“Vai ter que escolher se compra alimento para a família ou ração para as vacas”, afirma produtor de leite

Crise do leite se agrava no Paraná, importação de leite em pó e baixa rentabilidade levam produtores ao limite; Assembleia Legislativa propõe leis para salvar a cadeia leiteira

A cadeia produtiva do leite no Paraná vive um de seus momentos mais críticos. Produtores rurais relatam prejuízos, endividamento e desespero diante da queda no preço pago pelo litro do leite, enquanto os custos de produção continuam subindo. A importação de leite em pó, especialmente de países do Mercosul, é apontada como a principal causa da crise — afetando diretamente a renda das famílias que vivem da atividade.

Durante uma reunião realizada na Assembleia Legislativa do Paraná (Alep), o produtor Meysson Vettorello, de Santa Tereza do Oeste, fez um desabafo que simboliza a angústia do setor: “O produtor de leite hoje está sangrando. Vai chegar no dia em que ele vai ter que escolher se compra alimento para a família ou ração para as vacas. Está insustentável essa questão”.

A declaração comoveu os parlamentares e reforçou a urgência de medidas efetivas para conter o colapso do setor.

Reunião na Assembleia Legislativa: busca por soluções urgentes

O encontro, proposto pelo deputado Luis Corti (PSB), reuniu prefeitos, vereadores, empresários, produtores e parlamentares para discutir os desafios da cadeia leiteira. Segundo Corti, o Paraná, um dos maiores produtores de leite do Brasil, não pode permitir que milhares de famílias sejam penalizadas por uma “importação desleal e, em alguns casos, até clandestina”.

O deputado afirmou que o objetivo é proteger o produtor e dar previsibilidade à atividade, com novas leis e incentivos estaduais:

“Precisamos aumentar o consumo interno, coibir a importação do leite em pó e olhar com mais atenção para o produtor. Com os projetos que já tramitam na Assembleia, a situação vai mudar. Vamos proteger a cadeia leiteira e impulsionar a economia do Paraná.”

Projetos de lei em tramitação para tentar salvar a pecuária leiteira da crise

Entre as propostas apresentadas, estão:

  • Projeto de Lei 888/2023: proíbe a reidratação de leite em pó importado no Paraná, impedindo que o produto seja transformado novamente em leite fluido e comercializado como se fosse nacional;
  • Projeto de Lei 417/2025: obriga as indústrias de laticínios a informar previamente o preço pago pelo litro do leite antes da coleta, garantindo transparência e previsibilidade aos produtores.

Ambas as medidas visam dar mais segurança econômica ao pequeno e médio produtor, que hoje sofre com oscilações bruscas de preços e falta de clareza nas negociações com as indústrias.

Impactos econômicos e sociais

De acordo com os participantes da reunião, a crise ameaça diretamente a permanência de milhares de famílias no campo. Muitos produtores relatam que o custo de produção supera o preço de venda, tornando a atividade inviável.
O cenário é agravado pela entrada de leite em pó importado, mais barato, que reduz a demanda pelo leite nacional e derruba o preço pago ao produtor local.

Além da competição injusta com produtos estrangeiros, o aumento dos custos de insumos, como ração, energia elétrica e combustíveis, compromete ainda mais a rentabilidade da pecuária leiteira.

Governo e Assembleia unem forças

O deputado Luis Corti também se reuniu com o secretário estadual da Fazenda, Norberto Ortigara, para discutir alterações tributárias que possam reduzir os impactos da importação sobre o mercado interno.
Segundo Corti, o momento exige “responsabilidade e firmeza”:

“O Paraná é um dos maiores produtores de leite do Brasil e não podemos permitir que milhares de famílias sejam penalizadas por políticas comerciais injustas.”

Como encaminhamento, foi definida a realização de uma audiência pública no dia 21 de outubro, na Alep, com a participação de representantes do governo, lideranças e produtores, para aprofundar o debate e construir soluções concretas para o setor.

Um futuro incerto, mas com esperança para o produtor de leite

A crise atual escancara a falta de competitividade da produção nacional frente às importações, mas também reforça a necessidade de políticas públicas que valorizem o trabalho dos produtores e garantam o abastecimento interno com qualidade.

Para os pecuaristas, a sobrevivência da atividade depende de ações rápidas e eficazes. Caso contrário, o leite brasileiro pode perder espaço no próprio mercado nacional — e o campo, mais uma vez, pagará a conta.

“O produtor de leite é um dos pilares da agricultura familiar. Se ele desistir, quem garante o alimento na mesa do brasileiro?”, questiona um dos participantes do encontro.

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