Taxação dos EUA agrava crise dos produtores de laranja

Exportações ameaçadas com taxação dos EUA, preços em queda e toneladas perdidas desenham crise sem precedentes no setor citrícola do Brasil; cenário leva produtores de laranja a cogitarem deixar a fruta apodrecer no pé

A crise no setor citrícola brasileiro ganhou contornos ainda mais graves com o anúncio do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de uma tarifa de 50% sobre o suco de laranja importado do Brasil. A medida, prevista para entrar em vigor em 1º de agosto, já produz efeitos devastadores no campo e agrava crise dos produtores de laranja: queda acentuada dos preços, paralisação nas fábricas e toneladas de frutas se perdendo nos pés ou apodrecendo em caminhões.

Em meio ao colapso logístico e comercial, produtores consideram não colher a fruta por falta de mercado e inviabilidade econômica. Exportações ameaçadas com taxação dos EUA, preços em queda e toneladas perdidas desenham crise sem precedentes no setor citrícola do Brasil; cenário leva produtores de laranja a cogitarem deixar a fruta apodrecer no pé.

Regiões produtoras à beira do colapso

Na região conhecida como Sealba — que abrange partes de Sergipe, Alagoas e Bahia — produtores relatam uma situação dramática. Segundo o Canal Rural Bahia, imagens mostram caminhões lotados de laranja sendo descartados em Rio Real (BA), município que lidera a produção da fruta no estado. A crise afeta também a cidade de Estância (SE), onde estão localizadas as fábricas de processamento que operam com apenas metade da capacidade, segundo a Associação de Desenvolvimento Tecnológico Citrícola do Nordeste (ADTCN).

“A laranja está apodrecendo nos caminhões e caindo no chão. Estamos sendo forçados a descartar por não ter como escoar”, relata Fernando Braz, tesoureiro da ADTCN. Segundo ele, a exigência de parâmetros elevados de Brix (teor de açúcar) e de Ratio (relação entre doçura e acidez) pelas indústrias já dificultava a moagem. Com a redução nos pedidos das fábricas após o anúncio das tarifas, a crise explodiu.

Prejuízos econômicos e abandono da colheita é cogitado por produtores de laranja

O problema não está restrito ao Nordeste. Em Formoso (MG), produtores também vivem o dilema de colher ou deixar a fruta no pé. “Não vale a pena colher sem comprador. Vamos deixar apodrecer”, disse o produtor Fabrício Vidal, em entrevista à Reuters.

Dados do Cepea/USP mostram que o preço da caixa de laranja caiu para R$ 44, quase metade do valor registrado há um ano. Em algumas regiões, os produtores já recebem apenas um terço do que ganhavam na mesma época de 2024.

O diretor da CitrusBR, Ibiapaba Netto, alerta que a ansiedade cresce a cada dia que se aproxima o início da vigência da tarifa. O impacto é sentido tanto no campo quanto nas fábricas, e deve atingir também o consumidor americano.

Impacto nos Estados Unidos e dependência do Brasil

Apesar da ofensiva protecionista, os Estados Unidos dependem fortemente do suco de laranja brasileiro. O Brasil é responsável por mais de 50% de todo o suco consumido no país, abastecendo marcas como Tropicana, Minute Maid e Simply Orange.

Segundo dados do Departamento de Agricultura dos EUA, a produção doméstica de suco caiu para o menor nível em 50 anos, com projeção de apenas 108,3 milhões de galões na safra 2024/25, o que fará com que 90% do abastecimento americano seja garantido por importações até setembro.

Diante do cenário, importadoras americanas como a Johanna Foods entraram com pedido de alívio emergencial no Tribunal de Comércio Internacional dos EUA, alegando que a tarifa causaria “danos financeiros significativos e diretos” para empresas e consumidores.

Alternativas são limitadas e o tempo joga contra

Para os exportadores, encontrar novos mercados em tempo hábil é uma missão quase impossível. O Brasil vende suco de laranja para apenas cerca de 40 países, número muito inferior ao da carne bovina, por exemplo. Barreiras tarifárias em países como Índia, Coreia do Sul e China dificultam a expansão do comércio.

A Europa já compra 52% das exportações brasileiras, o que reduz a margem de manobra para compensar a perda dos EUA. Uma das poucas alternativas discutidas é a exportação indireta via Costa Rica, o que já ocorre em parte dos embarques. No entanto, essa triangulação pode ser considerada ilegal segundo normas da OCDE, alerta a CitrusBR.

Produtores de laranja fazem pedido por apoio governamental

Diante do impasse, os produtores pedem a criação urgente de uma Câmara Setorial da Citricultura e o envolvimento dos governos estaduais da Bahia e de Sergipe. O objetivo é buscar novos mercados para o suco brasileiro e acelerar acordos comerciais, amenizando os prejuízos imediatos.

Até o momento, as secretarias estaduais não se manifestaram oficialmente sobre as reivindicações, mas o setor espera uma resposta rápida para evitar a maior crise da história da citricultura brasileira.

O que se vê é um setor inteiro à beira do colapso. A taxação americana pode representar um golpe fatal para uma cadeia que responde por bilhões em exportações e milhares de empregos no Brasil. Deixar a fruta apodrecer no pé já é uma realidade em algumas regiões, sinalizando que as decisões de política internacional têm consequências diretas e devastadoras no campo brasileiro.

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