Torrefadores dos EUA evitam café brasileiro após tarifas de Trump

A medida de 50% sobre importações trava negociações e ameaça mercado bilionário, ou seja, torrefadores dos EUA evitam café brasileiro após tarifas de Trump

As informações foram divulgadas pela Bloomberg, que apurou que os compradores americanos de café estão evitando novos acordos com o Brasil, maior produtor de grãos do mundo, após a tarifa de 50% imposta pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, entrar em vigor neste mês. A decisão já provoca uma desaceleração nas negociações, levando empresas a buscar alternativas e gerando impacto direto no comércio internacional de café.

Segundo a reportagem, torrefadores e exportadores relatam que as negociações entre os dois países estão praticamente “totalmente paralisadas”, conforme destacou o corretor de café Thiago Cazarini. Alguns compradores dos EUA pediram prorrogação nos prazos de embarque na esperança de que as tarifas sejam revistas, segundo informações do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé). Entretanto, o clima é de cautela e incerteza, com muitos negócios sendo suspensos.

Peso do Brasil no café dos EUA

O impacto é significativo porque cerca de um terço do café não torrado consumido nos Estados Unidos vem do Brasil. O aumento das tarifas é reflexo de um conflito político e comercial, já que Trump justificou a medida em meio ao que chama de “perseguição politicamente motivada” ao ex-presidente Jair Bolsonaro, seu aliado político. A relação política entre os dois países, portanto, reforça o componente estratégico desse embate comercial.

Reação dos torrefadores dos EUA

Empresas que dependem fortemente do café brasileiro já buscam alternativas. A Zaza Coffee, da Flórida, que obtém cerca de 25% de seus grãos do Brasil, informou que, após o fim de seus estoques – previstos para durarem de 14 a 16 semanas –, pretende substituir a origem por cafés da América Central, México e Peru. “Se as tarifas se mantiverem nesses níveis, provavelmente não vamos pedir café brasileiro”, declarou JP Juarez, diretor de inovação da companhia.

Outros torrefadores demonstram preocupação em alterar suas tradicionais misturas. O Brasil é o maior exportador mundial de arábica, grão considerado mais suave e que é usado de forma exclusiva pela rede Starbucks. Alterar essa composição poderia comprometer o perfil de sabor com o qual os consumidores já estão habituados.

Novos fornecedores e mudanças na dinâmica global

Com a retração do Brasil, países como Colômbia, Vietnã, Honduras, Indonésia e Uganda podem ampliar sua participação no mercado americano. O Vietnã, por exemplo, com produção voltada ao robusta – variedade mais barata –, deve registrar importações recordes pelos EUA, já que suas tarifas estão em torno de 20%, bem abaixo das brasileiras.

Especialistas apontam que esse movimento pode redirecionar os grãos brasileiros para a Europa, onde há demanda por café rastreável em função das novas regras ambientais da União Europeia, além de atender ao mercado crescente da China.

Pressão para pequenas e médias torrefações

Empresas menores, como a Ritual Coffee Roasters, de São Francisco, afirmam que absorver tarifas tão altas é “quase impossível” sem repassar os custos ao consumidor. “Parte disso tem de ser repassada, e 50% parece algo impressionante e intransponível”, declarou Daria Whalen, diretora de café da empresa. A Gregorys Coffee, de Nova York, conseguiu receber sua última carga do Brasil antes do aumento da tarifa, mas já se prepara para pagar mais caro nos próximos lotes.

Dessa forma, diante do que foi discutido acima, a disputa comercial entre Estados Unidos e Brasil ameaça desestruturar uma das cadeias mais tradicionais do agronegócio mundial. Enquanto torrefadores buscam alternativas para manter suas misturas e preços competitivos, produtores brasileiros enfrentam o risco de perder espaço em um dos mercados mais importantes para o café. O cenário reforça a incerteza global e aponta para uma reconfiguração das rotas comerciais do grão, com impactos diretos tanto para exportadores quanto para consumidores finais.

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