Vírus altamente contagioso já causou ao menos 29 casos confirmados em sete estados e trata-se da mieloencefalopatia herpética equina; autoridades temem impacto semelhante ao grande surto de 2011.
Uma doença neurológica grave está se espalhando rapidamente entre cavalos nos Estados Unidos e mobilizando autoridades de saúde animal, competidores e criadores em todo o país. Trata-se da mieloencefalopatia herpética equina (EHM), forma neurológica da infecção causada pelo herpesvírus equino tipo 1 (EHV-1), um patógeno altamente contagioso e amplamente presente no rebanho equino mundial.
Segundo atualização divulgada pelo Centro de Comunicação de Doenças Equinas (EDCC), pelo menos 29 casos de EHM já foram identificados em sete estados, após um evento de rodeio e corrida realizado em Waco, no Texas, no início de novembro. O surto preocupa pela velocidade de disseminação e pelo histórico de surtos anteriores que geraram impactos profundos para competições e propriedades em vários estados.
O EDCC confirmou que o foco inicial ocorreu durante as Finais Mundiais e a Corrida de Tambores de Elite da WPRA, entre 5 e 9 de novembro, reunindo centenas de cavalos de alta performance. Dias após o evento, animais retornaram aos seus estados de origem apresentando febre, sinais respiratórios e evolução neurológica compatível com EHM.
Diante da confirmação dos primeiros casos, vários estados emitiram alertas sanitários, e a onda de infecções levou ao cancelamento do restante do Campeonato Mundial de Futurities da América (BFA), programado para ocorrer em Oklahoma. Dois cavalos provenientes do estado, que haviam competido em Waco, testaram positivo pouco antes do evento.
Para as autoridades, o cenário lembra o surto histórico de 2011, iniciado em Ogden, Utah, que expos cerca de 2.000 cavalos, causou ao menos 90 infecções confirmadas e resultou em 13 mortes.
A Comissão de Saúde Animal do Texas relatou que a manifestação atual é aguda, agressiva e de rápida progressão, com relatos preocupantes de mortes em poucos dias após o início dos sintomas.
O herpesvírus equino tipo 1 (EHV-1) é extremamente comum: a maioria dos cavalos entra em contato com o vírus até os dois anos de idade, geralmente adquirindo apenas um quadro respiratório. No entanto, o EHV-1 tem capacidade de permanecer latente no organismo, sendo reativado por estresse, viagens, competições, mudanças de manejo e esforço físico intenso.
O problema surge quando, durante a infecção ou reativação, o vírus alcança a circulação sanguínea e provoca inflamação e microcoágulos nos vasos do cérebro e da medula espinhal, desencadeando a EHM.
Apesar de existirem duas cepas identificadas, D752 (neurotrópica) e N752 (selvagem), ambas são capazes de causar doença neurológica, embora o risco seja maior com a forma neurotrópica.
A EHM costuma iniciar com febre alta, que surge entre 1 e 3 dias após a infecção. Cerca de uma semana depois, começam os sinais neurológicos, que evoluem rapidamente:
- Incoordenação e dificuldade de locomoção
- Fraqueza acentuada
- Perda de tônus da cauda
- Gotejamento de urina e incontinência
- Inclinação da cabeça
- Dificuldade para levantar ou incapacidade total de permanecer em pé
Apenas cerca de 10% dos cavalos infectados desenvolvem a forma neurológica, mas surtos como este podem provocar vários casos simultâneos, especialmente após grandes eventos.
O vírus é considerado um dos mais fáceis de disseminar no ambiente equino. A transmissão ocorre por:
- Gotículas expelidas por cavalos infectados
- Contato direto nariz a nariz
- Objetos contaminados: baldes, cabrestos, reboques, arreios
- Roupas e mãos de pessoas que manipularam animais doentes
- Fontes de água compartilhadas
No ambiente, o EHV-1 pode sobreviver até 7 dias, mas é eliminado com desinfetantes comuns.
Veterinários têm sido orientados a priorizar testes de PCR em amostras nasais e de sangue, que conseguem identificar o DNA viral com alta precisão.
Cavalos que vierem a óbito com sinais neurológicos devem passar por necropsia, medida que auxilia no mapeamento do surto e no entendimento da agressividade da cepa envolvida.
As autoridades reforçam que qualquer suspeita deve ser comunicada imediatamente ao EDCC, para que ações de contenção sejam aplicadas com rapidez.
Embora exista vacina para EHV-1, ela não impede a forma neurológica, mas ajuda a:
- Reduzir a intensidade da infecção respiratória
- Diminuir o risco de abortos em éguas prenhes
- Reduzir a carga viral e, assim, a disseminação entre cavalos em eventos ou estábulos
A recomendação básica engloba:
- Potros, animais desmamados e cavalos de performance
- Cavalos que viajam com frequência
- Éguas prenhes (com vacinas específicas contra aborto por EHV-1)
- Atualizações a cada 6 meses para cavalos de alto risco
Ainda é cedo para prever a real extensão dessa crise sanitária, mas o histórico do EHV-1 demonstra que surtos podem escalar rapidamente quando ocorrem em ambientes com grande movimentação de animais.
Autoridades continuam rastreando todos os cavalos que passaram pelo evento da WPRA em Waco, e os estados afetados estão ampliando medidas de quarentena, testagem e restrições de movimentação.
Apesar da gravidade da mieloencefalopatia herpética equina, especialistas lembram que a maioria dos casos não evolui para óbito, principalmente quando há diagnóstico precoce, isolamento imediato e tratamento de suporte adequado.
O alerta Do vírus equino, no entanto, é claro: proprietários e treinadores devem redobrar a vigilância. Febre, apatia ou qualquer mudança na coordenação motora deve ser tratada como emergência.
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