
Estudos realizados em parceria com a Brunozzi Agropecuária demonstram que, em condições ideais, o biochar aumenta em até 39% a produção de caldo e em 15% o crescimento das plantas
A NetZero, green tech franco-brasileira cujo modelo premiado alavanca o biochar para combater as alterações climáticas e tornar a agricultura mais sustentável, o que lhe possibilitou vencer o X Prize, prêmio que tem o apoio da Musk Foundation, na categoria Carbon Removal no solo, em abril de 2025, finalizou um estudo na cultura da cana-de-açúcar. E os resultados demonstraram um incremento na produtividade que pode chegar a 30%, dependendo da técnica de aplicação e das características do solo. A NetZero participa da Megacana, evento que se realiza em Campo Florido (MG), entre os dias 06 e 07 de agosto de 2025.
Os testes foram feitos na Fazenda Gameleira, pertencente à Brunozzi Agropecuária, no Triângulo Mineiro. Se iniciaram em março de 2024, com duração de 15 meses e tiveram resultados importantes. “Do ponto de vista agronômico, os resultados finais do produto variam de acordo com as características do próprio solo, do ambiente, do clima, do macroclima e do microclima e da cultura agrícola”, explica Ricardo de Figueiredo, Diretor de Excelência Industrial e ESG da NetZero, em entrevista concedida ao Compre Rural. Ele ressalta que o incremento de produtividade, em média, pode variar de 10% a 40% em estudos globais, e que a NetZero já alcançou resultados promissores na primeira safra.
“Tivemos um aumento de 3% a 30% na produtividade da colheita, dependendo da condição de aplicação e da dose do biochar. A gente teve colmos, que é aquela estrutura da planta da cana, até 20% mais espessos. Além disso, um aumento de até 39% na produção de caldo, que é o mais importante, e plantas com um crescimento natural até 15% maior do que as plantas normais.”
Os estudos indicam que a Taxa Interna de Retorno, conhecido como TIR, ao adotar o biochar na cultura de cana-de-açúcar, deve alcançar um patamar próximo de 20%, em um período de investimentos não superior a quatro anos. Este incremento, explica Figueiredo, ocorre quando da incorporação de arado de aiveca, que nada mais é do que o processo de enterrar resíduos vegetais, adubos verdes ou fertilizantes no solo utilizando um arado de aiveca, também conhecido como arado de disco.
“Este estudo comprova que, com o uso correto do biochar, a cana pode atingir o ponto de maturação mais cedo, ampliando a janela de corte ou antecipando a colheita. Isso gera economia, aumenta a competitividade e traz impacto direto no planejamento.”, afirma o diretor. Ele ressalta, no entanto, que a maturação da cultura ainda está em fase inicial de estudos, mas a expectativa é que, com plantas mais vigorosas, seja possível testar uma mudança no ciclo em um futuro próximo.
A incorporação do biochar ao plantio de cana-de-açúcar faz sentido, uma vez que apenas a menor fração da biomassa se torna produto final. A maior parte tem como destino outras funcionalidades. Estudos demonstram que ao redor de 10% desse processo produtivo se transforma em açúcar e álcool, ao passo que 90% viram subprodutos da cadeia do plantio.
Figueiredo acredita que a utilização do biochar na indústria sucro-alcooleira valorizaria os resíduos, além de melhorar a estrutura e fertilidade do solo. Os estudos também apontam que haveria uma eficiência energética, uma vez que o processo de produção do biochar gera calor, gás e energia elétrica, que podem ser reintegrados ao processo industrial da cana. “O fato de o carbono ser fixado no solo abre também a possibilidade de se gerar os certificados de crédito de carbono, conhecidos como Créditos para Remoção de Carbono (CDRs), o que gera nova fonte de receita”, acrescenta Figueiredo.
No que diz respeito à valorização de resíduos, o impacto imediato é o fim de qualquer processo de queima, por exemplo, do bagaço da cana-de-açúcar, proporcionando um processo de maior valor agregado. Além disso, reduz custos de transporte e com materiais, viabilizando a economia circular dentro da usina.
Um destaque é utilizar a palha da cana para a produção de biochar, já que este é o resíduo com pouquíssimo valor agregado ou muitas vezes fica no campo se decompondo. Ao usar a palha da cana para produzir biochar, a usina eleva exponencialmente a sua eficiência, já que isso pode ser revertido em aumento de produtividade, energia térmica, crédito de carbono, dentre outros benefícios.
Pedro de Figueiredo, Co-fundador da NetZero e CEO no Brasil, ressalta que “a cana-de-açúcar é a cultura que mais gera resíduos no Brasil e agora comprovamos que eles podem se transformar em produtividade, valor agregado e, sobretudo, a remoção de carbono em alta escala da atmosfera. Esse é um marco que abre para a NetZero a possibilidade de dezenas de milhares de plantas, reposiciona o mercado da cana no Brasil e o país como protagonista global.” Já na produtividade, além de melhorar a aeração e porosidade do solo, reduz a acidez, equilibra o pH com seu perfil mais alcalino e retém água no solo. “O biochar aplicado nessa cultura retém até três vezes o seu peso em água, o que ajuda em períodos de estiagem”, explica o diretor da NetZero.

