Tarifaço dos EUA ameaça tilápia brasileira: risco ou oportunidade para a piscicultura?

O Brasil crescia como protagonista no mercado de tilápia dos EUA. Com a tarifa de 50%, os embarques tendem a zero. Mas a crise pode abrir espaço para novos mercados e para o consumo interno

O recente “tarifaço” aplicado pelos Estados Unidos, com alíquota de 50% sobre as exportações brasileiras, caiu como uma bomba no setor do pescado. Até o 1º semestre de 2025, o Brasil vinha registrando crescimento histórico nas vendas de tilápia para o mercado norte-americano — destino de quase 95% do volume exportado. Agora, os embarques tendem a praticamente zerar no 2º semestre.
O que isso significa para os produtores, indústrias e toda a cadeia do pescado?

O choque do tarifaço

  • Nova tarifa: 50% sobre produtos brasileiros a partir de agosto de 2025.
  • Efeito direto: inviabilização da tilápia brasileira nos EUA.
  • Contexto global: ao mesmo tempo, os americanos apertam sanções contra pescado de origem russa e exigem novas regras via Marine Mammal Protection Act (MMPA), o que redesenha todo o fluxo internacional de peixe.

Box de dado:

  • 97% do tilápia exportado pelo Brasil tinha como destino os EUA.
  • Exportações de tilápia cresceram 52% no 1º semestre/25.
  • O primeiro mês pós tarifaço, já mostra o resultado de -35% de redução no volume de exportação de pescado para EUA.

Indústria e exportadores: de euforia à adaptação

As indústrias que vinham crescendo com filé fresco e congelado para os EUA enfrentam:

  • Suspensão ou redirecionamento imediato de lotes.
  • Margens comprimidas pela necessidade de vender em outros mercados com desconto.
  • Readequação do processamento: embalagens para os EUA perdem espaço, enquanto cresce a busca por cortes e formatos para o mercado interno e regional.

O impacto no campo: o produtor sente primeiro

  • Preço ao produtor: queda dos preços de venda do pescado, em regiões exportadoras, pelo excesso de oferta local, já é fato.
  • Ciclo produtivo: tendência de alongar a engorda ou ajustar densidade para cortes que giram bem no mercado interno.
  • Custo de ração: risco de carregar peixe acima do peso ótimo, aumentando gastos. Aqui, cada ponto de conversão alimentar pode salvar ou arruinar a margem.

Gráfico 1: Evolução do preço pago ao produtor antes e depois do tarifaço.

Mercado interno: ameaça ou oportunidade?

Se por um lado o preço tende a cair, por outro o consumidor brasileiro pode ser beneficiado com mais filé e peixe inteiro disponível a preços competitivos. Isso abre chance para campanhas de varejo estimulando a substituição da carne bovina pelo pescado — e pode ser um gatilho para ampliar o consumo per capita no país.

Oportunidades escondidas na crise

  1. Diversificação de mercados: Oriente Médio, África, América Latina, Europa e Austrália aparecem como destinos com potencial de absorver parte do volume.
  2. Sustentabilidade e rastreabilidade: enquanto os EUA se fecham, outros mercados exigentes já estão se abrindo para o peixe brasileiro que comprove boas práticas, como Europa e Austrália.
  3. Substituição global: com a saída da Rússia em alguns mercados e regras mais rígidas do MMPA (Lei de Proteção aos Mamíferos Marinhos dos Estados Unidos), há lacunas a serem preenchidas no fornecimento de peixes brancos e peixes de valor intermediário.

Riscos de médio e longo prazo

  • Persistência da tarifa: medidas assim podem durar anos, dependendo do cenário político.
  • Concorrência redirecionada: países que antes vendiam para os EUA podem inundar outros mercados, derrubando preços.
  • Necessidade de compliance: manter-se alinhado a exigências internacionais para não perder portas em outros destinos.

Recomendações práticas para o produtor

  1. Planejar a safra: recalcular ponto ótimo de abate, considerando cenário sem exportação para os EUA.
  2. Controlar a ração: cada quilo de ração precisa virar carne com máxima eficiência.
  3. Buscar alternativas comerciais: alinhar-se a frigoríficos e associações para acessar novos mercados.
  4. Valorizar rastreabilidade: certificado de boas práticas será diferencial competitivo.
  5. Atuar em conjunto: sindicatos e associações são chave para negociações de crédito e apoio governamental.

O tarifaço impôs um choque brusco à piscicultura de exportação, mas também pode ser um ponto de virada. Quem profissionalizar a gestão da produção, ajustar custos e se posicionar estrategicamente em novos mercados terá mais chances de atravessar a crise e sair fortalecido.

Mais do que nunca, gestão técnica e financeira é o que separa quem sobrevive de quem fica pelo caminho.

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ℹ️ Conteúdo publicado pela estagiária Ana Gusmão sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira

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