Uma triste despedida na pecuária brasileira

“Para os que não se movimentaram quando a situação favorecia, chegou a hora de pensar na despedida. Quanto mais cedo analisar e decidir, mais recursos serão preservados. É o processo de concentração do mercado na prática. Triste, mas inexorável“, afirmou Maurício Palma Nogueira

No encerramento de 2023, o setor de pecuária de corte no Brasil enfrentou períodos desafiadores, conforme destacado pela Athenagro em uma análise dirigida aos seus clientes. Este período foi marcado por uma conjuntura complexa que afetou diretamente os produtores e o mercado como um todo. A análise abordou os impactos econômicos, ambientais e sociais enfrentados pelo setor, refletindo sobre as adversidades e apontando para possíveis caminhos a serem seguidos para superar os desafios. De forma resumida, o artigo de Maurício Palma Nogueira*, que é engenheiro agrônomo, diretor da Athenagro e coordenador do Rally da Pecuária, trouxe o título: “Uma triste despedida na pecuária brasileira”. Vamos entender melhor sobre a abordagem do analista.

Recentemente, a pecuária de corte enfrentou uma situação desafiadora que resultou em uma elevação histórica dos preços médios anuais, ajustados pelo índice IGP-DI. Este evento marca um momento significativo para o setor, refletindo tanto as dificuldades quanto as dinâmicas de mercado que impactam a pecuária no Brasil.

O artigo em questão, publicado na AGFeed, pelo grande nome da pecuária brasileira na atualidade, Maurício Nogueira traz uma análise completa sobre o cenário do setor no país. Segundo ele, sair do tradicional e entrar no perfil mais competitivo está cada vez mais difícil, restando para os pecuaristas de baixa produtividade uma difícil decisão pela frente, lembrando que não é a primeira abordagem do analista quanto ao olhar atento a produtividade das propriedades brasileiras.

Como supracitado, no término do ano de 2023 um estudo realizado pela Athenagro voltado a seus clientes expôs as perspectivas de início de 2024 para fazendas com distintos patamares de tecnologia, sob a ótica do saldo financeiro acumulado.

Analisando-se o ciclo produtivo integral, fazendas com elevada eficiência produtiva por hectare previam iniciar o novo ano com uma reserva financeira variando entre R$750,00 e R$1.200,00. Por outro lado, aquelas com emprego de tecnologia limitada projetavam um início de ano com recursos na faixa de R$300 a R$400 por hectare produtivo, afirmou Nogueira em seu conteúdo.

Ele ainda pontua a preocupação com propriedades caracterizadas por uma produtividade baixa, operando em um modelo quase de extrativismo, essas enfrentariam o início de 2024 com déficit financeiro, necessitando de ajustes no patrimônio ou na redução de rebanho para equacionar débitos.

Analise de longo prazo, por Maurício Nogueira

A análise de longo prazo mostrou que, após 25 anos, fazendas com alto investimento em tecnologia acumulariam lucros de R$25 mil a R$40 mil por hectare, enquanto as de baixa tecnologia registrariam ganhos entre R$5 mil a R$10 mil por hectare. Esses resultados foram ajustados pela inflação via IGP-DI.

A diferenciação nos lucros sublinha a importância da tecnologia para o sucesso e sustentabilidade das fazendas diante de desafios futuros. A Athenagro, assim como sua predecessora, a Bigma Consultoria, tem enfatizado essa necessidade por quase duas décadas, destacando-a desde a segunda edição do Rally da Pecuária em 2011.

Estudos sobre a pecuária e o mercado indicam que, na produtividade média atual, uma propriedade produtiva completa lucraria cerca de R$250,00 por hectare nos últimos cinco anos, contrastando com os lucros significativamente maiores das décadas de 1970 e 1980. Esse declínio é mitigado apenas pela reestruturação do rebanho que aumentou os preços históricos da carne nos últimos 30 anos.

A redução de estoques excedentes de animais mais velhos a partir de 2015 levou a uma dependência dos preços sobre a capacidade produtiva, beneficiando fazendas tecnificadas. A demanda do mercado chinês e as alterações de consumo devido à pandemia impulsionaram os preços ao maior patamar anual em 30 anos em 2021.

Apesar da elevação dos preços ser positiva, ela revela uma realidade de mercado onde a baixa oferta impulsiona os preços, desafiando especialmente as propriedades de menor tecnologia.

Resta a pergunta. Quem foi capaz de entregar produtos durante o período de preços mais elevados no mercado?

Se há pouca oferta é porque há poucos produtores vendendo ou então muitos vendendo quantidades menores… Quem foi capaz de entregar produtos durante a fase de preços mais elevados no mercado?

Se adaptar ou deixar o setor?

Desde 2015, o Rally da Pecuária revelou que uma minoria de produtores altamente produtivos, representando 20% do total, concentra entre 50% e 60% das vendas, apesar de ocuparem apenas cerca de 10% da área pesquisada. Esses produtores adaptaram-se rapidamente às demandas do mercado, especialmente ao atender às especificações exigidas pelo mercado chinês, aproveitando os períodos de alta para maximizar seus ganhos.

Contudo, os altos preços do boi gordo se tornam irrelevantes para aqueles sem produção para vender, destacando uma ironia do mercado: produtores menos produtivos buscaram se adaptar durante um período de preços elevados, o que resultou em investimentos no auge do mercado. Infelizmente, esses investimentos se traduziram em vendas durante um mercado em baixa, evidenciando a rápida queda de cerca de 21% nos preços pecuários em 2023 em comparação a 2021.

Diferenças nas análises de resultados pecuários surgem pelo enfoque dado, seja em indicadores ou em estudos de caso, levando a distintas interpretações sobre o mesmo período. A necessidade de avanço tecnológico na pecuária é clara, mas desde 2019, a barreira para aumentar a produtividade tornou-se mais alta, dependendo de capital próprio ou crédito financeiro, ambos com riscos associados.

Para alcançar um aumento significativo na produtividade, os investimentos necessários variam entre R$800,00 a R$1.200,00 por arroba adicional desejada por hectare, o que representa um desafio significativo para muitos produtores. A situação atual sugere que apenas produtores com acesso a recursos substanciais ou dispostos a assumir riscos elevados poderão competir no mercado futuro.

Este cenário implica uma difícil decisão para os pecuaristas menos produtivos: investir e se adaptar às exigências de um mercado cada vez mais competitivo ou enfrentar a inevitabilidade de sair do mercado. A realidade da concentração do mercado se torna uma consequência dura, mas incontornável para aqueles que não conseguem se adaptar.

*Maurício Palma Nogueira é engenheiro agrônomo, diretor da Athenagro e coordenador do Rally da Pecuária.

Resumo do artigo publicado pelo autor em sua coluna no AGFeed. O conteúdo completo você confere aqui.

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