
Estudo revela que a superbactéria Salmonella Dublin, resistente a antibióticos, circula entre bovinos, humanos e o ambiente; especialistas alertam para impactos sanitários e prejuízos ao setor pecuário
Uma pesquisa recente da Universidade Penn State, nos Estados Unidos, colocou o agronegócio em estado de atenção. O estudo mostrou que a bactéria Salmonella Dublin, comum em bovinos, mas capaz de infectar humanos, está se tornando uma superbactéria — resistente a diversos antibióticos usados tanto na medicina veterinária quanto na humana. Mais do que uma preocupação de saúde pública, o avanço desse patógeno representa um risco econômico direto para pecuaristas, especialmente em países com forte produção de carne e leite, como Brasil e EUA.
O que é a superbactéria Salmonella Dublin e por que preocupa
A superbactéria Salmonella Dublin é uma variante da Salmonella adaptada principalmente a bovinos. Nos animais, causa quadros graves, podendo levar à morte, queda na produção de leite e prejuízos na engorda. Em humanos, a bactéria é capaz de provocar infecções sanguíneas severas, exigindo internações prolongadas e, em alguns casos, levando a óbito.
O estudo analisou 2.150 cepas do patógeno coletadas entre 2002 e 2023 em bovinos (581 amostras), humanos (664) e no ambiente (905). O resultado mostrou que, apesar de pequenas diferenças genéticas, as cepas são altamente semelhantes, o que facilita a transmissão cruzada. Isso significa que carne, leite, queijo contaminados e até o contato direto de trabalhadores com animais infectados são vias importantes de contaminação.
Impactos diretos na pecuária
Para os produtores de gado, a disseminação dessa bactéria traz uma série de consequências:
- Perdas produtivas: animais infectados apresentam queda de desempenho, menor ganho de peso e queda de produção leiteira.
- Aumento de custos com tratamentos: com a resistência a antibióticos, o manejo sanitário fica mais caro e menos eficaz, elevando os custos por animal tratado.
- Prejuízos comerciais: surtos de contaminação já levaram ao recolhimento de grandes lotes de carne, como em 2019, quando mais de 15 toneladas foram retiradas do mercado nos EUA. Esse tipo de episódio gera perda de credibilidade internacional e risco de barreiras comerciais.
- Risco de restrições globais: em um cenário onde consumidores estão cada vez mais atentos à segurança alimentar, exportadores podem enfrentar barreiras sanitárias mais rígidas, exigindo maior controle e rastreabilidade da produção.
A ameaça da resistência antimicrobiana no gado nos EUA
Os pesquisadores constataram que as cepas bovinas possuem a maior prevalência de genes de resistência a antibióticos, incluindo tetraciclinas, cefalosporinas e quinolonas — algumas das principais classes de medicamentos usadas na pecuária e na saúde humana. Além disso, foram identificados plasmídeos que carregam múltiplos genes de resistência, complicando ainda mais o tratamento.
Esse quadro representa um risco sistêmico: se a bactéria continuar a evoluir em direção à resistência total, infecções em rebanhos podem se tornar intratáveis, resultando em maiores taxas de mortalidade, além de riscos jurídicos e indenizações por contaminação de alimentos.

Cabe lembrar ainda que, a pecuária dos EUA enfrenta uma grande crise histórica, com números que não eram registrados há mais de sete décadas. De acordo com o mais recente relatório “Cattle Inventory” do Departamento de Agricultura dos EUA (USDA-NASS), o rebanho total do país caiu para 86,7 milhões de cabeças em janeiro de 2025, uma queda de 1% em relação aos 87,2 milhões de cabeças do ano anterior e o menor número desde 1951.
O papel da abordagem One Health
A pesquisa reforça a necessidade de adotar a perspectiva One Health, que integra a saúde animal, humana e ambiental. Como destacou a professora Erika Ganda, líder do estudo: “A Salmonella Dublin está altamente conectada a humanos, animais e ao ambiente. Portanto, os esforços para controlá-la precisam considerar essas três dimensões”.
Para o agro, isso significa que o controle da bactéria não é apenas uma questão de manejo interno da fazenda, mas de políticas globais de biosseguridade, uso racional de antibióticos e rastreabilidade.
Perspectivas e desafios para o setor
O avanço da superbactérias e a resistência antimicrobiana é considerado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) uma das maiores ameaças globais à saúde pública. No caso da pecuária, a questão vai além da saúde animal: impacta a segurança alimentar, a competitividade internacional e a sustentabilidade econômica do setor.
Produtores podem ter de lidar, no futuro próximo, com:
- Maior fiscalização do uso de medicamentos veterinários;
- Exigência de protocolos mais rígidos de biosseguridade;
- Investimentos em tecnologias alternativas, como vacinas, probióticos e bioinsumos, para reduzir a dependência de antibióticos.
Se não houver medidas preventivas, infecções intratáveis em bovinos podem aumentar os custos de produção e reduzir margens de lucro, além de comprometer exportações em mercados exigentes como União Europeia e Ásia.
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