Tragédia no Pará: Raio mata metade de rebanho e expõe riscos para a pecuária

Tragédia ond raio atinge fazenda e mata metade do rebanho em Trairão (PA), expõe vulnerabilidade das propriedades rurais a tempestades severas e reforça a necessidade de medidas de prevenção e manejo de risco

Um episódio extremamente violento de eletricidade atmosférica provocou uma perda devastadora para uma fazenda no distrito de Caracol, em Trairão, sudoeste do Pará. Durante a madrugada da última quinta-feira (20/11), um raio atingiu um poste de energia próximo à propriedade, desencadeando uma sequência de descargas que se espalhou pelo solo e alcançou os animais que estavam no pasto. Metade do rebanho morreu instantaneamente, segundo informações divulgadas pelo portal A Voz do Xingu .

O impacto do episódio, além de chocar pela dimensão do prejuízo, reacende o debate sobre o risco de acidentes elétricos em sistemas produtivos e a importância de estratégias de prevenção — especialmente em regiões onde tempestades são frequentes, como o norte do país.

O que se sabe sobre o acidente

De acordo com o material publicado, a descarga elétrica ocorreu no início da madrugada. O caseiro da fazenda encontrou a cena horas depois, ao chegar para iniciar as atividades do dia. Diversos animais estavam mortos, espalhados pelo pasto, indicando que a corrente elétrica se propagou rapidamente pelo solo, fenômeno comum em casos de raios que atingem superfícies amplas e úmidas.

Especialistas explicam que, quando isso ocorre, o “gradiente de potencial” — diferença de energia entre dois pontos do chão — é o que mata o animal. Bovinos têm grande área de contato com o solo e membros afastados, fazendo com que a eletricidade entre por um dos membros e saia por outro, percorrendo o corpo com enorme intensidade.

O prejuízo financeiro para os proprietários é considerado expressivo: em um único evento climático, metade do rebanho foi perdida. O caso ainda será analisado com mais profundidade, mas já se sabe que o raio atingiu um ponto estrutural — o poste — que funcionou como condutor para a propagação da descarga.

Por que o rebanho é tão vulnerável a raios?

A mortalidade de bovinos por descargas elétricas não é rara no Brasil. As regiões Norte e Centro-Oeste concentram altos índices de incidência de raios, especialmente durante a estação chuvosa. Alguns fatores aumentam o risco:

• Permanência dos animais em áreas abertas durante tempestades
O pasto expõe o gado ao solo úmido, facilitando a condução de eletricidade.

• Proximidade de cercas metálicas, postes e árvores isoladas
Esses elementos se tornam pontos preferenciais de descarga.

• Tamanho e anatomia dos bovinos
Com membros longos e afastados, eles sofrem com a passagem da corrente elétrica de forma mais intensa que humanos ou animais menores.

Como evitar tragédias como essa: orientações técnicas para pecuaristas

Embora seja impossível impedir que raios ocorram, é possível minimizar riscos e proteger o rebanho por meio de práticas recomendadas por eletricistas rurais, engenheiros agrônomos e especialistas em manejo preventivo.

1. Instalação de para-raios rurais e sistemas de aterramento

Fazendas devem instalar sistemas adequados de proteção atmosférica, incluindo:

  • para-raios em estruturas principais,
  • hastes de aterramento distribuídas,
  • inspeção regular dos sistemas elétricos.

Evite improvisos ou instalações antigas e mal aterradas, que aumentam o risco de acidentes semelhantes.

2. Afastamento do rebanho de pontos de risco durante tempestades

Locais como:

  • postes,
  • árvores isoladas,
  • caixas d’água metálicas,
  • cercas eletrificadas ou de arame liso,
    deveriam ser evitados. Se possível, o manejo pode incluir recolhimento parcial dos animais para piquetes próximos a estruturas protegidas.

3. Abrigos coletivos ou áreas de segurança

Algumas propriedades constroem galpões abertos com estrutura protegida contra descargas, permitindo que o gado tenha uma alternativa segura nos períodos de chuva forte.

4. Monitoramento meteorológico

Hoje, aplicativos e ferramentas gratuitas permitem previsão em tempo real:

  • alertas de tempestade,
  • detecção de descargas elétricas,
  • avisos de risco severo.

Fazendas que dependem fortemente de grandes áreas abertas podem ajustar o manejo conforme esses alertas.

5. Manutenção contínua das redes internas de energia

Fios expostos, transformadores antigos e postes deteriorados funcionam como imãs para descargas e ampliam a propagação da corrente pelo solo.

O impacto econômico e emocional

Perder metade do rebanho de forma súbita não é apenas um prejuízo financeiro — é também um impacto psicológico para toda a equipe da fazenda. Em propriedades familiares ou de médio porte, a tragédia compromete:

  • o fluxo de caixa,
  • o planejamento de venda,
  • a reposição de animais,
  • o cronograma de engorda e reprodução.

Além disso, acidentes assim reforçam a urgência de se discutir políticas públicas de incentivo à proteção contra fenômenos naturais, especialmente nas áreas de alta incidência de raios.

O caso registrado em Trairão é um lembrete duro da força da natureza e de como o agronegócio brasileiro ainda enfrenta desafios ligados a eventos climáticos extremos. Embora inevitável, o fenômeno poderia ter seus impactos reduzidos com medidas adequadas de proteção e manejo. Investir em segurança elétrica não é gasto, mas proteção do patrimônio, da produtividade e da vida dos animais.

Se o pecuarista se prepara, planeja e instala as estruturas certas, dramas como o ocorrido no Pará podem ser raros — e não devastadores.

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