Na geração de energia, os efeitos do uso do biochar na cana-de-açúcar alcançam tanto as questões térmicas, quanto as químicas. O calor gerado no processo de biochar pode ser direcionado para o processo industrial da cana, ao passo que o gás de síntese e o alcatrão, uma vez refinados, podem ser usados como biocombustíveis. Ainda na questão energética, o processo produtivo do biochar ainda pode se conectar ao sistema de caldeira, o que impacta a demanda por megawatts.
A NetZero, hoje, produz biochar em Lajinha (MG) e Brejetuba (ES) a partir da casca de café. E mesmo as novas operações de Paraguaçu (MG) e São João do Manhuaçu (MG), que serão inauguradas até o fim de agosto próximo, também fabricam o biochar a partir da casca do café.
“Desde a nossa fundação, em 2021, tínhamos como objetivo diversificar a produção de biochar das mais diferentes fontes de resíduos. A chegada à cana-de-açúcar é só o primeiro passo nessa direção”, afirma Pedro de Figueiredo, CEO da NetZero no Brasil. Entre testes e uso do biochar, a NetZero está presente em nove estados brasileiros, alcançando mais de 1,5 mil produtores.
Esses registros estruturados e fundamentados contribuíram para que a NetZero vencesse o XPrize em abril de 2025. A premiação, realizada em Nova York, nos Estados Unidos, reconheceu a capacidade da empresa, em uma vez tendo recursos e fábricas em operação, retirar da atmosfera cerca de 1 megatonne (1 milhão de toneladas de CO2 removidas por ano).
Além da láurea e do reconhecimento internacional, a NetZero recebeu um prêmio de US$ 15 milhões por ficar em segundo lugar na competição no Carbon Removal, sendo o único projeto de biochar premiado.
O XPRIZE Carbon Removal foi lançado em 2021 como o maior prêmio de incentivo da história para identificar e acelerar o desenvolvimento de soluções de remoção de dióxido de carbono (CO₂) de alta qualidade, mostrando um caminho viável para a escala sustentável até a escala de gigatoneladas – um desafio industrial sem precedentes na história da humanidade. O XPRIZE Carbon Removal é financiado pela Fundação Musk e administrado pela Fundação XPRIZE.
Sobre o futuro dos projetos da NetZero, Ricardo de Figueiredo comenta: “Nós já temos hoje cerca de 10 grandes experimentos feitos com os top 10 da cana no Brasil inteiro, com grandes usinas, grandes produtores em São Paulo, em Goiás, em Minas Gerais. Todos eles vão ser colhidos agora entre 25 e 26. Estamos prontos para poder anunciar os primeiros empreendimentos de construção de usinas dedicadas para os resíduos da cana aqui no Triângulo Mineiro, para iniciar a construção ainda em 2025.”
Sobre o biochar
O biochar, um aditivo de solo feito a partir de resíduos de culturas, vem sendo estudado há mais de duas décadas por sua capacidade de remover carbono da atmosfera. O processo envolve uma combinação de natureza e tecnologia, em que o carbono é capturado pelas plantas por meio da fotossíntese, extraído e estabilizado por meio de um processo controlado de pirólise. No entanto, o biochar só começou a crescer como negócio há alguns anos, graças ao desenvolvimento do financiamento de carbono, que possibilitou sua viabilidade comercial.
“Aproveitamos duas décadas de trabalho pioneiro da minha família com biochar para desenvolver o modelo de negócios exclusivo e completo da NetZero; ver este modelo agora reconhecido como o melhor para levar o biochar em escala é uma recompensa incrível. Para acelerar nossa missão de escala, temos trabalhado em uma oferta completa e sem precedentes para empresas que desejam se beneficiar de forma rápida e fácil da remoção de carbono e dos benefícios agrícolas do biochar. Estamos lançando este ano e estamos confiantes de que este reconhecimento XPRIZE impulsionará o impacto que buscamos”, disse Olivier Reinaud, cofundador e diretor administrativo da NetZero.
A remoção de carbono é um dos desafios mais urgentes e complexos a serem enfrentados no combate às mudanças climáticas. De acordo com o IPCC, manter as temperaturas globais dentro de limites seguros exige a remoção de aproximadamente 10 bilhões de toneladas de CO2 anualmente, além de esforços sustentados para reduzir as emissões na fonte. E, embora soluções naturais como as árvores sejam muito necessárias, elas não serão suficientes, exigindo soluções tecnológicas como um componente adicional essencial.
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ℹ️ Conteúdo publicado pela estagiária Ana Gusmão sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira
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