Eventos solares recentes – tempestades solares – causaram falhas em sinais de GPS, afetando tratores e drones no campo; especialistas alertam para o risco de prejuízos em operações de alta precisão; agricultores ficaram assustados com tratores “possuídos”
Durante os últimos eventos solares, agricultores norte-americanos viveram uma situação incomum e preocupante: tratores começaram a se mover sozinhos, desviando de suas rotas e exigindo intervenção manual. O motivo? A maior tempestade solar das últimas décadas atingiu a Terra com força suficiente para interferir nos sistemas de GPS utilizados em maquinários agrícolas. Em um setor cada vez mais dependente de tecnologia e automação, o fenômeno acendeu um alerta global — inclusive no Brasil.
O que são as tempestades solares e como afetam o campo
As tempestades geomagnéticas ocorrem quando partículas carregadas vindas do Sol atingem o campo magnético da Terra. Quando essas partículas colidem com a ionosfera — camada eletricamente carregada da atmosfera — causam turbulência e distorções nos sinais de rádio e navegação por satélite.
Em casos mais intensos, como o registrado em maio e outubro de 2024, os sinais do sistema GNSS (Global Navigation Satellite System) se tornam instáveis, fazendo com que equipamentos que dependem de correção centimétrica — como tratores autônomos e drones — percam a precisão ou saiam completamente de operação.
“Era como se estivessem possuídos”: relatos do campo
Agricultores do Meio-Oeste dos Estados Unidos descreveram o comportamento dos tratores durante a tempestade de 10 de maio como “possuídos”, em referência ao movimento errático das máquinas. “Todos os meus primos me ligaram dizendo que as auroras estavam enlouquecendo os tratores enquanto tentavam plantar”, relatou Elaine Ramstad, agricultora em Minnesota.
“Todos os meus primos me ligaram dizendo que as auroras estavam enlouquecendo os tratores enquanto tentavam plantar”, relatou Elaine Ramstad, agricultora em Minnesota.
Na época, o céu iluminado por auroras boreais se tornou um espetáculo visual, mas o solo, onde estavam as máquinas, virou palco de caos operacional. Em Indiana, o agricultor Michael Spencer contou que precisou reiniciar seu trator manualmente após ele começar a fazer movimentos bruscos para os lados, com perda de cerca de 30 cm de precisão no GPS.
Efeitos no Brasil: ainda pequenos, mas reais
Embora o território brasileiro esteja localizado em latitudes menos afetadas pelas tempestades solares, o alerta emitido pelo Centro de Previsão do Clima Espacial da NOAA (SWPC) para outubro de 2025 mostra que a ameaça é real. Com picos do índice Kp entre 5 e 6 — equivalente a tempestades geomagnéticas fracas a moderadas —, especialistas recomendam que operações de alta precisão, como semeadura, adubação localizada e pulverização em taxa variável, sejam reprogramadas quando possível.
Erros de posicionamento podem provocar sobreposição de faixas, desperdício de insumos, prejuízo à produtividade e contaminação de mapas de aplicação. “Em semanas com atividade moderada, a diferença entre um dia ruim e um dia normal está em planejar com o boletim certo na mão”, alerta o guia operacional preparado pela equipe do portal Tempo.com.
Guia rápido para produtores: como se proteger das tempestades solares
O avanço da agricultura digital exige respostas rápidas e protocolos claros diante de eventos de “tempo espacial”. Veja as principais orientações para produtores:
- Adie tarefas críticas durante previsões de Kp elevado (acima de 5), especialmente semeadura e pulverização de precisão;
- Monitore o índice Kp e a escala G (de G1 a G5) diariamente, utilizando ferramentas como o “3-Day Forecast” do SWPC;
- Verifique se o receptor está em modo RTK. Caso haja queda para modo convencional, interrompa a operação e registre os desvios;
- Use sistemas de correção redundantes, como NTRIP, multiconstelação (GPS, GLONASS, Galileo) ou bases locais;
- Em drones, prefira missões curtas e sob alcance visual;
- Documente as perdas de sinal, anotando hora e duração, para cruzar com mapas e evitar erros de diagnóstico posterior.
A importância de se antecipar ao ciclo solar e evitar os tratores “possuídos”
O ciclo solar atual, que dura cerca de 11 anos, encontra-se em sua fase mais ativa. Com isso, aumentam as chances de novas tempestades geomagnéticas ao longo de 2025 e 2026. Especialistas reforçam que a agricultura moderna precisa incorporar o tempo espacial à rotina operacional. Da mesma forma que se observa a previsão de chuva antes de ir ao campo, será necessário olhar para o Sol.
A agricultura de precisão representa um salto de eficiência e sustentabilidade, mas também exige resiliência diante das vulnerabilidades digitais. E como mostram os episódios recentes, o Sol ainda é — literalmente — um ator poderoso no dia a dia do produtor.
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