Trump pressiona, mas arroba do boi-China ainda vale R$ 300; veja onde o mercado resiste

Mesmo com a tarifa de 50% imposta pelos EUA, algumas regiões ainda seguram os preços do boi gordo. Frigoríficos recuam, mas a arroba resiste — por quanto tempo?

O mercado do boi gordo está sendo testado por fatores internacionais, especialmente pelas recentes medidas tarifárias impostas pelos Estados Unidos à carne bovina brasileira. Mesmo assim, em plena entressafra e diante de uma oferta elevada de animais confinados, o preço da arroba ainda resiste em algumas regiões e tenta sustentar o simbólico patamar de R$ 300/@ para o boi China.

A semana começou com forte instabilidade no setor pecuário, reflexo direto da tarifa de 50% anunciada pelos EUA sobre as importações brasileiras de carne. A medida, amplamente repercutida no setor, impactou o comportamento das indústrias e alterou o ambiente de negócios no Brasil, afetando especialmente os frigoríficos com foco em exportação.

Mesmo com a imposição de novas tarifas por parte dos Estados Unidos, que têm provocado retração nas compras e pressão nas cotações, a arroba do boi China ainda sustenta o patamar. Especialistas alertam para cenário de volatilidade e incertezas nos próximos dias.

Volatilidade e retração nas compras de boi-China

De acordo com a consultoria Agrifatto, a ameaça da nova tarifa afetou significativamente o mercado interno, aumentando a volatilidade e comprometendo a previsibilidade das negociações. Os frigoríficos, diante do novo cenário, reduziram parcial ou totalmente as compras de animais dentro do padrão de exportação exigido pelos EUA, o que provocou uma queda na demanda e pressão baixista nos preços do boi gordo.

Ainda assim, segundo levantamento da própria Agrifatto, o boi-China paulista fechou o dia 22/07 valendo R$ 300/@, enquanto o boi comum caiu para R$ 290/@. A Scot Consultoria confirmou valores semelhantes, indicando R$ 297/@ para o boi comum e R$ 300/@ para o animal exportação no Estado de São Paulo.

Oferta elevada de animais confinados e consumo interno lento

Um dos fatores que impedem uma reação mais forte dos preços é o avanço da oferta. Animais terminados em confinamento, somados a parcerias comerciais, têm garantido escalas de abate estendidas, com média de 9 a 10 dias úteis nas principais plantas frigoríficas. Esse quadro limita a capacidade de retenção dos pecuaristas e reforça o poder de barganha das indústrias.

Ao mesmo tempo, o consumo interno segue oscilante, com escoamento fraco da carne no varejo durante a segunda quinzena de julho. A consultoria Safras & Mercado aponta ainda que a carne de frango continua sendo a opção mais competitiva no atacado, agravando o desafio para a carne bovina.

Cotações regionais: São Paulo abaixo de R$ 300 em alguns casos

Segundo dados de mercado da Safras & Mercado, as médias registradas no dia 22/07 foram:

  • São Paulo: R$ 294,37/@
  • Mato Grosso do Sul: R$ 295,80/@
  • Mato Grosso: R$ 294,04/@
  • Minas Gerais: R$ 281,76/@
  • Goiás: R$ 276,21/@

Em pelo menos 7 das 17 praças monitoradas, houve recuo nos preços — o que reforça o impacto do cenário externo, mesmo que as exportações continuem fortes. Na terceira semana de julho, o Brasil embarcou 68 mil toneladas de carne bovina, segundo dados das consultorias.

Mercado futuro do boi gordo: clima de pessimismo na B3

Na Bolsa de Valores (B3), os contratos futuros de boi gordo também refletiram a tensão do mercado. O vencimento para agosto/25 encerrou o pregão cotado a R$ 299,30/@, com queda de 1,56% em relação ao fechamento anterior. O cenário é de cautela, com investidores e pecuaristas acompanhando de perto os desdobramentos diplomáticos e comerciais com os EUA.

Câmbio e perspectivas

O dólar comercial encerrou o dia cotado a R$ 5,5669, após oscilar entre R$ 5,55 e R$ 5,59. A taxa de câmbio segue como fator relevante para a competitividade da carne bovina brasileira no exterior.

Especialistas ressaltam que mesmo com os obstáculos criados pela política protecionista norte-americana, o Brasil tem potencial para bater recordes de exportação de carne bovina neste ano, inclusive com o fortalecimento de parcerias com outros mercados, como China e países do Oriente Médio.


Embora a arroba do boi gordo ainda se mantenha em patamares historicamente elevados em algumas regiões, o mercado vive sob ameaça real de retração e instabilidade. A guerra comercial iniciada pelos EUA pode redesenhar os fluxos de exportação e desafiar a margem dos produtores brasileiros. No curto prazo, a manutenção da arroba em R$ 300 dependerá do comportamento das indústrias, da oferta de animais e, principalmente, do desempenho da demanda global.

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