UFC firma contrato com empresa para produzir curativo biológico a partir da pele de tilápia

Tecnologia inédita avança rumo ao mercado com uso inovador da pele de tilápia no tratamento de queimaduras em humanos e animais

O uso da pele de tilápia como matéria-prima para curativos biológicos, até então restrito aos laboratórios e centros de pesquisa, está mais próximo de se transformar em uma solução acessível para o sistema de saúde e medicina veterinária. A Universidade Federal do Ceará (UFC) oficializou, nesta semana, um contrato com o consórcio Biotec’s – formado pelas empresas Biotec Solução Ambiental Indústria e Comércio Ltda. e Biotec Controle Ambiental Ltda. – para licenciar a tecnologia desenvolvida ao longo da última década.

Licenciamento exclusivo e contrato milionário

O acordo firmado garante ao consórcio o direito exclusivo de uso, desenvolvimento, produção, comercialização e prestação de serviços relacionados à tecnologia de obtenção da pele de tilápia liofilizada, com foco na criação de kits de curativos biológicos.

Pelo contrato, o consórcio deverá desembolsar um valor inicial de R$ 850 mil para acessar a tecnologia. Além disso, está previsto o pagamento de royalties de 3,7% sobre a receita líquida obtida com a comercialização do produto, que serão repartidos entre os licenciantes – a UFC e os médicos Edmar Maciel Lima Júnior (coordenador da pesquisa) e Marcelo José Borges de Miranda (idealizador da tecnologia).

De projeto acadêmico a produto de saúde pública

A pesquisa teve início em 2015, no Núcleo de Pesquisa e Desenvolvimento de Medicamentos (NPDM) da UFC, e se destacou no cenário nacional e internacional pela proposta inovadora: usar a pele da tilápia, rica em colágeno tipo 1 e com alta resistência, como curativo temporário e oclusivo em feridas e queimaduras, com aplicação tanto em humanos quanto em animais.

Agora, caberá ao consórcio Biotec’s realizar todas as etapas do desenvolvimento do produto final, incluindo estudos clínicos de eficácia, testes de alergenicidade e sensibilidade, além da obtenção das autorizações regulatórias junto à Anvisa e aos órgãos competentes para uso veterinário.

O contrato prevê que o produto voltado ao uso em animais esteja disponível no mercado em até três anos, enquanto o destinado a humanos tem prazo máximo de cinco anos para início da comercialização. A vigência total do acordo é de 14 anos.

Entre as cláusulas, constam obrigações relativas à quantidade mínima de produção, possibilidade de terceirização de atividades, normas para procedimentos administrativos ou judiciais e penalidades em caso de descumprimento de prazos, pagamentos ou outras obrigações contratuais.

Infraestrutura e continuidade da pesquisa com pele de tilápia

Mesmo com o licenciamento, a UFC e os pesquisadores manterão o direito de continuar suas investigações científicas sobre a pele de tilápia. Prova disso é a inauguração, em 31 de outubro, do Laboratório de Pesquisa da Pele de Tilápia, também no NPDM. O novo espaço, com 225m² de área física, visa ampliar os estudos e inovações relacionadas ao uso da tilápia na medicina regenerativa.

O contrato também define como serão tratados os novos ativos intelectuais que eventualmente surgirem: se forem considerados uma extensão da tecnologia atual, os direitos permanecem com a UFC e os pesquisadores; caso representem inovação distinta, todos poderão figurar como cotitulares.

Com o avanço dessa parceria entre universidade pública e iniciativa privada, a pele da tilápia, muitas vezes descartada como resíduo da aquicultura, ganha status de solução de alto valor agregado, abrindo caminho para uma revolução nos tratamentos médicos e reforçando o papel da ciência brasileira na inovação em saúde.

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