Um dos maiores grupos do agro ganha “fiador” após anunciar “calote” de US$ 220 milhões

Afundada em dívidas de mais de US$ 300 milhões, a agropecuária Los Grobo aposta em parceria de US$ 150 milhões com a gigante brasileira Amaggi para retomar credibilidade no mercado e viabilizar operações com girassol, soja e milho

A Los Grobo Agropecuaria, tradicional grupo agrícola argentino que já figurou entre os maiores produtores de grãos da América do Sul, atravessa uma das maiores crises de sua história. Em fevereiro de 2024, a empresa entrou com pedido de recuperação judicial na Argentina, alegando dificuldades para cumprir com dívidas que somavam, à época, US$ 320 milhões (cerca de R$ 1,8 bilhão). As informações são do jornal argentino “La Nacion”, que teve acesso aos documentos do acordo.

A gravidade da situação ficou evidente quando o grupo anunciou calote de US$ 10 milhões, incluindo uma nota promissória vencida de apenas US$ 100 mil. A inadimplência repercutiu negativamente no mercado, elevando o temor de um efeito dominó no setor agrícola argentino, já fragilizado por duas safras frustradas, inflação descontrolada e custos dolarizados.

Amaggi assume protagonismo como credora e parceira estratégica

Diante do colapso iminente, um movimento surpreendente ganhou forma. A Amaggi, maior grupo agrícola brasileiro com sede no Mato Grosso, decidiu transformar sua posição de credora – com US$ 5,4 milhões a receber – em parceira estratégica da Los Grobo.

A relação começou com um projeto piloto de comercialização de girassol, no qual a Amaggi ofereceu garantia de pagamento aos produtores que negociassem com a Los Grobo. A operação gerou US$ 25 milhões em receita e reativou 16 plantas industriais da empresa argentina.

A partir do sucesso inicial, o acordo foi ampliado para incluir soja e milho, com estimativa de transações entre 500 mil e 700 mil toneladas, movimentando até US$ 150 milhões.

Modelo inovador de parceria e divisão de lucros

No novo contrato operacional-comercial, a Amaggi passou a analisar cada contrato de compra enviado pela Los Grobo e decidir “caso a caso” se garante ou não a operação. Em troca da garantia, a empresa brasileira receberá 50% dos lucros das operações, além da taxa de serviço e o repasse de impostos como o IVA.

Segundo fontes ligadas à negociação, “algumas transações são pagas pela Los Grobo, outras pela Amaggi – o que representa um sinal de apoio e confiança no mercado”.

Reestruturação profunda e foco em credibilidade

Além do acordo com a Amaggi, a Los Grobo vem passando por uma reestruturação drástica: reduziu de 700 para 400 funcionários, encerrou 10 das 36 filiais, suspendeu operações em 100 mil hectares e arrendou parte de sua estrutura industrial. Também reativou sua fábrica de defensivos da subsidiária Agrofina, projetando faturamento entre US$ 50 milhões e US$ 70 milhões em 2025, frente aos US$ 140 milhões do ano anterior.

Para analistas, recuperar a credibilidade é hoje mais importante que o volume de produção. A presença da Amaggi como garantidora de negócios é vista como essencial para restabelecer a confiança de produtores e exportadores, e pode representar um marco na tentativa de salvar a Los Grobo do colapso definitivo.

A aliança entre Los Grobo e Amaggi é mais do que um socorro financeiro: é uma tentativa ousada de reestruturar um ícone do agro sul-americano, numa fase em que o setor enfrenta desafios sistêmicos. Se bem-sucedida, a parceria pode não só manter de pé uma das maiores tradings argentinas, mas também consolidar a Amaggi como player global com influência crescente na América Latina.

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