
Embora o impacto atinja diversos setores, alguns segmentos da pauta exportadora brasileira devem sentir os efeitos com mais intensidade
A partir desta quarta-feira (6), entra em vigor a nova tarifa de 50% sobre diversos produtos exportados pelo Brasil aos Estados Unidos. A medida, implementada pelo presidente Donald Trump, exclui cerca de 700 itens de uma lista de exceções. Para os demais, aplica-se um acréscimo de 40 pontos percentuais sobre a já existente taxa de 10%.
Embora o impacto atinja diversos setores, alguns segmentos da pauta exportadora brasileira devem sentir os efeitos com mais intensidade. Entre os mais vulneráveis estão o café, as carnes, frutas frescas, pescados e o mel.
Café: surpresa e expectativa de revisão
Principal fornecedor de café verde para os EUA, o Brasil responde por aproximadamente 30% das importações norte-americanas do produto. Mesmo com essa relevância, o item ficou de fora da lista de exceções, o que gerou perplexidade no setor.
Para especialistas, essa exclusão pode ser revista em breve. “É um contrassenso manter a tarifa sobre um produto com tamanha participação na cadeia de consumo americana”, afirma Gil Barabacque, da Safras & Mercado. Segundo ele, a substituição do café brasileiro por outro fornecedor seria logisticamente e economicamente inviável no curto prazo.
Carne bovina: impacto direto na rentabilidade
Os Estados Unidos são o segundo principal destino da carne bovina brasileira, absorvendo 12% das exportações do setor. Com o novo tributo, estima-se uma perda potencial de até US$ 1 bilhão.
“Na prática, uma tarifa desse porte equivale a um bloqueio comercial”, analisa Alcides Torres, diretor da Scot Consultoria. Ele observa que o impacto imediato se concentrou no mercado interno, com pressões negativas sobre os preços pagos aos pecuaristas. Ainda assim, a fatia de carne destinada aos EUA — cerca de 2% do total exportado — pode ser redirecionada com relativa facilidade para outros mercados.
Nos Estados Unidos, a medida também deve ter reflexos, já que o país enfrenta o menor número de cabeças de gado em mais de 50 anos, conforme dados do USDA. “Enquanto o Brasil conta com mais de 220 milhões de cabeças, os EUA operam hoje com cerca de 95 milhões”, aponta Giovani Ferreira, do Canal Rural Sul.
Frutas: perdas podem afetar produtores e aumentar desperdício
Manga e uva são as frutas brasileiras mais vendidas aos EUA — destino de 77 mil toneladas em um ciclo de apenas três meses, conforme a Abrafrutas. O presidente da entidade, Guilherme Coelho, destaca o risco de prejuízos se não houver negociação rápida com o governo norte-americano.
“Enviamos cerca de 12 milhões de caixas nesse período. Se não pudermos exportar, será necessário encontrar saídas internas para esse volume, como programas de merenda escolar em parceria com prefeituras”, sugere Coelho. Para ele, além da questão econômica, o desperdício de alimentos em um país que convive com a fome é inaceitável.
Tilápia e mel: setores altamente dependentes do mercado norte-americano
No caso do pescado, especialmente a tilápia, os EUA são os principais compradores da versão fresca. A China, por sua vez, lidera no fornecimento de filé congelado. Para a Associação Brasileira de Piscicultura (Peixe BR), garantir a permanência do produto brasileiro no mercado americano será vital diante da ausência de concorrentes diretos no segmento de pescado fresco.
Já o setor de mel vive um cenário ainda mais delicado. Com 85% das exportações brasileiras destinadas aos EUA, a nova tarifa pode comprometer a renda de cerca de 40 mil famílias, segundo o Grupo Somar, que reúne produtores do Nordeste.
“A sobretaxa nos tira quase completamente do mercado americano. Precisamos com urgência da execução de um plano de contingência por parte do governo federal”, alerta Samuel Araujo, CEO do Grupo Sama. Ele defende medidas como a liberação de créditos fiscais — PIS, Cofins e ICMS — para garantir liquidez a um setor já fragilizado desde a pandemia.
Escrito por Compre Rural
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ℹ️ Conteúdo publicado pela estagiária Ana Gusmão sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira
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