
A sustentabilidade é um fator chave para todo o agronegócio da carne bovina brasileira; setor se destaca com seu nível de compromisso com a diminuição da emissão de GEEs
Por Ana Carolina Monteiro* – Das relações entre os stakeholders dos elos da carne bovina — produtores rurais, serviços, instituições financeiras, indústrias, insumos, varejos e restaurantes e sociedade civil — surgem questões múltiplas e contraditórias que demandam diálogos e processos comunicacionais sobre aspectos de produção, comercialização e consumo, relacionados a temáticas complexas, inerentes ao setor, como as da sustentabilidade e seus pilares – social, econômico e o ambiental considerado, em particular neste artigo.
Atualmente, o Brasil emite cerca de 3% dos gases de efeito estufa (GEE) do planeta. Em 2022 foram 2,3 bilhões de toneladas brutas de GEEs, 8% a menos em relação a 2021, quando a emissão bruta foi de 2,5 bilhões de toneladas, em razão da redução nos combustíveis fósseis. É o sexto maior emissor climático do mundo. A marca de 2022 atingiu o terceiro maior patamar desde 2005, ficando abaixo apenas de 2019 e 2021, conforme o Sumário Executivo de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SEEG, 2023).
Em sua Contribuição Nacional Determinada (NDC, em inglês), o país assumiu mundialmente o compromisso de reduzir suas emissões de gases de efeito estufa (GEE) em 48% até 2025 e em 53% até 2030, metas estabelecidas em relação aos níveis de 2005, quando da formalização do Protocolo de Kioto. Além disso, o Brasil é o único país do mundo a possuir um Plano Setorial de mitigação de gases de efeito estufa: o Plano de Agricultura de Baixo Carbono — ABC+, segundo a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec, 2024).
O Plano ABC é uma política pública composta por um conjunto de ações que visa aumentar o uso de tecnologias agrícolas sustentáveis com alto potencial de mitigação de emissão de GEEs e combater o aquecimento global, segundo o Mapa (2020).
A meta brasileira se aproxima da dos Estados Unidos, que deseja reduzir suas emissões numa faixa entre 50 e 52%. Mas é maior do que a do Canadá, que assume uma redução entre 40 e 45%, Austrália, com 43% e China, ainda vista como um país com muito a contribuir, já que deseja reduzir apenas 25% das suas emissões de gases de efeito estufa até 2030, em relação a 2005 (UNFCC, 2024).
Em nosso país, o gado de corte é criado, principalmente, em um ambiente de clima tropical com ampla gama de condições de solo de diferentes biomas, em regiões da Amazônia, Caatinga, Pantanal, Mata Atlântica, Pampa e Cerrado. O ciclo de produção da pecuária bovina brasileira está cada vez mais curto em razão da otimização do uso da terra e da adoção de processos tecnológicos.
Dentre os maiores desafios para o setor está o fato de que o território brasileiro é caracterizado por diferentes perfis de sistemas de produção, tipos de climas e raças.
A produtividade está diretamente relacionada às áreas de pastagens do rebanho. De acordo com o Relatório da Abiec (2024) e com o Sumário de Dados da Mesa Brasileira da Pecuária Sustentável (MBPS, 2023), nos últimos 30 anos, houve um aumento de 172% na produtividade do setor e uma redução em 16% das áreas de pastagens, atingindo uma marca de 161 milhões de hectares, em 2023.
Na triangulação de dados entre Abiec (2024) e MapBiomas (2024), o Brasil possuía, em 2023, 65% de vegetação nativa, 19% em uso exclusivo de mata para pastagens; 8,9% para agriculturas; 2,5% em regeneração ou reflorestamento; e 4,5% para outras finalidades.
Do total de áreas desmatadas, em 2022, 90,1% estavam na Amazônia e no Cerrado, 75% eram públicas e 25% privadas. Apenas 1,1% dos desmatamentos estavam em propriedades com Cadastro Rural Ambiental (Abiec, 2024; MapBiomas, 2024).
Assume-se que a pecuária bovina se caracteriza como uma atividade emissora de gases, mas com potencial de mitigar o efeito dos GEEs, removendo-os da atmosfera ou reduzindo as emissões por meio do manejo do solo e das pastagens. Enquanto técnicas de melhoramento genético, suplemento e bem-estar dos animais e controle do padrão sanitário permitem produzir mais carne por animal (Abiec, 2024).
Nesse contexto, os Sistemas Integrados de Produção Agropecuária (SIPA), ou Integração Lavoura Pecuária (ILP), ou Integração Lavoura Pecuária Floresta (ILPF) foram considerados pela Food and Agriculture Organization of the United Nations (FAO) como modelos de produção sustentável.
Trata-se de redutores das emissões de GEEs por unidade de produto agropecuário, que aumentam os estoques de carbono no solo, a eficiência na ciclagem de nutrientes e a qualidade do solo, preservando, ainda, os recursos naturais e o meio ambiente.
Quanto à recuperação de pastagens, segundo a Abiec (2024) a meta para 2010-2020 era de 15 milhões de hectares, e foram atingidos 26,8 milhões de hectares, 178% da meta inicialmente estipulada. Para 2030, a meta é recuperar 30 milhões de hectares e mitigar 113 milhões de Mg CO2eq.
Com a mesma tecnologia de 30 anos atrás, o setor da carne bovina precisaria de 286 milhões de hectares para atingir a produção atual, com uma média de 67,7kg carcaça/hectare ano, marca que está abaixo para 76% da área total de pastagens hoje no país.
A sustentabilidade é um fator chave para todo o agronegócio da carne bovina brasileira. O setor tem condições tecnológicas para preservar a biodiversidade, sustentar seu crescimento econômico, aumentar sua produção e com isso impactar diretamente toda a sociedade de uma forma positiva.
Além disso, o Brasil possui robusto instrumental de políticas públicas, normas e leis e se mostra em preparo para atender até 21% do agronegócio da carne bovina do planeta nos próximos dez anos (Abiec, 2024). Como exemplos de normativos oficiais, podem ser citados os Planos de Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia (PPCDAM) e no Cerrado (PPCerrado), além do Código Florestal Brasileiro.
Em 18 de maio de 2023, o país foi indicado, pela primeira vez, por deliberação da Organização das Nações Unidas (ONU), para sediar, este ano, na cidade de Belém, capital do Pará, a COP–30 (Conference of the Parties), ou Conferência das Partes, órgão supremo da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (PNUD, 2023).
Espera-se que com esse perfil, o agronegócio da carne bovina brasileira se destaque com maior nível de compromisso, melhor gestão de fluxos assimétricos de informações, ao imprimir colaboração, confiança e responsabilidade em seus relacionamentos interorganizacionais, alinhando valores, diálogos e metas sustentáveis com seus stakeholders.
Bibliografia com o autora
Ana Carolina Monteiro é jornalista e Doutora em Administração. Orientada pela Dra. Denise Barros de Azevedo, Professora ESAN/UFMS
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