Surto de cólica mata cavalos em Goiânia; feno supostamente contaminado é investigado

Veterinários apontam que o capim Massai, aliado à possível presença de fungos no feno, pode ter causado empazinamento severo e desencadeado as crises e cólica mata cavalos do Instituto Equestre Camilla Costa, em Goiânia.

Nove cavalos do Instituto Equestre Camilla Costa, em Goiânia, morreram na última semana após ingerirem um rolo de feno supostamente contaminado com fungos. O caso mobilizou veterinários, professores universitários e estudantes, e levantou alertas sobre erros no manejo alimentar e os riscos específicos do capim Massai, utilizado para a alimentação do plantel.

Segundo veterinários que acompanharam os animais, a combinação entre possível contaminação fúngica e a fisiologia do capim Massai pode ter sido determinante para o agravamento dos casos de empazinamento (acúmulo de gases) e posterior cólica fatal.

O capim Massai é tenro, com muita folha e pouca fibra, característica que reduz o trânsito intestinal e favorece a fermentação, aumentando a produção de gases. Quando o volume de gás é elevado, a pressão dentro do abdômen pode comprometer os pulmões, levando à asfixia.

“A ingestão dele leva a uma paralisia dos movimentos intestinais a partir do sistema nervoso, ou seja: o animal deixa de flatular”, explicou o médico veterinário José Bráulio Florentino Júnior, do Hospital Rural Veterinário em entrevista ao Mais Goiás. Ele afirma que casos de empazinamento são comuns e que o provável fungo presente no feno pode ter agravado a evolução clínica.

A médica veterinária Suyan Brethel, professora da UniGoiás, foi uma das primeiras a identificar alteração de comportamento nos animais, cerca de 15 dias antes do agravamento. Ela relata ter detectado fungos no interior do rolo e orientado que não fosse ofertado aos cavalos.

Suyan também alertou que o Massai tem maior probabilidade de mofar no interior do rolo, dificultando a detecção visual e exigindo cuidado extremo no processo de enfardamento e armazenamento.

Além do tipo de feno, veterinários reforçam que mudanças de dieta, estresse, confinamento e manejo incorreto elevam drasticamente o risco de cólica em equinos.

Entre os fatores que agravam a produção e retenção de gases estão:

  • Mudança brusca na dieta – flora intestinal não se adapta
  • Excesso de ração concentrada (milho, trigo, farelos)
  • Pouca forragem disponível ao longo do dia
  • Armazenamento inadequado do feno (mofo interno invisível)
  • Confinamento prolongado e falta de exercício
  • Desidratação
  • Parasitas e úlceras gastrointestinais
  • Estresse ambiental e social

Como reforça a literatura veterinária, colocar ou trocar o alimento de forma gradual, manter o cavalo ativo e garantir água constante são medidas essenciais para prevenir quadros fatais.

Cavalos com cólica por gás podem apresentar:

  • Inquietação, deitar e levantar repetidamente
  • Chutes no abdômen
  • Distensão abdominal (inchaço)
  • Ausência de fezes e gases
  • Sudorese e apatia

Diante de qualquer suspeita, a intervenção precoce é decisiva. Sem manejo rápido, como mostrou o caso de Goiânia, o desfecho pode ser irreversível, e coletivo.

Suyan Brethel levará alunos da UniGoiás ao local nesta semana para discutir o caso como aula prática, analisando quadro clínico, evolução e debate sobre protocolos de tratamento.

O episódio deixou alerta para centros equestres, haras e proprietários: o controle de qualidade do feno, a checagem por fungos e a cautela com capins que fermentam rápido não são opcionais, são medidas que salvam vidas.

Quer ficar por dentro do agronegócio brasileiro e receber as principais notícias do setor em primeira mão? Para isso é só entrar em nosso grupo do WhatsApp (clique aqui) ou Telegram (clique aqui). Você também pode assinar nosso feed pelo Google Notícias.

Siga o Compre Rural no Google News e acompanhe nossos destaques.
LEIA TAMBÉM