O governo Lula conseguiu mais uma: colocou a tilápia na lista de espécies invasoras gerando caos entre os produtores de peixe em todo o país. Enquanto isso, primeiro contêiner de tilápia importada pela JBS do Vietnã foi enviado ao Brasil em 6 de novembro; produtores alertam para impacto sanitário e econômico
A piscicultura brasileira — um dos pilares da aquicultura nacional — vive dias de indignação e incerteza. O governo federal incluiu a tilápia na Lista Nacional Oficial de Espécies Exóticas Invasoras e, paralelamente, autorizou a importação do peixe vindo do Vietnã, numa decisão que acendeu o alerta entre criadores, entidades do setor e especialistas em sanidade animal. Mesmo sendo o peixe mais consumido do Brasil e gerando milhões de empregos, a tilapicultura brasileira enfrenta concorrência desleal com a entrada de 700 toneladas de peixe vietnamita trazidas pela JBS.
Apesar de o Ministério do Meio Ambiente afirmar que a classificação da tilápia como exótica invasora tem apenas caráter técnico e preventivo, o setor teme que a medida abra espaço para restrições futuras, aumento da burocracia e até interpretações equivocadas por órgãos estaduais e municipais, que poderiam travar licenciamentos e comprometer novos investimentos.
Tilápia brasileira: motor da piscicultura no Brasil
O Brasil é o quarto maior produtor mundial de tilápia, ficando atrás apenas de China, Indonésia e Egito. Com 662,2 mil toneladas produzidas em 2024 — um aumento de 14,3% em relação a 2023 —, o peixe representa 68% da produção nacional de peixes cultivados, segundo o Anuário PeixeBR 2025. Essa produção sustenta cerca de 3 milhões de empregos diretos e indiretos, abastece o mercado interno e movimenta exportações que somaram US$ 59 milhões no último ano.
Além do peso econômico, a tilápia é o peixe mais consumido no Brasil, com um crescimento médio anual de 10,3%, impulsionado por novos hábitos alimentares e pela adoção de modelos sustentáveis de produção. O peixe é fonte de proteína de alta qualidade, baixo teor de gordura e é considerado ideal para dietas equilibradas.
JBS importa tilápia do Vietnã e acirra crise no setor
A tensão no setor aumentou ainda mais com o anúncio da JBS, gigante global de proteína animal, que começou a importar tilápia processada do Vietnã. O primeiro contêiner de 24 toneladas saiu do porto de Ho Chi Minh em 6 de novembro e deve chegar ao Porto de Santos em 17 de dezembro. Esse embarque faz parte de um lote maior: 32 contêineres totalizando 700 toneladas de tilápia vietnamita que abastecerão redes varejistas, o setor HORECA e o showroom da JBS no Brasil.
Segundo o governo, a medida é resultado de um acordo bilateral firmado durante a Cúpula Ampliada do BRICS, em julho de 2025. Pelo pacto, o Brasil abriu seu mercado à tilápia, peixe-galo e peixe-basa vietnamitas, enquanto o Vietnã passou a aceitar a carne bovina brasileira.

No entanto, produtores e entidades como a PeixeBR enxergam a decisão como “imprudente”, alegando que a importação compromete a competitividade do setor nacional, agrava os desafios econômicos da cadeia produtiva e ainda coloca em risco a biossegurança dos tanques brasileiros, já que as condições de cultivo no Vietnã são diferentes e podem carregar doenças não existentes no Brasil.
Risco de colapso e dependência externa
A reação dos produtores é de profunda frustração. “Enquanto o Vietnã expande seus mercados, o Brasil parece remar contra a corrente das próprias políticas de incentivo à piscicultura”, criticou um representante da PeixeBR. A entidade também alerta que o baixo custo de produção da tilápia asiática — favorecida por subsídios e legislação ambiental mais branda — cria uma concorrência desleal com os piscicultores brasileiros, que operam sob regras rigorosas e custos mais elevados.
Além disso, há o temor de que essa abertura gere um efeito dominó, desestimulando investimentos no setor, pressionando o preço pago ao produtor nacional e promovendo a dependência externa em um segmento no qual o Brasil é protagonista mundial.
Governo tenta amenizar, mas clima é de incerteza
O Ministério da Pesca e Aquicultura declarou que acompanha os impactos da decisão, mas ressaltou que a responsabilidade pela liberação da importação cabe ao Ministério da Agricultura (Mapa). Já o Ministério do Meio Ambiente reforçou que a inclusão da tilápia como espécie exótica invasora não implica proibição do cultivo comercial, mas o setor teme interpretações restritivas que possam prejudicar ainda mais a atividade.
Parlamentares também se mobilizam. A Comissão de Agricultura da Câmara dos Deputados aprovou um convite à ministra Marina Silva para explicar a inclusão da tilápia na lista de espécies invasoras, evidenciando que o tema ganhou contornos políticos e pode impactar a agenda ambiental do governo.
Conclusão: entre o discurso sustentável e a prática econômica
O cenário expõe uma contradição estratégica: enquanto o Brasil defende a sustentabilidade e o fortalecimento da produção nacional, abre espaço para uma concorrência externa que ameaça uma cadeia consolidada e em crescimento.
O setor aquícola pede coerência e apoio. Para os piscicultores, o momento é de alerta máximo: ou o Brasil protege sua cadeia produtiva de peixes — hoje referência em sustentabilidade e qualidade — ou arrisca ver ruir um dos setores mais promissores do agronegócio nacional.
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