“Vacas zebra”: técnica japonesa surpreende ao afastar moscas

As vacas pintadas com listras brancas confundem os insetos e melhora o bem-estar dos animais, oferecendo alternativa ecológica aos repelentes.

Uma ideia inusitada, mas cientificamente comprovada, está chamando atenção no Japão e despertando interesse de produtores rurais em todo o mundo. Trata-se das chamadas “vacas zebra” — bovinos pretos pintados com listras brancas, que simulam o padrão de uma zebra. Essa técnica, longe de ser apenas estética, foi criada com um propósito: reduzir as picadas de moscas e mutucas, que causam desconforto, estresse e até prejuízos à saúde e produtividade do gado.

As moscas são uma das principais pragas que afetam o bem-estar animal nas fazendas. Elas picam incessantemente o gado para sugar sangue, o que provoca irritação, estresse, perda de peso e, em casos extremos, transmissão de doenças. Segundo dados da Purina Mills, uma vaca pode sofrer até 120 mil picadas por dia de moscas-dos-chifres, que se alimentam das secreções corporais, como leite, lágrimas e urina, e usam o esterco como criadouro.

Na prefeitura de Yamagata, no Japão, produtores enfrentavam uma verdadeira infestação, a ponto de temerem soltar o rebanho no pasto. Foi nesse cenário que cientistas japoneses testaram uma alternativa inovadora, publicada em 2019 no periódico científico PLOS ONE.

Os pesquisadores recrutaram seis vacas e as dividiram em grupos: umas foram pintadas com listras brancas e pretas, outras apenas com listras pretas, e um grupo de controle sem pintura. Em apenas 30 minutos de observação, os resultados foram claros:

  • Vacas sem pintura ou com listras pretas sofreram cerca de 110 picadas;
  • Vacas pintadas como zebras receberam menos de 60 picadas, uma redução de quase 50%.

O motivo está na física da luz. As moscas se orientam por luz polarizada para pousar nos hospedeiros. As listras alternadas de preto e branco confundem essa percepção, tornando difícil para o inseto desacelerar e pousar com precisão. Assim, a vaca parece menos “visível” para as moscas.

Além da diminuição das picadas, o estudo observou menos comportamentos defensivos, como bater a cauda, sacudir a cabeça ou mover as orelhas — sinais de estresse. Com menos incômodos, os animais descansam melhor, se alimentam mais tranquilamente e apresentam melhor desempenho produtivo.

Os pesquisadores destacaram que, embora o método não substitua completamente os repelentes químicos, ele é uma alternativa sustentável e de baixo custo, que dispensa pesticidas e não gera resistência em insetos.

A técnica das “vacas zebra” está sendo aplicada principalmente no Japão, mas desperta curiosidade em outros países com clima quente e úmido, onde as infestações são mais intensas. Os agricultores utilizam tinta spray atóxica ou alvejante suave para criar as listras, reaplicando-as conforme necessário.

Além dos benefícios diretos aos animais, a prática reduz o uso de produtos químicos, preserva o meio ambiente e diminui custos com controle de pragas, reforçando a tendência de adoção de práticas agropecuárias mais sustentáveis.

Pesquisas continuam para aperfeiçoar o padrão das listras, avaliar a durabilidade da pintura e testar o método em diferentes raças e regiões climáticas. Especialistas acreditam que a inovação pode ser incorporada como parte de estratégias integradas de manejo, combinando ciência e tradição em prol do bem-estar animal.

“Descobrimos que pintar listras semelhantes às de zebra em vacas domesticadas pode reduzir em 50% a incidência de moscas picadoras pousando sobre os animais”, concluíram os pesquisadores do estudo japonês.

Com resultados tão expressivos, as “vacas zebra” provam que a simplicidade aliada à ciência pode oferecer soluções criativas para desafios antigos no campo.

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