelerando o giro de capital.
- Pode ser usada tant
- o na seca quanto nas águas, evitando a estagnação no ganho de peso.
Do ponto de vista econômico, isso significa estar pronto para aproveitar janelas de mercado. Imagine ter gado pronto logo após a seca, quando a arroba está valorizada devido à baixa oferta. Essa estratégia pode ser a diferença entre operar no vermelho ou no azul.
Se a sua pecuária não está rendendo, é sinal de que há pontos do sistema que precisam ser revisados. Muitas vezes, o problema não é o esforço do produtor, mas sim a falta de ajustes técnicos: água de qualidade, sombra, pastagem bem manejada, suplementação mineral adequada e uso inteligente de aditivos.
A pecuária é, sim, uma atividade lucrativa, mas apenas quando conduzida com gestão, planejamento e técnica.
Escrito por Compre Rural
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ℹ️ Conteúdo publicado pela estagiária Ana Gusmão sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira
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